No último domingo, dia 18 de setembro, a Espanha conquistou o seu quarto título de EuroBasket, batendo a França na final por 88 a 76. Apesar de ser uma das escolas mais tradicionais e vitoriosas do basquete mundial, ninguém apontava a Espanha como candidata ao título, especialmente pela transição no elenco, com as aposentadorias dos irmãos Gasol e Sergio Rodríguez, o corte do veterano Sergio Llull, e uma equipe jovem e sem estrelas (Ricky Rubio, destaque da última Copa do Mundo, também ficou de fora). Porém, o que se viu em quadra foi um grupo maduro, bastante focado na vitória, com um trabalho defensivo sem igual na competição, e com um técnico (Sergio Scariolo) que faz toda a diferença para qualquer equipe. Essa foi a sétima final da Espanha nas últimas 11 edições do EuroBasket, com o primeiro dos quatro títulos ocorrendo em 2009, o que demonstra o excelente trabalho que vem sendo feito no basquete espanhol nos últimos anos. E isso deve continuar, já que a Espanha foi finalista em TODAS as competições de base disputadas no ano: campeã europeia sub-20 e sub-18, vice-campeã europeia sub-16 e vice-campeã mundial sub-17.

O selecionado espanhol fez uma campanha bastante consistente, com apenas uma derrota (para a Bélgica, na primeira fase) em nove jogos, colocando dúvidas na cabeça de todos à medida que a equipe avançava. Na primeira fase, os espanhóis não tomaram conhecimento de Bulgária, Geórgia e Montenegro, disputando a primeira posição do grupo com a Turquia, em um jogo mais apertado, além da mencionada derrota inesperada para a Bélgica. Nesta etapa, já ficou claro que Willy Hernangómez seria o líder da equipe, e que a adição do veterano armador Lorenzo Brown (estadunidense naturalizado espanhol), questionada por muitos, havia sido certeira. Além disso, o técnico Scariolo utilizava muito bem todo seu elenco, que incluía Juancho Hernangómez, o veterano e experiente Rudy Fernández, além dos menos conhecidos (mas destaques na Liga ACB) Darío Brizuela, Jaime Fernández e Jaime Pradilla. A equipe apresentava um basquete moderno, com defesa pressionada, transição rápida, forte jogo de garrafão, mas também uma perigosa bola de três pontos.

Na fase de oitavas-de-final viria o primeiro grande desafio da seleção espanhola, enfrentando a forte Lituânia e sua torcida, classificada em quarto lugar no “grupo da morte”. Em um jogo muito disputado, decidido na prorrogação, a Espanha venceu com dois pontos-chave: a forte defesa, que anulou o pivô Jonas Valančiūnas (apenas cinco pontos no jogo), roubou nove bolas e forçou 20 erros dos lituanos; e o armador Lorenzo Brown, que terminou com 28 pontos e oito assistências, e comandou o time, especialmente no quarto final e prorrogação. Nas quartas-de-final, contra a jovem equipe da Finlândia, novamente a defesa e um inspirado Willy Hernangómez comandaram a vitória. Apesar de um primeiro quarto ofensivo avassalador dos finlandeses, e do déficit de nove pontos no intervalo, os espanhóis voltaram com tudo dos vestiários, viraram a partida e comandaram o placar até o final. Nem os 28 pontos e 11 rebotes de Lauri Markkanen foram suficientes para impedir a derrota da Finlândia, que viu os irmãos Hernangómez combinarem para 42 pontos.

Nas semifinais, encontro com o time da casa, Alemanha, também surpreendendo pelo ótimo basquete apresentado na competição, e com chances reais de chegar novamente em uma final de EuroBasket, com o apoio de sua torcida. O jogo foi bastante equilibrado, com o armador Dennis Schröder comandando a seleção alemã, bem acompanhado pelo jovem Franz Wagner e pelo “sniper” Andreas Obst, enquanto Lorenzo Brown e os irmãos Hernangómez lideravam os espanhóis. O jogo foi para o último quarto com pequena vantagem do time da casa, por seis pontos, quando então a Espanha veio para a vitória, vencendo o último período por 11 pontos. Aqui apareceram dois coadjuvantes que foram essenciais não apenas nesta partida, mas em toda a competição: Alberto Díaz e Usman Garuba. O primeiro, um defensor incômodo para qualquer adversário, ainda contribuiu com dez pontos e teve o maior “mais/menos” de toda a equipe, com +25 (ou seja, a Espanha venceu por 25 pontos quando ele esteve em quadra!); o segundo, também um monstro na defesa, e que terminou com cinco rebotes, sete assistências e dois tocos, em 18 minutos em quadra. Apesar dos 30 pontos e oito assistências de Schröder, a Espanha teve Brown respondendo com 29 pontos e seis assistências, levando a sua equipe a mais uma final de EuroBasket, a décima de sua história.

Na grande final, um encontro de duas potências do basquete mundial, Espanha e França, reeditando a final de 2011, vencida pelos espanhóis. O time francês, um dos grandes favoritos ao título antes do início do EuroBasket, com grande elenco e uma prata olímpica recente, não fez a campanha que todos esperavam. Após derrotas na primeira fase para Alemanha e Eslovênia, o time passou de forma similar por Turquia e Itália, com golpes de sorte que beiram o bizarro. Em ambos os jogos, a derrota estava praticamente certa, porém os adversários erraram lances livres decisivos, perderam bolas inacreditáveis e acabaram derrotados. Na semifinal, contra a surpreendente Polônia, que havia derrotado a Eslovênia, vitória com extrema facilidade e vaga na grande final. Porém, a Espanha já não era mais “zebra”, chegando com muita confiança, elenco muito unido (ao contrário da França) e um plano de jogo muito bem elaborado e executado por todos, sendo uma seleção muito difícil de ser batida.

E a Espanha começou a partida mostrando porque merecia ser campeã, com a sua forte defesa funcionando muito bem e limitando os franceses a apenas 14 pontos no primeiro quarto. Com nove pontos de frente na abertura da segunda parcial, começa a aparecer a figura do jogo: Juancho Hernangómez. Após perder o primeiro arremesso de três pontos, o jogador acertou todos os seis arremessos seguintes, desestruturando a defesa francesa e com a diferença chegando aos 21 pontos. Porém, o time francês não se entregou, e com uma corrida de 20-2 entre o final do segundo quarto e início do terceiro, conseguiu reduzir a diferença para apenas três pontos. O time espanhol apertou a defesa e voltou a colocar 12 pontos de frente, administrando bem a pequena vantagem, apesar do esforço francês para encostar no placar. O quarto final veio e a Espanha conseguiu manter a dianteira na casa dos dois dígitos, com muita pressão na defesa e os franceses sentindo psicologicamente a partida. No final, desempenho de luxo de Juancho “Bo Cruz” Hernangómez, com 27 pontos (7 de 9 dos três pontos), cinco rebotes e 30 de eficiência, e título para a Espanha, com vitória por 88 a 76.

Willy Hernangómez, o MVP inesperado

Após o título da Espanha, foi anunciado o melhor jogador do EuroBasket 2022 (MVP), com o troféu ficando com Willy Hernangómez, jogador do New Orleans Pelicans. Em uma competição em que todos estavam com os olhos voltados para as grandes estrelas, como Luka Dončić (Eslovênia), Giannis Antetokounmpo (Grécia) e Nikola Jokić (Sérvia), as honras de destaque ficaram com o jogador que liderou a sua seleção ao título, com atuações consistentes e decisivas. Tendo médias de 17,2 pontos por jogo, 6,9 rebotes, 1,0 assistência e 19,7 de eficiência, o jogador espanhol se consolidou como o rosto dessa nova geração espanhola, após um título de EuroBasket em 2015 e uma Copa do Mundo em 2019, porém ambos ainda como coadjuvante.

Além de Hernangómez, integraram o quinteto principal do EuroBasket (All Star 5) os armadores Dennis Schröder (Alemanha) e Lorenzo Brown (Espanha), Giannis Antetokounmpo (Grécia) e o pivô Rudy Gobert (França).

Disputa do terceiro lugar

A Alemanha bateu a Polônia, por 82 a 69, na disputa pelo terceiro lugar, voltando a ganhar uma medalha após o vice-campeonato de 2005 (a equipe venceu em 1993). Já a Polônia voltou a jogar uma semifinal após 51 anos, quando perdeu a disputa do terceiro lugar para a Itália. Novamente o destaque foi Schröder, com 26 pontos e seis assistências, enquanto Michal Sokolowski terminou com 18 pontos e seis rebotes.

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