Entre os dias 21 de abril e, se preciso for, 4 de maio, os oito primeiros colocados da temporada regular se enfrentarão em séries melhor de cinco jogos, para definir os quatro times que avançarão para o Final Four. No texto de hoje, falaremos sobre o confronto da quarta-de-final D, entre o CSKA Moscou (RUS), segundo colocado na temporada regular, e o Fenerbahçe (TUR), o sétimo.
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Um dos grandes confrontos dessas séries de playoffs, envolvendo duas equipes que têm feito grandes campanhas nos últimos anos. Tanto a equipe russa quanto a equipe turca estiveram presentes nos últimos cinco Final Four, com o Fenerbahçe vencendo seu único título em 2016-17. Já a potência de Moscou, além de ser a atual campeã (2018-19), também venceu a edição de 2015-16, justamente em cima dos turcos. Ou seja, além da rivalidade recente, as equipes querem manter a sequência de aparições entre os quatro melhores clubes da Europa, com elencos que, apesar dos desfalques, são muito equilibrados. Além disso, cada equipe conquistou uma vitória sobre a outra na fase regular, com os visitantes se saindo melhor. Certeza de muita rivalidade e basquete de alto nível nessa grande série!
Como foi a temporada do CSKA: A temporada da equipe russa foi melhor dentro da quadra do que fora. Apesar do início devagar da equipe, vencendo apenas dois jogos em cinco disputados, depois conseguiu engatar uma sequência de 12 vitórias seguidas, a maior da Euroliga 2020-21, assumindo a liderança da competição na rodada 15. Porém, diversos problemas extra-quadra acabaram atrapalhando a equipe, que ainda conseguiu terminar na segunda colocação.
Com um elenco montado para conquistar mais um título, as lesões foram um dos problemas que o técnico Dimitrios Itoudis teve que administrar ao longo da competição. Primeiro, as baixas de Will Clyburn, fora por oito rodadas, e Daniel Hackett, ausente um total de nove jogos. Depois, a grande perda do pivô Nikola Milutinov, contratado junto ao Olympiacos, e grande reboteiro da competição, com média de 8,6 por jogo, lesionado no ombro na rodada 23 e afastado do restante da competição. Neste momento, o CSKA passava por um momento conturbado, vencendo apenas dois jogos em sete disputados. Junto com as lesões, um problema disciplinar com o cestinha da equipe (e da competição), Mike James, fez a diretoria do time russo suspender o jogador por dois jogos. O jogador teria sido impedido de viajar aos Estados Unidos para o velório de um parente, causando um atrito com o técnico Itoudis.
Aparentemente a equipe não sentiu tanto as polêmicas com James, conseguindo reencontrar as vitórias. Além da contratação do nigeriano Micheal Eric para repor a ausência de Milutinov, a equipe também contratou o ótimo dinamarquês Gabriel Lundberg em fevereiro, fortalecendo mais o elenco. Porém, as polêmicas com James não cessaram, e uma discussão entre ele e o técnico Itoudis, numa partida da Liga VTB no final de março, colocaram fim na relação do jogador com o clube. Desde a primeira suspensão, o armador vinha oscilando bastante em quadra, mas ainda era o cestinha da equipe e um sério candidato a MVP da Euroliga. Mesmo com todas essas turbulências, o CSKA terminou em segundo lugar na classificação geral, com 24 vitórias e dez derrotas, mesma campanha do Barcelona, ficando atrás pelos critérios de desempate.
Como o time está em sua liga doméstica: A equipe faz uma boa campanha na Liga VTB, mas não é dominante como se esperaria. Atualmente na quarta colocação e já classificada aos playoffs, a equipe perdeu os dois confrontos para o Zenit São Petersburgo, líder do campeonato e também classificado aos playoffs da Euroliga. O time do CSKA já foi derrotado sete vezes, incluindo um confronto em casa para o modesto Kalev, que obteve sua primeira vitória contra o poderoso de Moscou na história da Liga. Apesar de ter vencido dez das 11 edições da Liga VTB, dessa vez a equipe terá mais dificuldades, apesar de ser a favorita ao título.
Destaque(s) do time: Will Clyburn (com a bola na foto acima). Obviamente, para quem tem acompanhado a Euroliga, o destaque do CSKA e da competição foi Mike James. O jogador, que foi o cestinha da última edição (2018-19) jogando pela Olimpia Milão, continuou incendiário pelo time russo. Em 27 jogos, o estadunidense teve médias de 19,3 pontos por jogo, 5,7 assistências e 3,1 rebotes, com um PIR (Performance Index Rating) de 19,7, o maior da equipe. Mas, conforme mencionado acima, ele não faz mais parte da equipe, devendo assinar com uma equipe da NBA a qualquer momento. Assim, o protagonismo do time russo deve ficar com Will Clyburn, ala de 30 anos e o MVP do Final Four da última edição. Em 26 jogos, o jogador teve médias de 13,3 pontos, 3,6 rebotes e 1,6 assistências, com aproveitamento de 48% dos dois pontos e 38% do perímetro. Além dele, o georgiano Tornike Shengelia, contratado esta temporada junto ao Baskonia, também tem papel destacado, contribuindo com 11,4 pontos, 4,8 rebotes, 2,2 assistências e 1,2 roubos de bola, sendo uma peça importante no garrafão russo.
Fator de desequilíbrio: A saída do cestinha da equipe, Mike James, certamente terá um peso importante para o melhor ataque da competição. Mas talvez isso possa unir mais a equipe, considerando que o clima entre o jogador e o técnico era péssimo, provavelmente afetando também os outros jogadores. Outro ponto importante é o fato de a equipe jogar em Moscou com a presença de torcida, o que certamente dará uma motivação adicional. Lembrando que o CSKA esteve no Final Four em 15 das últimas 16 edições, sendo campeão em quatro delas. Ou seja, apesar das turbulências e lesões, o clube sempre é um candidato fortíssimo, com o “peso” da camisa sendo um fator importante a ser considerado.
Ponto forte e ponto fraco da equipe: Com certeza, o ataque é o grande forte da equipe russa. Com média de 84,3 pontos por jogo, o time terminou em primeiro entre as 18 equipes da competição, com grande impacto de Mike James, obviamente. Apesar da saída do cestinha, a expectativa é que o time continue forte ofensivamente, com Clyburn, Lundberg e Shengelia como as principais armas, além do alemão Johannes Voigtmann, que cresceu muito nos últimos jogos e tem aproveitamento de 46% do perímetro. Outro ponto forte da equipe são os rebotes, liderando a competição com 36 por partida, sendo quase 13 ofensivos (também líder da competição). Porém, muito disso se deve a Milutinov, líder da competição nesses quesitos, e que está lesionado. O time precisará muito de seus outros jogadores para continuar forte, especialmente na tábua ofensiva.
O ponto fraco da equipe é a movimentação de bola, com a equipe normalmente buscando as jogadas individuais no ataque. A presença de Mike James e seu estilo de jogo contribuíam muito para isso, com o jogador construindo as próprias jogadas, apesar de ser um bom assistente para os companheiros. A equipe terminou como a penúltima em número de assistências, com 15,8 por jogo, refletindo bem o estilo de jogo da equipe. Outro ponto de atenção do time é o aproveitamento da linha do lance livre, com apenas 76,1%, e a penúltima colocação entre todas as equipes. Considerando que a equipe é a que mais sofre faltas na competição, com 21,85 por jogo, isso pode ser um problema sério em uma série tão equilibrada.
Como foi a temporada do Fenerbahçe: A equipe turca começou a competição oscilando bastante, tentando ajustar o novo elenco. Muitos jogadores chegaram e muitos jogadores saíram, mas uma grande mudança foi a saída do técnico Željko Obradović, super campeão por onde passou, incluindo o Fenerbahçe, e a chegada de outro sérvio, Igor Kokoškov, de longa carreira no basquete da NBA. Nas primeiras 15 partidas foram apenas cinco vitórias, colocando a equipe nas últimas posições e muitas dúvidas na cabeça do torcedor.
A equipe tinha na dupla Nando de Colo e Jan Veselý a grande expectativa, com o tcheco sendo o MVP da última edição da Euroliga. Mas a equipe não conseguia deslanchar e encontrar uma série de vitórias consistentes. Até que na rodada 16, um outro jogador faz sua estreia na equipe, retornando ao Fenerbahçe após uma breve passagem pela NBA. Era o sérvio Marko Gudurić, que assinou um contrato em dezembro de 2020 até o final da temporada 2022-23. Claro que nem tudo se deve a essa chegada, mas a equipe engatou uma sequência de dez vitórias seguidas, entrando na zona de classificação para não sair mais. Uma dessas vitórias, na rodada 21, aconteceu em Moscou contra o CSKA, com partida sensacional de De Colo e Veselý.
O time turco oscilou um pouco na reta final, mas garantiu a classificação no sétimo lugar, com 20 vitórias e 14 derrotas, mesmo número de Real Madrid e Zenit. O ponto negativo nessa reta final, foi a lesão de Veselý na derrota para o Barcelona no início de abril, colocando em dúvida a participação do craque nos playoffs. Além disso, uma série de casos de Covid-19 nos jogadores e Comissão Técnica deixa um grande ponto de interrogação sobre qual equipe irá enfrentar o CSKA.
Como o time está em sua liga doméstica: O Fenerbahçe tem feito uma campanha muito boa na Liga Turca (Basketbol Süper Ligi), já classificado aos playoffs e posicionado na segunda colocação, com 21 vitórias e sete derrotas. O líder da competição é o grande rival, Anadolu Efes, que perdeu apenas uma partida e é o grande favorito. Aliás, o Efes venceu em casa o Fenerbahçe no 1º turno (85 a 72) e as equipes se enfrentariam no jogo da volta no final de semana, mas a partida foi remarcada, em função dos casos de Covid-19.
Destaque(s) do time: Nando de Colo (com a bola na foto acima). O francês é a grande arma do time turco, tendo feito uma competição digna de MVP. O jogador lidera a sua equipe em pontos por jogo (15,5), assistências (4,1), roubos de bola (1,4) e PIR (19), com partidas memoráveis ao longo da temporada. Uma delas foi contra sua ex-equipe e adversária nos playoffs, o CSKA. Jogando em Moscou, de Colo anotou 22 pontos (6 de 6 dos dois pontos, 2 de 3 do perímetro e 4 de 4 do lance livre), dois rebotes, nove assistências, quatro roubos de bola e PIR de 38! O francês é o quarto em Index Rating na competição, com média de 19,03 por partida, além de oitavo em pontos por jogo e quinto em roubos de bola (1,45), além de ser o líder no aproveitamento de lances livres (94,9%) e líder em faltas recebidas (5,3). Resta saber se ele terá ou não a seu lado, o outro destaque da equipe, o tcheco Jan Veselý, que está lesionado e talvez não consiga voltar a tempo. O jogador terminou a temporada como sexto melhor em PIR (18,4), décimo em rebotes defensivos (3,8), sétimo em aproveitamento de arremessos de quadra (66,4%) e quarto em True Shooting (67,3%), e com médias de 13,3 pontos por jogo.
Fator de desequilíbrio: A presença de Veselý pode desequilibrar a série a favor do Fenerbahçe, assim como sua ausência deve ser muito favorável ao CSKA. Além disso, outros jogadores podem ficar de fora em função dos protocolos sanitários, o que pode complicar bastante para o time turco. De qualquer forma, uma peça importante que pode “desafogar” o volume de jogo do francês de Colo é Marko Gudurić, titular da equipe desde seu retorno. Em 18 jogos disputados, o sérvio anotou médias de 11,6 pontos, 2,8 rebotes, 2,5 assistências e quase um roubo de bola por partida, trazendo uma dinâmica diferente para a equipe.
Ponto forte e ponto fraco da equipe: O grande mérito da equipe é a movimentação de bola e passe extra, sempre buscando um companheiro melhor posicionado. A equipe terminou na quinta posição com mais assistências na competição (18,65 por jogo), o que também ajuda a explicar o alto aproveitamento dos arremessos de quadra, sendo 57,3% nos dois pontos (terceira colocada geral), e 39,7% do perímetro (quarto lugar geral). Além disso, a equipe liderou o ranking de True Shooting % dentre os 18 times, com 52,23%.
O ponto fraco da equipe podemos dizer que é a defesa, mesmo não sendo absolutamente comprometedora. O time acabou em último em rebotes totais por partida (30,2), sendo o maior impacto vindo dos rebotes ofensivos, onde a equipe conseguiu apenas 7,65 por partida (também última colocação no ranking). Se Veselý não jogar, isto pode ser decisivo contra a equipe. A contratação de Kyle O’Quinn ajudou a amenizar um pouco essa deficiência, porém a equipe ainda carece de mais energia na briga pelos rebotes. O Fenerbahçe também aparece nas últimas posições em tocos por jogo (2,0) e é a equipe que mais cede rebotes ofensivos, com 10,85 por partida. Outro ponto de atenção é o número de turnovers, com 14,09 por partida, e a quinta pior equipe nesse quesito. Cuidar bem da bola e lutar por cada rebote será primordial para o sucesso na série.
Palpites da nossa equipe
Rafael Bittelbrunn: A participação de Veselý será decisiva para qualquer prognóstico. Assim, se ele participar pelo menos a partir do jogo três, colocaria Fenerbahçe 3 a 2. Caso contrário, acho que será CSKA 3 a 2.
Vinícius Matosinhos: Meu palpite vai em 3 a 1 para o CSKA. O final da temporada regular foi muito difícil para o Fenerbahçe sem o pivô Jan Veselý. Caso ele volte apenas no jogo três, acredito que o Fener não conseguirá reagir a tempo. Por outro lado, apesar do CSKA ter perdido Mike James, algumas peças no banco podem suprir a falta que o armador fará nessa fase decisiva.
Artur José Freitas: CSKA 3 a 2. O CSKA decidiu continuar sem a sua estrela Mike James, mas isso não me obstem de achar que passarão à próxima fase da Euroliga, pois a equipa turca tem também a estrela Jan Veselý questionável quanto à participação nos jogos. Para além disso, mesmo que jogue, Veselý, não estará na melhor forma física. Quem também não estará na melhor forma física são alguns jogadores do Fenerbahçe, que foram infetados pela COVID-19 na semana passada.
José Andrade: Será incluído em breve.
Thiéres Rabelo: Outra série com final difícil de se definir. Sem Mike James, o CSKA perde muito, porém, eu ainda penso que o time é superior à maioria dos clubes da Euroliga. Se Veselý estiver saudável, o Fenerbahçe tem, sim, grandes chances de surpreender o atual campeão. Mas eu ainda acredito que o CSKA passe vencendo a série por 3 a 1.