Nesta sexta-feira (30), aconteceu o segundo jogo entre Monaco (FRA) e UNICS Kazan (RUS), válido pela final da EuroCup, segunda competição de clubes mais importante do basquete europeu. E o Monaco, jogando fora de casa, conseguiu a vitória e o título inédito para uma equipe francesa. Em um jogo novamente muito disputado e bem jogado, digno de uma final de competição europeia, os detalhes foram decisivos para a definição do vencedor, que teve Rob Gray, eleito o MVP das Finais, como grande destaque. As duas equipes, garantidas na próxima temporada da Euroliga, encerram com chave de ouro uma grande temporada de uma das melhores competições do basquete mundial.

FINAIS – UNICS KAZAN (RUS) x MONACO (FRA)

Jogo 2: UNICS Kazan 83 x 86 Monaco

Em outro jogo muito emocionante e decidido apenas no final, o Monaco venceu o UNICS Kazan, fora de casa, por 83 a 86, levando o primeiro título de EuroCup de uma equipe francesa. Assim como no primeiro jogo, o equilíbrio entre as equipes era grande, e as defesas tinham papel fundamental. Com o apoio da torcida (cerca de 5.200 presentes), o time da casa começou melhor, com Artem Klimenko novamente tendo boa participação dentro do garrafão. O técnico grego Dimitris Priftis tentava alternativas para surpreender a equipe francesa, dessa vez trazendo Pavel Antipov na equipe titular, no lugar de Okaro White. A equipe abre 7 a 2, mas logo o Monaco recupera e vira para 8 a 7, com Dee Bost muito bem nos arremessos de quadra. O jogo segue equilibrado, mesmo com o baixo aproveitamento do perímetro da equipe russa, porém o Monaco não vai tão bem nas bolas de dois pontos. Os visitantes conseguem abrir quatro pontos, graças a Jaleel O’Brien e Rob Gray, vindos do banco, mas John Brown também entra bem no jogo, mantendo os russos colados. Interessante observar que, assim como no primeiro jogo, o MVP da competição, Jamar Smith, logo comete duas faltas, ficando menos de cinco minutos em quadra, sem nenhum ponto anotado. O primeiro quarto termina com pequena vantagem do time da casa (26 a 24) e uma partida muito bem jogada.

O segundo quarto começa com o UNICS cometendo mais faltas e Gray pegando fogo! A equipe da casa estoura o limite de faltas antes de quatro minutos jogados, colocando mais o Monaco na linha do lance livre. Além de Gray e O’Brien, também Marcos Knight começa a aparecer bem, especialmente na defesa e nos rebotes. Os ataques têm muitas dificuldades frente as fortes defesas, com nenhuma das equipes conseguindo abrir vantagem no placar. A defesa do Monaco está melhor na partida e vai mais para o lance livre, porém não consegue aproveitar, acertando apenas 5 arremessos de 12 tentativas. Com Rob Gray acertando 3 de 4 do perímetro e chegando aos 17 pontos na partida, a equipe francesa consegue abrir seis de vantagem, maior diferença em todo o jogo. Mas John Brown e Jordan Theodore colocam novamente os russos colados no placar, com a primeira etapa fechando em 48 a 47 para os visitantes. Além de Gray com 17 pontos, também Bost, com 12 pontos, e Knight, com cinco pontos, sete rebotes e quatro assistências, vão carregando a equipe francesa na primeira etapa, enquanto Brown, com dez pontos e sete rebotes é o destaque da casa. O equilíbrio no primeiro tempo foi inclusive no número de arremessos de cada equipe, com cada uma tentando 18 bolas de dois pontos e 14 do perímetro. A diferença foi que o UNICS teve melhor aproveitamento na curta e média distância (61% versus 33%), enquanto o Monaco foi melhor da longa distância (57% versus 36%). O lance livre poderia ter feito uma diferença maior, mas os visitantes acertaram apenas 12 de 20 tentativas (60%), enquanto os russos mataram 10 de 12 arremessos (83%).

Na volta do intervalo, o UNICS melhora sua defesa, ponto bastante comentado pelos jogadores e treinador nas entrevistas do final da etapa. Jamar Smith volta para a partida, mas não consegue ter espaço para jogar, muito bem marcado. A partida é disputada ponto a ponto, mas com o Monaco parecendo ter mais o controle do jogo. A equipe da casa, apesar de se manter próxima no placar, tem muitas dificuldades em fluir o seu jogo no ataque, com apenas Brown sendo eficiente. Além de Smith não contribuir novamente (apenas dois pontos no período), também Isaiah Canaan deixa a desejar, com um aproveitamento muito fraco do perímetro. A batalha pelos rebotes é muito acirrada, especialmente os ofensivos, especialidade das duas equipes, com Brown e Knight dominando essa estatística por suas equipes. Mesmo com Gray anotando outros seis pontos no quarto, a equipe francesa vê o UNICS passar na frente nos segundos finais, levando a vantagem de um ponto para o quarto decisivo, que poderia ser o do título.

No último período, o UNICS começa mais desligado, cometendo alguns turnovers, enquanto a defesa do Monaco volta com mais energia. As equipes ficam quase dois minutos sem pontuar, até que Gray converte dois pontos (seus únicos no último período), colocando três de vantagem para os visitantes. O jogo segue muito equilibrado, com Theodore puxando a equipe da casa, enquanto Knight é o motor da equipe francesa, mesmo com o jogador cometendo sua quarta falta na metade do quarto. Os franceses conseguem abrir novamente seis pontos, maior diferença na partida, mas novamente o time da casa diminui para dois pontos, com a defesa voltando a funcionar. Mas quando Mathias Lessort (discreto na partida) e Knight colocaram mais uma vez a vantagem de seis pontos para o Monaco, entrou em ação o grande pontuador Jamar Smith, conectando seis pontos em sequência e empatando a partida, com pouco mais de um minuto por jogar. Nos ataques seguintes, O’Brien, de um lado, e Theodore, de outro, mantêm a igualdade no placar. Com cerca de 50 segundos no cronômetro, o Monaco tenta a cesta, mas erra com Gray e O’Brien, e rebote com Smith que, com 15 segundos para o final, mata uma bola de dois pontos e dá a vantagem para o time da casa. Parecia que seria a redenção na partida do MVP da competição. Mas o jogo ainda não havia terminado. Em jogada muito bem executada, JJ O’Brien consegue a cesta e ainda sofre a falta de Brown, acertando o lance livre de bonificação e dando a vantagem de um ponto ao time francês. Na jogada do UNICS, pouca criatividade faltando ainda dez segundos: bola na mão de Smith, que preferiu arremessar de três pontos. A bola deu aro e o “gigante” Marcos Knight ficou com o rebote, sofrendo a falta na sequência. Dois lances livres convertidos, três pontos de vantagem, tentativa desesperada de Smith, mas não tinha mais jeito. Vitória e título inédito da equipe francesa!

Assim como no primeiro jogo, as estatísticas também mostraram um grande equilíbrio entre as equipes. Na batalha dos rebotes, força dos dois times, igualdade de 37 rebotes para cada lado, sendo 13 ofensivos para cada equipe. O número de turnovers também foi muito baixo, com dez do UNICS e apenas oito do Monaco, o que se traduziu em um grande espetáculo de basquete. O destaque individual vai para Rob Gray, eleito o MVP das Finais, com 25 pontos, um rebote, uma assistência e um roubo de bola, além da partida monstruosa de Marcos Knight, com 14 pontos, 12 rebotes, quatro assistências, um roubo de bola e um toco, e do decisivo Jaleel O’Brien, com 16 pontos e quatro rebotes. Pelo time perdedor, destaque novamente para John Brown, com 16 pontos, dez rebotes, uma assistência, um roubo, um toco e PIR (Performance Index Rating) de 25, o mais alto da partida. O MVP da competição, Jamar Smith, terminou com dez pontos, cinco rebotes, uma assistência e dois tocos, bem abaixo do que apresentou durante a temporada.

Este foi o primeiro título europeu da história do Monaco e, possivelmente, o maior título da história do clube. Curiosamente, o time do Principado ainda não tem para mostrar um título de campeão francês, tendo chegado, no máximo, ao vice-campeonato nacional, em três oportunidades (1950, 2018 e 2019). Esta também é a nona conquista de expressão de um clube francês no cenário europeu, apenas a segunda nos últimos 19 anos e apenas a terceira neste século:

A redenção de Zvezdan Mitrović

Uma das grandes histórias desta conquista é a do treinador do Monaco, o montenegrino Zvezdan Mitrović. Foi no próprio Monaco, em 2014, que ele alavancou sua carreira, após passar mais de uma década treinando pequenos clubes do basquete ucraniano, alguns como assistente. Ele assumiu o cargo de treinador principal do clube francês na temporada 2014-15, quando o mesmo havia acabado de subir da terceira para a segunda divisão do país. Com Mitrović, o Monaco foi campeão da segunda divisão francesa daquela temporada e pôde, finalmente, retornar à elite da liga pela primeira vez desde o início da década de 1990.

Mitrović comandaria o Monaco por quatro temporadas na primeira divisão francesa (2015-16 até 2018-19) e ainda ergueria o clube à condição de um dos melhores da liga. Logo no primeiro ano, o “Roca Team“, como é apelidado, teve a melhor campanha da temporada regular do francês (27 vitórias e sete derrotas) e alcançou a semifinal, tendo sido eliminado pelo ASVEL e terminando a temporada no terceiro lugar. Nas duas temporadas seguintes, o time terminou de novo com a melhor campanha da primeira fase e com a segunda melhor na temporada 2018-19. Nas duas últimas dessa primeira passagem de Mitrović, o Monaco chegou à grande final, mas acabou derrotado em ambas as decisões, contra Le Mans e ASVEL, respectivamente. Ainda no contexto das competições domésticas, o treinador ainda levou a equipe ao tricampeonato da Copa dos Líderes da LNB (2016 a 2018), uma das duas copas nacionais disputadas no basquete francês, que reúne apenas os oito primeiros colocados do campeonato francês, ao fim do primeiro turno.

Mas o sucesso daquele Monaco de Mitrović não ficou só nas competições domésticas. Na temporada inaugural da Basketball Champions League da FIBA, em 2016-17, o clube alcançou o Final Four do torneio, sendo eliminado na semifinal, mas terminando com o terceiro lugar. No ano seguinte, a equipe repetiu a dose, chegando novamente ao Final Four, mas indo além. O time eliminou o Ludwigsburg (ALE) com um atropelo na semifinal, mas ficou no quase na final, onde foi derrotado pelo A.E.K. Atenas (GRE). Foi aí que o bom trabalho de Mitrović foi reconhecido e, em junho de 2019, ele fechou um contrato de três temporadas com o ASVEL, começando a partir da temporada 2019-20.

Porém, a passagem do montenegrino por Lyon pode ter sido uma das piores experiências de sua carreira. Não necessariamente pelo que aconteceu dentro de quadra. O time teve, sim, uma campanha bem ruim na Euroliga, antes da mesma ser cancelada. Nos 28 jogos disputados, o ASVEL venceu apenas dez e ocupava o 15º lugar quando a competição foi suspensa. Porém, dentro de casa, ele levou o clube para a final da Copa de Líderes, a qual perdeu para o Dijon, e vinha mantendo uma ótima campanha no campeonato francês, de 20 vitórias e quatro derrotas, no momento da suspensão da liga. Mas, antes mesmo de completar um ano à frente da equipe, Mitrović foi demitido, em maio do ano passado.

O motivo de sua demissão, apesar de não ter sido oficial, parece ter sido por causa de “nepotismo”. Dono do ASVEL, o grande Tony Parker parece ter tirado Mitrović para que seu irmão, T.J. Parker, assumisse o cargo. Parker assumiu o comando técnico do clube menos de um mês depois. O caso causou tanta confusão, que o técnico até mesmo processou o ASVEL, por ter achado sua demissão injusta.

Mas não demorou muito e o Monaco tratou de trazer logo Mitrović de volta para o principado e o técnico assinou um contrato com o clube em julho do ano passado. Nesta temporada de retorno, além do título europeu, o Monaco também ostenta a liderança do campeonato francês neste momento, com uma campanha de 16 vitórias e somente duas derrotas.

By Tabela de Ferro

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