A abertura da temporada oficial de basquete na Espanha se deu com mais uma edição da Supercopa, novamente realizada em Tenerife, neste sábado (11) e domingo (12). A competição chegou em sua vigésima segunda edição, sendo realizada com quatro equipes desde 2004, quando a ACB reativou o torneio (entre 1984 e 1987 foi organizada pela Federação Espanhola, entre o campeão da Liga ACB e o da Copa do Rei). Neste ano, os quatro participantes eram: Barcelona (campeão da Liga ACB e da Copa do Rei), Real Madrid (campeão da Supercopa 2020), Tenerife (terceiro colocado na Liga ACB e anfitrião) e Valencia (quarto colocado na Liga ACB). E pelo quarto ano seguido, o Real Madrid conquistou a Supercopa, após desvantagem de 19 pontos contra o Barcelona, em incrível reação liderada pelo veterano Sergio Llull, eleito MVP desta edição. As partidas contaram com cerca de 2.500 pessoas presentes, maior público de uma competição da ACB desde o início da pandemia do coronavírus.
SF 1 – Barcelona 87 x 68 Valencia
Na primeira semifinal disputada em San Cristóbal de La Laguna, no sábado (11), o Barcelona passou sem dificuldades por um desfalcado Valencia, por 87 a 68. A equipe de Šarūnas Jasikevičius venceu de ponta a ponta, sem dar chances ao jovem elenco disponível do técnico Joan Peñarroya. A equipe valenciana buscava seu segundo título da Supercopa, após ter vencido em 2017, mas tinha desfalques importantes, incluindo três recém contratados: o macedônio Nenad Dimitrijević (vindo do Joventut Badalona), o espanhol Xabier López-Arostegui (também vindo de Badalona) e o cubano Jasiel Rivero (San Pablo Burgos). Além deles, a equipe também não contava com o francês Louis Labeyrie, importante no garrafão. Com isso, a equipe teve que dispor de jovens talentos, como Jaime Pradilla (20 anos), Guillem Ferrando (19 anos), Millán Jiménez (18 anos) e Josep Puerto (22 anos).
A partida começou com o Valencia parecendo que iria dar trabalho ao forte elenco do Barcelona, conseguindo abrir 8 a 3 nos primeiros minutos de jogo. Mas logo essa sensação se dissipou, com a forte defesa catalã entrando em ação, roubando algumas bolas e forçando erros do adversário. Com isso, o Barça consegue uma corrida de 16 a zero (!) e assume o controle da partida, para não mais ser perdido. A equipe vai bem do perímetro e consegue nove roubos de bola no quarto, enquanto o Valencia tem dez desperdícios e fica limitado a apenas nove arremessos de quadra, fechando a parcial em 27 a 16 para os catalães. No segundo quarto, o Valencia tenta melhorar a defesa e reduz o volume de jogo do Barcelona, porém os desperdícios de bola continuam e o aproveitamento do perímetro é péssimo (nenhuma certa em seis tentativas). Apenas o islandês Martin Hermannsson consegue algo no ataque, porém insuficiente para conter Brandon Davies, Cory Higgins e companhia. O Barça limita o Valencia a apenas 12 pontos no quarto e vai para o intervalo com 17 de vantagem (45 a 28), encaminhando bem seu passaporte para a final.
No terceiro quarto, o jovem Pradilla consegue boas ações ofensivas, porém o leque de opções do Barcelona é muito amplo, com Nikola Mirotić “entrando” no jogo e deixando a vantagem em 24 pontos (56 a 32). Apesar da equipe catalã não ter um bom aproveitamento dos três pontos desde o segundo quarto, continua dominando os rebotes e cuidando melhor da bola, além de ir mais para a linha de lance livre. Os jogadores mais experientes do Valencia, como Sam Van Rossom, Klemen Prepelič, Bojan Dubljević e Víctor Claver, têm uma partida de fraca a razoável, ficando muito aquém do que podem apresentar. Obviamente, por se tratar de início de temporada, nem todos estão nas mesmas condições físicas e técnicas, mas o Barcelona “sobrava” dentro de quadra, com todo o elenco tendo boa participação. No quarto final, com 23 pontos de vantagem, o time catalão poupou alguns jogadores (Higgins, Mirotić, Nico Laprovittola, Pierre Oriola), dando mais espaço aos jovens Sergi Martínez e o lituano Rokas Jokubaitis, este último contribuindo com oito pontos no quarto. O jovem Puerto também aproveitou a oportunidade, jogando todo o período e anotando sete pontos (2 de 3 do perímetro) para o Valencia, que até conseguiu vencer o período final (20 a 24), mas não teve forças suficientes para superar a forte equipe do Barcelona.
Partida muito sólida de Brandon Davies, com 15 pontos (7 de 9 dos arremessos de quadra), cinco rebotes, uma assistência e dois roubos, fechando com 20 de valoração, a maior da partida. Também vieram bem Cory Higgins (13 pontos e 16 de valoração), Nico Laprovittola (nove pontos, dois rebotes, duas assistências, dois roubos e 13 de valoração) e Rokas Jokubaitis (dez pontos, um rebote e três assistências). Pelo Valencia, boa partida de Martin Hermannsson (11 pontos, três assistências e três roubos) e dos jovens Josep Puerto (11 pontos e quatro rebotes) e Jaime Pradilla (dez pontos, um rebote, duas assistências e um toco).
SF 2 – Tenerife 70 x 72 Real Madrid
Na segunda semifinal, também realizada no sábado (11), o Real Madrid teve mais dificuldades, mas conseguiu bater os anfitriões do Tenerife, por 70 a 72. A equipe da casa teve o controle da partida por praticamente três quartos, porém não conseguiu manter a intensidade no período final, perdendo a partida e a chance de disputar uma final de Supercopa pela primeira vez. As duas equipes foram muito mal do perímetro, especialmente o time da capital, que acertou apenas quatro em 28 tentativas (!), fazendo com que o jogo mais perto da cesta fosse mais efetivo.
O primeiro quarto começou equilibrado, sem nenhuma equipe se distanciando no placar. O francês Vincent Poirier prevalecia dentro do garrafão, mas com a entrada de Giorgi Shermadini o seu trabalho foi dificultado. O bósnio Emir Sulejmanović fazia uma partida muito boa para o time da casa, com 100% de aproveitamento nos arremessos de quadra e oito pontos no quarto. A equipe do Real, sem acertar nada do perímetro, buscava se manter no jogo com Guerschon Yabusele, um dos estreantes da equipe, junto com Nigel Williams-Goss, Thomas Heurtel e Adam Hanga. O Tenerife consegue uma parcial de 7 a 0 no final do quarto e fecha o quarto em 21 a 14. No segundo quarto, o Real aperta um pouco mais a marcação, especialmente sobre os armadores adversários, que tinham muita liberdade. Com isso, conseguem forçar seis desperdícios de bola, sendo três apenas de Marcelinho Huertas, que veio do banco. Ainda assim, o jogador contribuiu com seis pontos no quarto, mesmo número de Heurtel do outro lado, que buscava mais a bola de dois pontos. Aliás, o arremesso do perímetro dos “Blancos” continua horrível, com nenhum acerto em nove tentativas no período (ou nenhuma em 15 no primeiro tempo inteiro!), porém o Tenerife não é muito melhor no período e tem seu volume de jogo reduzido. Com um jogo mais feio e travado das duas equipes, o quarto termina em 16 a 17 para os visitantes, e vantagem de seis pontos para o time da casa no intervalo (37 a 31).
Na volta, o cenário não muda muito, com Sulejmanović acertando uma bola tripla e abrindo nove de vantagem. A dupla Huertas-Shermadini vai comandando as ações do time da casa, mas ainda sofrendo com os desperdícios, enquanto o time de Madri consegue equilibrar os rebotes e cuida melhor da bola. Ainda com um péssimo aproveitamento dos três pontos, os visitantes até conseguem reduzir a diferença para apenas três pontos, mas graças a Huertas, principalmente, a vantagem do Tenerife vai aos dez. O Real perde Rudy Fernández, com uma lesão no joelho, no final do quarto, mas Yabusele e Williams-Goss começam a aparecer mais e deixam a desvantagem em cinco pontos, com tudo aberto para o quarto final. E no último período, a energia do Tenerife acaba, enquanto o Real Madrid cresce. Logo no primeiro minuto, Williams-Goss anota seis pontos em sequência e coloca os visitantes em vantagem. A bola do Tenerife para de cair, e apenas Shermadini consegue algum resultado ofensivo. O jogo é muito disputado e o Tenerife chega ao empate na metade do período, mas cinco pontos seguidos de Fabien Causeur colocam novamente o Real em vantagem. Já sem Poirier e Walter Tavares, eliminados com cinco faltas, o Real tem dificuldades de conter Shermadini, que deixa a desvantagem em dois pontos, faltando dois minutos. Mas então uma bola tripla de Hanga dá um banho de água fria no time da casa, que não conseguiu ter a calma suficiente para fazer bons ataques, além de vacilar na defesa, perdendo grande oportunidade de fazer história.
Apesar do péssimo aproveitamento de três pontos do Real, a equipe conseguiu se manter na partida e não deixar o Tenerife escapar, com bom aproveitamento e volume das bolas de dois pontos, além de forçar 17 erros do time da casa. O estreante Guerschon Yabusele teve grande partida, com 15 pontos e oito rebotes, bem ajudado por Causeur, com 12 pontos e cinco rebotes, e Nigel Williams-Goss, com 12 pontos. Pelo Tenerife, mais uma grande partida de Giorgi Shermadini, com 21 pontos e 21 de valoração, com Marcelinho Huertas conseguindo 13 pontos, cinco rebotes e seis assistências, porém sete desperdícios de bola.
Final – Barcelona 83 x 88 Real Madrid
Na grande final realizada no domingo (12), o Real Madrid bateu o Barcelona por 83 a 88 e conquistou a Supercopa da Espanha pela oitava vez, sendo a quarta consecutiva. Numa partida de incrível superação, onde a equipe madrilenha chegou a estar perdendo por 19 pontos no terceiro quarto, brilhou a estrela do veterano Sergio Llull, eleito MVP do torneio pela terceira vez, igualando o feito de Juan Carlos Navarro. Era a grande oportunidade de o Barcelona igualar o número de conquistas da Supercopa do seu arquirrival, já que possui seis títulos e o Real tinha sete. Mas não foi dessa vez (novamente), com o Barça perdendo as últimas seis finais de Supercopa que fez com o Real, tendo vencido eles pela última vez no título de 2009.
O início de jogo foi marcado pela falta de defesa das equipes, com arremessos abertos e alto aproveitamento. O Barça começou com uma sequência de quatro arremessos triplos certeiros (em quatro tentados), sendo dois com Pierre Oriola, e o Real respondendo com enterradas de Vincent Poirier e arremessos de Jeff Taylor e Adam Hanga. Na metade do quarto o jogo fica mais faltoso, e as equipes demoram quase dois minutos para anotarem um arremesso de quadra novamente, com Cory Higgins colocando o Barça com seis de vantagem. Finalmente Carlos Alocén acerta dois triplos em sequência e coloca o time da capital na cola novamente. O jogo fica lá e cá, com equilíbrio nos erros e acertos, fechando o primeiro quarto em 23 a 22 para os catalães. No segundo quarto, o aproveitamento do perímetro das duas equipes cai, mas o Barça consegue um volume de jogo maior (forçando erros do Real) e aproveita melhor as oportunidades de dois pontos. O armador Sergio Llull entra bem no jogo, conseguindo deixar o time do Real sempre colado no placar, anotando oito pontos no quarto. Mas o Barcelona consegue emendar uma sequência de 7 a 0 no final, abrindo nove de vantagem, sendo logo diminuída após uma cesta tripla de Thomas Heurtel, deixando a vantagem do Barça em apenas seis pontos no intervalo.
No início do segundo tempo, o Barcelona vem num ritmo alucinante, disposto a liquidar o jogo e levar o título. Com grande participação de Nikola Mirotić, com oito pontos, a equipe faz uma sequência de 13 a 2 e abre 17 de vantagem, fazendo com que o técnico Pablo Laso parasse o jogo. A parada não teve resultado imediato, com Brandon Davies colocando 19 de vantagem na metade do quarto, a maior diferença da partida. Porém, o time de Madri possui uma equipe experiente e o Barcelona deveria saber que não poderia ficar acomodado com o placar. O armador Llull volta para a partida e, com muita energia, começa a conduzir a sua equipe a um novo caminho. Seja com cestas ou com assistências, o jogador vai crescendo no jogo, trazendo seus companheiros junto, especialmente Alocén. A defesa do Real também melhora bastante, com o Barça não conseguindo mais converter seus arremessos como anteriormente. No último minuto, Llull anota oito pontos em sequência, deixando a desvantagem em “apenas” nove pontos, e com os ânimos completamente diferentes de cada lado. No quarto derradeiro, parecia que o Barça não deixaria o Real crescer mais na partida, especialmente com Cory Higgins, respondendo a cada ação do time de Madri. O pivô Poirier começava a se destacar mais, porém a diferença continuava na casa dos dez pontos. Então o estreante Willians-Goss mata uma bola tripla na metade do quarto, dando início a uma corrida importante para o time de Madri, e crucial para a reação e a vitória. Fazendo 12 a 2 na metade final, outra bola tripla de Williams-Goss empata a partida em 81 pontos, faltando pouco menos de dois minutos para o término da partida. A torcida madridista presente enlouquecia, quase não acreditando na incrível recuperação da equipe. Após dois lances livres convertidos, Yabusele coloca o Real pela primeira vez na frente, faltando pouco mais de um minuto para o final, com Davies empatando a partida logo depois. E então, o ataque mais importante: o Real Madrid consegue dois rebotes ofensivos, até sofrer a falta, convertida em lances livres por Poirier. Com 30 segundos restantes, Davies não converte, o Real segura a vitória e conquista mais uma Supercopa, após uma reviravolta incrível.
O dono da virada e MVP da Supercopa foi Sergio Llull, que anotou 24 pontos em menos de 20 minutos em quadra (27 de valoração), conquistando pela terceira vez a honraria individual. Também importantíssimo no título, o francês Vincent Poirier teve 16 pontos, 11 rebotes e dois tocos (26 de valoração), assim como Nigel Williams-Goss (nove pontos e três assistências) e Carlos Alocén (11 pontos, três rebotes, duas assistências) foram essenciais na arrancada final. No lado catalão, boa partida de Cory Higgins (16 pontos), Nikola Mirotić (12 pontos e cinco rebotes) e Nick Calathes (11 pontos, quatro rebotes e sete assistências), e uma frustração imensa, como dito pelo técnico Šarūnas Jasikevičius em sua entrevista pós-jogo: “Foi a minha maior decepção desde que cheguei aqui.”