A Euroliga, competição organizada pela empresa privada Euroleague Basketball (a qual chamaremos de ECA daqui para frente), vem passando por grande transformações. O chefe executivo da ECA, Jordi Bertomeu (foto abaixo), deu uma entrevista na semana passada, na Itália, na qual afirmou que seu principal objetivo é que, até 2024, a liga tenha entre 16 e 18 clubes licenciados, que serão os donos da liga, assim como os atuais 11 clubes acionistas (Olimpia Milão, Panathinaikos, Olympiacos, Maccabi Tel Aviv, Žalgiris Kaunas, CSKA Moscou, Fenerbahçe, Anadolu Efes, Baskonia, Real Madrid e Barcelona). Assim, esse processo de mudança já irá começar a partir da próxima temporada.

Como noticiamos no último mês de novembro, a Euroliga decidiu dar ao Bayern de Munique (ALE) e ao ASVEL (FRA) licenças de longo prazo, que, em tese, são por tempo indeterminado, assim como a dos 11 acionistas. A liga também ofereceu um convite de dois anos ao ALBA Berlim (ALE), tendo assim 13 clubes “fixos” até, pelo menos, 2023.

Duas outras vagas anuais passam a ser destinadas a clubes vindos da EuroCup. Caso um dos clubes que se classificarem para a Euroliga através da EuroCup conseguir ir para os playoffs da Euroliga, este time renovará automaticamente a sua licença por mais um ano na liga. Caso ambos estes times forem para os playoffs, somente o melhor colocado entre eles renovará sua licença e o outro, não. E se ambos ficarem de fora dos playoffs, os dois times não terão suas licenças renovadas e darão lugar aos dois finalistas da EuroCup da temporada em questão.

A temporada 2019-20 teria sido a primeira em que esse sitema da EuroCup seria aplicado, mas o cancelamento da temporada adiou isso para este ano. Até então, a EuroCup classificava apenas um clube, o seu campeão, para a Euroliga. Para a temporada 2019-20, este clube foi o Valencia. Se o time espanhol tivesse se classificado para os playoffs desta temporada da Euroliga, eles teriam renovado sua licença por mais ano e jogariam também a próxima temporada, fazendo com que somente o campeão da atual EuroCup ganhasse uma licença para a próxima Euroliga. Mas, como eles foram eliminados na última segunda-feira, isso garantiu que os dois times que alcançassem a final da EuroCup ganhassem essa licença. O Monaco (FRA) confirmou sua classificação para a final da EuroCup na semana passada, eliminando o Gran Canaria (ESP) na semifinal, e o UNICS Kazan (RUS) confirmou a sua nesta quarta-feira, ao eliminar a Virtus Bolonha (ITA) fora de casa, em um jogo espetacular.

Dois clubes serão convidados

Até aqui, temos 16 clubes confirmados para a temporada 2021-22 da Euroliga. Naquela mesma entrevista da semana passada, Bertomeu afirmou também que, para completar as 18 vagas, a liga ofereceria dois convites (“wildcards”) avulsos, válidos somente por uma temporada. Assim, foi confirmado que já não existem mais vagas diretas para os campeões dos campeonatos espanhol e alemão, bem como das ligas Adriática e VTB, como vinha acontecendo nos últimos anos. Nas palavras do próprio Bertomeu, “a porta de entrada da Euroliga para clubes da França, Espanha, Alemanha, Itália, Grécia e Turquia será a EuroCup”.

Mas nessa mesma entrevista ele deu a entender que clubes da Liga Adriática teriam algum tipo de prioridade para receber um destes convites, pois ele afirmou que “os países Adriáticos são um território importante para o basquete”. Na manhã desta quinta-feira (15), o site Eurohoops, parceiro de mídia oficial da Euroliga, soltou uma notícia em que confirma que o campeão da Liga Adriática receberá, de fato, um desses dois convites. A liga é a única das grandes da Europa que não possui nenhum time com licença na Euroliga.

Talvez o ponto mais interessante desta notícia publicada pelo Eurohoops seja a de quem ficará com o outro convite. O artigo coloca três clubes como favoritos para receber este último “wildcard”: o Zenit São Petersburgo (RUS), o Valencia ou a Virtus Bolonha. Porém, o mesmo texto também afirma que o clube russo, que se classificou nesta temporada para os playoffs da Euroliga pela primeira vez em sua história, é o principal favorito nessa briga.

O caso do Zenit
Tradicional clube de futebol da Rússia, o Zenit começou seu departamento de basquete em 2014, adquirindo o clube já existente Triumph Lyubertsy e mudando seu nome e local, incorporando-o ao Zenit. Mesmo antes de chegar a São Petersburgo, o Lyubertsy já era um clube de alto nível no basquete russo, militando na divisão mais alta do país desde 2003.

Sob a nova “marca” e com a grande patrocinadora, a multinacional do ramo de energia Gazprom (cuja sede é em São Petersburgo), o projeto de basquete do Zenit se manteve sólido. Apesar de não ter grandes títulos para mostrar desde então, o clube acumulou excelentes participações em competições domésticas e também nas européias. Por quatro temporadas seguidas (entre 2016 e 2019) a equipe terminou entre os quatro melhores colocados da difícil Liga VTB. O clube participou também de cinco temproadas seguidas da EuroCup (2015 a 2019), conseguindo alcançar as quartas-de-final em duas delas.

A solidez do projeto atraiu a Euroliga, que ofereceu ao clube um “wildcard” para a temporada 2019-20. Porém, a participação do clube foi muito abaixo do esperado no ano passado. Até o cancelamento da temproada, o time ocupava a lanterna da competição, com oito vitórias e 20 derrotas. Mas, antes mesmo do fim da última temporada, as coisas começariam a mudar, pois o time acertou, ainda em fevereiro, a contratação do renomado treinador espanhol Xavi Pascual, campeão da Euroliga com o Barcelona, em 2010, dentre vários outros títulos.

Sem estar satisfeito, o clube revolucionou seu elenco para esta temporada da Euroliga, a qual pôde disputar porque todos os times da temporada passada ganharam esse direito novamente, este ano. O time investiu em contratações de peso, como Kevin Pangos, Artūras Gudaitis, Billy Baron, K.C. Rivers e Alex Poythress. Desta forma, a equipe pôde ter uma temporada sólida, acabando com toda a desconfiança sobre se a nova equipe daria certo ou não. Surpreendendo a todos, o Zenit não só entrou na disputa por playoffs, mas passou mas da metade da temporada disputando uma vaga no “G4”.

O caso da Virtus
Ao mesmo tempo, na entrevista de Bertomeu na semana passada, ele afirmou o seguinte: “para nós, França, Alemanha e Itália são países estratégicos. Países para os quais nós temos um plano de investimento muito importante para os próximos três ou quatro anos. Nós sempre olhamos para o futuro e, hoje, a Virtus representa um futuro irrefutável”.

A Virtus, tradicional clube italiano, vem desenvolvendo um dos projetos mais sólidos do basquete europeu nos últimos anos. O clube foi comprado pelo empresário Massimo Zanetti, dono da empresa de café italiana Segafredo, em 2016, quando o time tinha acabado de ser rebaixado para a Serie A2 do campeonato italiano. Desde então, Zanetti reergue o clube, que venceu a lucrativa Basketball Champions League da FIBA na temporada 2018-19. Depois, o clube se colocou ainda mais evidência quando, em julho de 2019, trouxe de volta da NBA o armador sérvio Miloš Teodosić. Neste ano, eles também chamaram atenção ao repatriar o ala-armador Marco Belinelli, também da NBA.

Desde a compra por Zanetti, a Virtus voltou a ser um dos melhores times da Itália, tendo sido a grande favorita ao “scudetto” na temporada passada, antes do cancelamento da mesma. Na EuroCup deste ano, antes de perder os dois jogos para o UNICS e ser eliminado, o clube estava invicto, quebrando um recorde particular, com 19 vitórias seguidas na competição.

O caso do Valencia
Semelhantemente aos outros dois clubes, o Valencia também tem sido um grande caso de sucesso no basquete europeu nos últimos anos. Com várias participações na Euroliga neste século, o clube acumula ótimas campanhas no campeonato espanhol, do qual foi campeão na temporada 2016-17, e também na EuroCup. Nas edições das quais participou em anos recentes, os “Laranjas” tiveram um desempenho excepcional: de 2010 para cá, o clube chegou a cinco finais, conseguindo levantar o caneco em três delas (2010, 2014 e 2019).

Na temporada passada da Euroliga, o time teve uma campanha irregular, mas conseguiu se manter na zona de classificação pela maior parte do segundo turno, antes de sofrer quatro derrotas seguidas e cair fora dela, quando a competição foi cancelada, seis rodadas antes da conclusão. Com a nova chance de disputar a liga nesta temporada, o clube investiu pesado e trouxe grandes nomes, como Nikola Kalinić eDerick Williams, do Fenerbahçe, e o cestinha da ACB na temporada passada, Klemen Prepelič. Porém, faltou fôlego ao time, que acabou perdendo a vaga nos playoffs na última rodada, após ter sofrido algumas derrotas inesperadas na reta final.

By Tabela de Ferro

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