logo_fpbNo meu texto de estreia vou então começar por vos dar uma ideia de como anda o basquetebol português. Para isso vou falar sobre as prestações das seleções nacionais, a qualidade da liga caseira, de como se têm comportado as equipas portuguesas nas competições europeias e quem são os principais basquetebolistas portugueses a jogar na Europa e nos EUA.

Seleções Nacionais

Vamos então começar por falar sobre como tem sido a vida das seleções nacionais de Portugal. No panorama sénior masculino, Portugal está no ranking da FIBA no lugar 61 (de 168), que corresponde no ranking europeu à 34ª posição (de 49). Com isto, acho que dá para ver que as coisas não têm andado lá muito bem, o que é bem verdade. Portugal nunca participou nem numa Copa do Mundo nem nos Jogos Olímpicos e a última participação num EuroBasket foi em 2011, na Lituânia, no qual ficaram no último lugar do grupo apenas com derrotas. A próxima participação num EuroBasket não se encontra para breve, pois Portugal já foi eliminado na 3ª fase de qualificação para o EuroBasket de 2021 (adiado para 2022), após ter ficado em 3º num grupo em que continha também a Suíça e a Islândia. Neste grupo todos ficaram com 6 pontos, mas no desempate por diferença entre pontos marcados e sofridos Portugal acabou por sair prejudicado.

Atualmente, os séniores masculinos portugueses encontram-se a disputar a fase preliminar da qualificação à Copa do Mundo de 2023, estão em segundos no Grupo A, após uma vitória contra a terceira Albânia (70-62), e uma derrota contra a líder do grupo Bielorrússia (72-56), no grupo ainda há a seleção do Chipre que só se encontra com derrotas.

Em relação às seleções jovens masculinas, Portugal não se encontra no ranking da FIBA, mesmo após ter sido no ano passado campeão do europeu de sub-20 na div. B. Na fase de grupos a seleção anfitriã (Portugal, o europeu foi realizado em Matosinhos), saiu apenas vitoriosa num grupo onde continha a Bélgica, Eslováquia, Macedónia e Luxemburgo. Durante a fase a eliminar, Portugal derrotou a Geórgia, a poderosa Rússia e na final a República Checa. Para além da vitória no europeu, Portugal arrecadou o prémio de MVP do torneio (Rafael Lisboa) e pôs dois jogadores no quinteto ideal da competição (Rafael Lisboa e Neemias Queta). Até agora este foi o maior feito de uma seleção jovem masculina, o que indica que nesta área Portugal não tem muita história de vencer, até porque para o ano será a primeira participação num europeu da div. A.

Festejos portugueses após conseguirem a medalha de bronze nas universíadas de 2019

Onde Portugal tem tido mais sucesso no basquetebol, é no lado feminino. Para começar, a seleção sénior feminina está no 47º lugar no ranking da FIBA e no 27º europeu e nas seleções jovens Portugal ocupa a 27ª posição na FIBA e 15º euroepu. Apesar das séniores no setor feminino nunca se terem qualificado para nenhum torneio continental, encontram-se mais próximas que nunca de se qualificarem para um EuroBasket. Estão na fase final de qualificação onde para garantirem uma vaga têm de conseguir ou o primeiro lugar no grupo ou, se ficarem no segundo lugar, têm de ser um dos cinco melhores segundos. Atualmente, estão no segundo lugar no grupo e são o sétimo (de nove) melhor segundo entre todos os grupos.

Nos escalões jovens femininos Portugal tem tido muito sucesso, costumam sempre haver equipas portuguesas na div. A nos europeus jovens femininos. Nos últimos tempos conseguiram uma medalha de prata nos europeus de sub-16 e a primeira participação de sempre num mundial de basquetebol, onde terminaram no 12º lugar. É também de destaque a participação da equipa feminina portuguesa nas universíadas no ano passado, onde conseguiram a medalha de bronze após terem apenas uma derrota durante o torneio inteiro que foi nas meias-finais frente à campeã Austrália.

Liga Portuguesa de Basquetebol (LPB)

COM_5562_LOGO-1Antes de começar a falar sobre a LPB tenho de congratular a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) pela reformulação de seu site, onde dá para se aceder a tudo sobre sobre o basquetebol em Portugal (http://www.fpb.pt/).

Nestes últimos anos a LPB tem sido uma liga muito fraca em termos de qualidade e de jogadores, mas posso dizer com certeza que atualmente está no seu auge desde da década de 90. Na época de 2015/16 pela primeira vez um jogador que já tinha passado pela NBA jogou numa equipa portuguesa, essa contratação histórica foi do Benfica que assinou com Daequan Cook (atualmente no Ironi Nes Ziona, de Israel). Não sei se algum de vocês se lembra dele, mas foi o campeão do concurso da NBA de 3 pontos em 2009. Desde aí a liga portuguesa deu um salto, o Benfica teve por 2 épocas a estrela angolana Carlos Morais, o Porto no ano passado foi buscar um jogador dispensado dos Chicago Bulls, Rawle Alkins, e da NCAA têm aparecido também jogadores interessantes.

Esta época da LPB entrou para a história pois pela primeira vez no séc. XXI os “três grandes” portugueses (Benfica, Porto e Sporting) participaram ao mesmo tempo na divisão principal de basquetebol, porque o Sporting voltou a ter equipa 25 anos após a extinção da modalidade em 1994. Antes da paragem e cancelamento da época por causa da pandemia era mesmo o Sporting que liderava a liga, no entanto, a FPB declarou que este ano não haveria campeão, por isso o atual campeão da LPB, aliás bi-campeão, é a histórica mas “pequena” Oliveirense.

Rawle Alkins, quando foi apresentado como jogador do FC Porto

Apesar de não ter havido campeão este ano as duas equipas que irão descer de divisão para a Proliga (2ª divisão) estão decididas, são: a Terceira Basket (já despromovidos antes da paragem) e o Illiabum Clube (por problemas financeiros criados pelo Covid-19). Os clubes que irão representar Portugal nas competições europeias ainda não estão totalmente definidos, sabe-se que o Sporting irá disputar o acesso à fase de grupos da Basketball Champions League contra o Fribourg (Suíça) e se passar irá defrontar o vencedor do confronto entre o Igokea (Bósnia, Liga ABA) e o Cluj-Napoca (Roménia); pensa-se que o Benfica ficará com a vaga portuguesa para disputar o acesso para a fase de grupos da FIBA Europe Cup, pois antes do cancelamento da época estava no 2º lugar mas atualmente isso ainda não está totalmente decidido.

Competições europeias

Portugal nestes últimos tempos tem tido duas vagas de acesso às competições europeias. O campeão tem entrada nos playoffs de acesso à Basketball Champions League e caso seja eliminado tem vaga assegurada na fase de grupos da FIBA Europe Cup. O segundo classificado tem uma vaga para os playoffs de acesso à fase de grupos da FIBA Europe Cup.

Como dá para ver as equipas portuguesas não têm relevância no panorama europeu atual, no entanto, a melhor participação recente de Portugal nas competições europeias é capaz de ter sido a deste ano. Para começar, o Benfica esteve muito perto de conseguir-se apurar para a Basketball Champions League mas foi eliminado pelo Mornar Bar (Montenegro, Liga ABA) numa eliminatória que ficou 167-150 (no agregado). Na FIBA Europe Cup, o Benfica foi a primeira equipa portuguesa a passar a primeira fase de grupos da competição e passou com o primeiro lugar num grupo que contava com a participação do Leiden (Holanda), Inter Bratislava (Eslováquia) e Pecsi (Hungria). Na segunda fase de grupos acabou por ter azar e calhar no “grupo da morte” que contaria com dois semi-finalistas da competição: o Bayreuth (Alemanha) e Bakken Bears (Dinamarca); e com o Spirou Cherloi. O Benfica ficou com o terceiro lugar a um ponto do segundo Bakken Bears.

Jogo do Benfica frente à Varese, na Luz

Já na época 2018-19 a participação de Portugal foi historicamente má. O Benfica foi eliminado do apuramento para a FIBA Europe Cup pela Dinamo Sassari, da Itália (que acabaria por ser campeã), e o Porto para além de ter sido eliminado pelo Nizhny (Rússia), na tentativa de acesso à Basketball Champions League, teve apenas uma vitória na primeira fase de grupos da FIBA Europe Cup. O mais perto que uma equipa portuguesa esteve de participar na Basketball Champions League foi na sua primeira edição em 2016-17, quando o Benfica defrontou a Varese (Itália). Após em Portugal a Varese ter ganho 75-72, o Benfica foi a Itália e o jogo estava 70-70 a dois segundos do fim. Numa reposição de bola lateral, o extremo João Soares recebe a bola rodeado de adversários, arremessa e a bola entra, só que pisou a linha de três pontos então o resultado final foi 72-70 para o Benfica, sendo que no agregado o Benfica perdeu por um ponto (assista ao jogo completo aqui).

Quero chamar a atenção que quem tem estado a representar Portugal nas competições europeias tem sido o Porto e o Benfica, pois a Oliveirense tem recusado as vagas que ganha devido ao clube não ter condições financeiras em sustentar as deslocações e estadias dos jogadores pela Europa fora.

Portugueses na Europa e na NCAA

O principal português a jogar basquetebol é sem dúvida nenhuma Neemias Queta, o poste joga em Utah State, na conferência Mountain West da NCAA. Antes de rumar aos EUA, em Portugal fez a formação no clube da sua terra, o Barreirense e depois foi para o Benfica. Ele mede 2,13m e pesa 111 kg. Chamou a atenção dos scouts americanos na div. B do Europeu de sub-18, em 2017, quando recebeu propostas de Texas Tech, Creighton e Utah State, sendo esta última a universidade escolhida porque já havia um outro português (Diogo Brito) na universidade. Por Utah State, Queta venceu o prémio de “Freshman of the Year” e “Defensive Player of the Year” da conferência em 2019, além de também ter presença no “Second-team All-Mountain West” nas duas épocas que teve na universidade.

Neemias Queta nos festejos de Utah State após vencerem o torneio da conferência

Em 2019 declarou-se para o Draft sendo convidado a participar no Combine onde atuou muito bem, no entanto, acabou por decidir em retirar-se do Draft. Neste verão ajudou Portugal a conquistar o ouro na div. B do Europeu de sub-20 onde acabou por ter uma lesão grave no joelho frente à Rússia que o afastou do início da época. Neste Draft voltou a declarar-se e mais uma vez retirou o seu nome. Em Utah State ganhou a fase regular da conferência o ano passado e o torneio da conferência em ambos os anos. Espera-se ainda que Neemias Queta seja o primeiro português a jogar na NBA. Para além de Neemias, há mais um português na NCAA, chama-se Hugo Ferreira e atua por Cleveland State, uma modesta universidade da Horizon League, que terminou o ano passado com o recorde de 11-21. Ele foi eleito o “Freshman of the Year” da equipa.

Pela Europa há dois portugueses que se destacam: Miguel Maria Cardoso na segunda divisão espanhola e o naturalizado português Jeremiah Wilson, na Itália. Miguel Maria Cardoso, que agora atua nos espanhóis do CB Almansa, já teve passagens pelo Porto, Benfica e pelo histórico francês do Nanterre. Jeremiah Wilson é jogador atualmente da Cantù, clube com muita história do norte de Itália. Anteriormente na sua carreira passou pelo Benfica e pelas ligas da Argentina, República Checa, Grécia, Israel, Turquia, Polónia e França.

Acho que já devem ter reparado que o setor feminino é o mais forte no basquetebol português e por isso há muitas mais jogadoras espalhadas fora de Portugal. Na NCAA há um total de sete jogadoras portuguesas: Beatriz Jordão e Sara Guerreiro em USF, Carolina Cruz em Manhattan, Luana Serranho em Campbell, Maria Carvalho em Utah Valley, Marta Vargas em Rhode Island e Tess Santos no Presbyterian College. Na U-Sports (competições universitárias canadianas) há uma portuguesa, Carolina Gonçalves, que em 2018 ganhou o prémio de “Rookie of the Year” atuando pela universidade de Regina.

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Beatriz Jordão

Pela Europa fora há imensas jogadores com origem em Portugal, podendo destacar Maria João Correia (Ciudad de La Laguna) e Laura Ferreira (Extremadura) que atuam na primeira divisão espanhola. Pela liga inglesa há uma imensidão portuguesa com Simone Costa nos Nottingham Wildcats, Lavinia Silva nos London Lions, Rosinha Rosário e Luiana Livulo nos Sheffield Hatters e Sara Djassi nos Manchester Mystics. Ainda merecem destaque Maria Kostourkova que atua pelos eslovenos dos ZKK Cinkarna Celje, Inês Viana nos suíços do Fribourg e Sofia Silva nos belgas do Namur Capitale.

Como está o basquetebol português?

Respondendo então à pergunta principal deste texto, posso dizer com toda a certeza que o basquetebol português não está bem, mas está a evoluir. A FPB tem vindo a melhorar muita coisa nestes últimos anos, algo de destacar é a transmissão de todos os jogos da LPB, da Proliga (primeira e segunda divisão portuguesas), Liga Feminina e das fases finais de todos os escalões jovens (masculinos e femininos), seja por canais na televisão ou no canal do Youtube da FPB. Tenho fé que a seleção nacional evolua com a chegada da próxima geração, pois se a qualidade se mantiver é uma vergonha para um país como Portugal. Para terminar tenho de dar os parabéns aos responsáveis pela evolução do basquetebol feminino em Portugal que tem sido notória.

By Tabela de Ferro

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