Por Artur José Freitas e José Andrade

Entre os dias 21 de abril e, se preciso for, 4 de maio, os oito primeiros colocados da temporada regular se enfrentarão em séries melhor de cinco jogos, para definir os quatro times que avançarão para o Final Four. No texto de hoje, falaremos sobre o confronto da quarta-de-final B, entre a Olimpia Milão (ITA), quarta colocada na temporada regular, e o Bayern de Munique (ALE), o quinto.

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Como seria natural em uma eliminatória entre um quarto contra um quinto colocado, é esperado que este confronto seja dos últimos a ser decidido e com bastante equilíbrio de maneira geral. Estas duas equipas terminaram a temporada regular com o mesmo recorde (21 vitórias e 13 derrotas) e as duas vitórias da Olimpia Milão no confronto direto fazem com que os italianos tenham vantagem no fator casa. Como é esperado serem jogos bem renhidos, este fator importante pode vir a ser decisivo. Apesar do público não ser grande diferenciador nestes jogos, as viagens em curtos espaços de tempo e todos os protocolos derivados da pandemia desgastam os jogadores mentalmente.

É importante destacar também que este jogo é entre duas equipas que não estão muito habituadas a este tipo de andanças, pelo menos recentemente. O Bayern está nos playoffs da Euroliga pela primeira vez na sua história. É caso para dizer que o investimento feito nesta modalidade pelo histórico de Munique compensou. Já Milão voltou a chegar a esta fase após estar sete anos em jejum, mas ostenta três títulos da competição em sua história.

Como foi a temporada da Olimpia: Esta caminhada que recolocou a Olimpia Milão na maior rota do basquetebol europeu começou nem por acaso contra o Bayern em Munique. E nem por acaso, tal como se espera que esta eliminatória seja, só mesmo no fim é que tivemos um vencedor, que naquele caso foi a Olimpia (por apenas dois pontos). Nos jogos seguintes, a equipa de Itália aproveitou sempre muito bem a vantagem do fator casa, sendo que foi preciso chegarmos à nona semana para eles perderem um jogo em Milão.

De maneira geral o primeiro terço de época para o Olimpia foi bom e estava-se a ver que as aquisições feitas na janela de transferências do verão estavam a dar resultado. Nas 11 primeiras semanas, a equipa de Milão encontrava-se com um recorde de sete vitórias e quatro derrotas e via-se esperança que este pudesse ser finalmente o ano em que voltavam a jogar na Euroliga após a temporada regular. Mas depois veio uma série de seis jogos que fez que o plantel tivesse de moderar as expectativas para o que aqui vinha. Nas seis semanas seguintes tiveram apenas duas vitórias para quatro derrotas.

Não era de esperar que uma equipa que conta com a experiência de Sergio Rodríguez, que já teve de enfrentar todas as situações na Euroliga devido ao seu vasto currículo, fosse continuar numa fase negativa por muito tempo. E foi isso, a Olimpia desta série menos boa, que foi a pior que tiveram durante os 34 jogos da temporada regular, seguiu-se para sua maior série vitoriosa. Foram um total de seis vitórias seguidas, incluindo uma contra o próprio Bayern e outras duas contra equipas de nível de playoff: uma contra o Valencia e outra contra o Zenit.

O clube da Itália seguia numa ótima fase (oito vitórias e uma derrota), até que Malcolm Delaney teve de fazer uma artroscopia no seu joelho esquerdo (procedimento cirúrgico pouco invasivo), que serviu para limpá-lo de possivelmente resíduos de antigos procedimentos cirúrgicos mais invasivos. Esta lesão fez Delaney ter de parar cerca de um mês e fez com que a Olimpia descesse um bocadinho na classificação. O jogador ainda regressou no último jogo e ajudou a garantir que Milão ficasse com o fator casa nesta fase dos playoffs.

Como o time está em sua liga doméstica: A Olimpia na liga italiana, apesar de estar em segundo lugar a disputar o primeiro, com a Brindisi e com a Virtus Bolonha, não está na melhor fase nesta competição. Ganhou apenas dois dos últimos cinco jogos e houve aí no meio uma série de três jogos consecutivos em que a equipa de Milão perdeu. Essas três derrotas correspondem ao mesmo número de derrotas que a equipa tinha sofrido nos outros 21 jogos no campeonato de Itália. É preciso destacar também aqui o desfalque de Delaney, que regressou recentemente a ação e, para além disso, já têm o acesso aos playoffs garantido. De certeza que a Olimpia quer se manter em disputar o primeiro lugar, enquanto se mantém na Euroliga, pois é bastante importante conseguirem o fator casa em todas as eliminatórias dos playoffs, num campeonato tão equilibrado como o italiano.

Destaques do time: O espanhol Sergio Rodríguez, de 34 anos, continua a atuar num bom nível na sua 11ª época na Euroliga. Já conta no currículo com duas vencidas, um prémio de MVP nesta competição, uma presença na melhor equipa, outra na segunda melhor e mais uma lista infindável de prémios ganhos nas competições italianas, espanholas, russas. A experiência deste veterano vai para além das competições europeias e já passou cinco anos na NBA. E esta experiência pode ser bastante importante numa série de jogos que se avizinham bem equilibrados e decidida em pequenos pormenores. Apesar de Rodríguez estar com uma média inferior a dez pontos por jogo pela primeira vez desde a temporada 2012-13, não se deixem enganar. A qualidade ainda está lá. Não é por acaso que está a ter a melhor época em termos de eficácia em lançamentos de dois pontos, com 63,2%, sendo a sua segunda e terceira melhor marcas de 57,2% e 51%, ou seja uma diferença bem significante. Para além disso, ainda está com a sua terceira melhor marca de lances livres na carreira, com 92,3% de eficácia, e tem ainda 4,7 assistências por jogo, que correspondem ao décimo lugar nesta edição da Euroliga. Agora que isto será a valer, acreditem que “El Chacho” vai ainda elevar mais o seu jogo e dar tudo para manter esta caminhada da Olimpia viva.

MUNICH, GERMANY – OCTOBER 02: Shavon Shields #31 of AX Armani Exchange Milan in action during the 2020/2021 Turkish Airlines EuroLeague Regular Season match between FC Bayern Munich and AX Armani Exchange Milan at Audi Dome on October 02, 2020 in Munich, Germany. (Photo by Christina Pahnke/Euroleague Basketball via Getty Images)

Shavon Shields (com a bola na foto acima) está a ser uma boa surpresa para a equipa de Milão. Shields, na sua terceira época na Euroliga, deu um passo em frente no seu jogo e está com médias de 13,5 pontos por jogo, 57,2% de eficácia em lançamentos de dois pontos e uns extraordinários 44,9% de lançamentos de três pontos concretizados. Estas três médias são todas máximos de carreira e fazem ainda com que ele seja o melhor marcador da Olimpia até agora nesta edição. Para além disso, tem 15 de média no PIR (Performance Index Rating) que faz com que ele esteja no top 25 da competição. Encontra-se, no entanto, no top 25 de mais umas quantas estatísticas: lançamentos de campo marcados, percentagem de três pontos, pontos, lançamentos de dois pontos marcados e roubos de bola. Shields é assim um jogador muito importante para o sucesso da Olimpia este ano e, se o Bayern quiser eliminar a equipa de Milão, terá de conseguir limitar Shields. Caso contrário, a tarefa será ainda mais complicada.

Fator de desequilíbrio: Um dos pontos que poderia colocar aqui neste parágrafo seria a falta de hábito que a equipa tem nestas andanças. Mas com a experiência que a Olimpia tem no plantel e na equipa técnica (o lendário treinador Ettore Messina coleciona quatro títulos da competição), isso não deverá ser fator, especialmente quando vemos que o opositor deles será o Bayern, que estará pela primeira vez nos playoffs da Euroliga. Então, acredito que o fator de desequilíbrio da Olimpia Milão poderá ser as faltas cometidas. Sim, a Olimpia tem um plantel bem completo e profundo, mas praticam uma defesa muito boa e muito agressiva, usando praticamente só defesa homem-a-homem. Esta conjunção de tipo de defesa com agressividade já costuma resultar em algumas faltas cometidas e, aliado a isto, temos uma Olimpia que costuma usar um quinteto de “pequenos”, visto que o ala-pivô Kyle Hines não chega aos dois metros e Zach LeDay, da mesma posição, pouco passa essa marca. Estes dois jogadores vão ter de enfrentar Jalen Reynolds, Vladimir Lučić, Paul Zipser, James Gist, Leon Radošević e Jajuan Johnson, todos jogadores mais altos que a dupla italiana. Esta diferença de altura poderá criar problemas com faltas e, por isso, menos minutos dos jogadores da Olimpia.

Ponto forte e ponto fraco da equipe: O tiro de três pontos é, sem dúvida, a maior arma da equipa italiana. A Olimpia foi a segunda melhor equipa na temporada regular nesta categoria (apenas atrás do Žalgiris Kaunas, que não se classificou para esta fase). O vasto plantel de Milão tem vários bons lançadores, que jogam nas mais variadas posições. Por exemplo o extremo Luigi Datome tem a segunda melhor percentagem de três pontos, com 53%, e o poste dos italianos, LeDay, é o sexto nesta estatística, com uma eficácia de 49,1% de triplo.

Já a defesa interior será um dos pontos fracos que o Bayern poderá tirar proveito da armada italiana. Como já foi dito antes, enquanto a Olimpia costuma ter jogadores interiores mais pequenos, o Bayern tem, por outro lado, um dos quintetos mais altos da liga. Milão apresentou dificuldades em defender jogadores mais altos e pesados, enquanto o Bayern domina as áreas interiores do garrafão.

01 April 2021, Bavaria, Munich: Basketball: Euroleague, FC Bayern München – Zalgiris Kaunas, Main Round, Matchday 33 at Audi Dome. Jalen Reynolds (l) from Bayern in a duel against Martinas Geben from Zalgiris. Photo: Tobias Hase/dpa (Photo by Tobias Hase/picture alliance via Getty Images)

Como foi a temporada do Bayern: O Bayern foi a quinta melhor equipa da Europa. As coisas até começaram mal, com uma derrota frente a Milão, em um jogo onde o Bayern acabou por sofrer com o tiro exterior, mas onde Jalen Reynolds mostrou logo o que viria a ser a sua temporada: domínio na luta das tabelas. Este Reynolds, forte e dominante, foi uma das constantes da temporada até ao momento, sempre um dos pontos fortes da equipa germânica. O Bayern sempre foi mostrando sua qualidade desde cedo. A derrota para o Real Madrid na sexta rodada foi pesada, mas serviu para o técnico Andrea Trinchieri melhorar alguns pontos no jogo dos alemães. Sua equipa teve uma evolução extraordinária, foi sempre jogando bem e em todas as derrotas, apenas duas vezes perderam por dez ou mais pontos. Isto demonstra bem como a equipa conseguiu sempre discutir e mostrar o seu jogo. Falando do Bayern, falamos de uma equipa que na época passada ficou na 17ª posição, uma equipa que cresceu e melhorou muito nesta temporada com a chegada do técnico italiano. Passaram de ser a segunda equipe com menos pontos marcados em 2019-20 para ser a quarta equipe que menos pontos sofreu. Isto tudo depois de ver Mathias Lessort sair para o Mónaco, Daniel Barthel para o Fenerbahçe, entre outros. Chegaram jogadores que se revelaram nucleares, como Reynolds ou James Gist. Mas a chegada mais importante foi a de Trinchieri.

Como o time está em sua liga doméstica: Internamente a campanha dos germânicos não tem sido tão forte assim. Isto porque Ludwisgburg e ALBA Berlim têm feito duas campanhas quase imaculadas, duas equipes que só perderam por cinco e duas vezes, respetivamente. Duas equipes que voltam a lutar com o Bayern pelo título. No ano passado o Bayern venceu a fase regular e depois acabou caindo perante o Ludwisgburg nos playoffs. Esta época, com uma campanha europeia, nas competições nacionais a rotação e a juventude de alguns elementos acabam por fazer a diferença, porque, apesar de tudo, o campeonato alemão é forte. Curiosamente, tal como na Euroliga, o Bayern perdeu na primeira jornada na liga alemã, mas depois esteve até à sétima jornada sem perder. Nas sete derrotas sofridas, apenas duas foram contra equipes do “Top 5” (ALBA e Crailsheim). Todas as outras foram com equipes teoricamente mais acessíveis e que a rotação do Bayern não conseguiu vencer, mostrando as tais dificuldades e lacunas que existem na equipa germânica.

Destaques do time: Dentro dos grandes destaques, sem dúvida que Reynolds (com a bola na foto acima) é alguém que deve ser muito destacado. O pivô estadunidense ajudou a que a equipa alemã melhorasse no jogo interior. Prova disso é que ele foi o quinto melhor reboteiro da Euroliga em média por jogo (5,9) e o terceiro em rebotes totais (200) e por isso se tornou assim um dos pontos de referência na equipe germânica. É preciso destacar ainda Paul Zipser e Wade Baldwin IV, dois jogadores com pesos diferentes na equipe, mas que assumiram papeis de grande destaque. Por fim, o grande destaque do Bayern é sem dúvida a força coletiva da equipe, o fator determinante deste grupo. Não falamos de uma equipa cheia de estrelas. Baldwin é apenas o nono jogador com maior média de pontos por jogo nesta Euroliga (15,2) e só mesmo Reynolds consegue entrar no “Top 5” dos reboteiros. Por tudo isto se percebe como a equipe esta assente no coletivo e na força do grupo e não em nenhuma estrela.

MUNICH, GERMANY – APRIL 01: Vladimir Lucic #11 of FC Bayern Munich celebrates during the 2020/2021 Turkish Airlines EuroLeague Regular Season Round 33 match between FC Bayern Munich and Zalgiris Kaunas at Audi Dome on April 01, 2021 in Munich, Germany. (Photo by Christina Pahnke/Euroleague Basketball via Getty Images)

Mas, se fôssemos obrigados escolher um jogador para chamar de a estrela do time, se houvesse, este alguém com certeza seria o ala sérvio Vladimir Lučić (foto acima). O jogador sumiu um pouco do radar durante o segundo turno pois uma lesão no final do primeiro o fez cair um pouco de rendimento, em relação à sua fantástica performance durante os primeiros 12 jogos da temporada. Outras individualidades dentro do time, como Baldwin e Reynolds, cresceram muito na segunda metade, o que fez Lučić deixar de ser considerado na corrida pelo prêmio de MVP. Mas isso não ofuscou em nada a melhor temporada da carreira do jogador, que liderou o Bayern em média de PIR por jogo, com 17,7, a oitava maior média da Euroliga. Além de ser fundamental para a equipe em quase todos os fundamentos, uma das características de seu jogo que talvez passa mais despercebida é a sua capacidade de chamar faltas (um dos fatores que mais eleva o cálculo do PIR). Lučić terminou a temporada com a quarta maior média de faltas sofridas por jogo, com 4,88. Aliando isso aos seus 85,8% de aproveitamento na linha do lance livre, o atleta se torna uma das armas mais letais do basquete europeu, um verdadeiro “all-rounder“. Ele já é uma das peças mais cobiçadas do mercado de verão europeu.

Fator de desequilíbrio: Como falámos no ponto anterior, o Bayern é uma equipe coletiva. Tem em Reynolds o grande destaque no jogo interior, um jogador que garante superioridade na luta das tabelas e do garrafão. Depois, Baldwin se assume como o jogador que mais joga e faz jogar, é o jogador com mais pontos na equipa na Euroliga e ainda um dos jogadores com mais assistências na competição (134), uma média de 3,94 por jogo. Falamos de um jogador com muito peso na equipa, na construção e criação no jogo dos germânicos. Depois, jogadores como D.J. Seeley e Paul Zipser podem sempre mexer com o jogo, saltando do banco ou entrando de início. São jogadores que sempre desequilibram e sempre alteram o rumo da partida.

Ponto forte e ponto fraco da equipe: Falar dos pontos fortes desta equipe é frisar a evolução e a força do jogo interior destes germânicos. A equipe de Trinchieri se tornou uma das melhores da Europa, mesmo tendo sido uma equipe que na época passada consentia em média 81,6 pontos por jogo aos adversários. Nesta época, os adversários apenas têm 77,3 pontos por jogo, uma evolução grande que torna evidente a melhoria da equipe desde que Trinchieri chegou. O ponto negativo será sem dúvida a menor rotação desta equipa. Se o trabalho é ótimo e de realçar, falamos de uma equipe cuja rotação já se mostrou incapaz de lidar com alguns problemas, que já mostrou até alguma inexperiência e por isso mesmo o ponto fraco acaba sendo essa falta de mais opções no banco para ajudar Trinchieri.

Palpites da nossa equipe

Rafael Bittelbrunn: Olimpia 3 a 2. Série muito equilibrada, decidida nos detalhes, mas com a Olimpia levando vantagem na experiência da equipe, incluindo o técnico Ettore Messina.

Vinícius Matosinhos: Aposto em um 3 a 2 para a Olimpia Milão. A classificação inédita do Bayern o dará um gás a mais, fazendo com a série fique bem parelha. Mas acredito que o time de Ettore Messina tenha uma superioridade coletiva, que será o diferencial de desempate.

Artur José Freitas: Olimpia 3 a 2. Como disse no início do texto, o fator casa é bem importante neste tipo de séries equilibradas. Para além disso, acredito que a Olimpia tem o melhor plantel, o mais experiente e tem uma equipa técnica que está habituada também a ganhar estes jogos. Ao somarmos isto ao facto de Milão vir mais confiante por causa das duas vitórias na temporada regular, acredito que a Olimpia é a favorita e que vai chegar ao Final Four.

José Andrade: Para esta série, eu falo em um 3 a 0 para a Olimpia. Acho que o Bayern vai vender caro cada derrota, vai dar muita luta, mas a Olimpia vai vencer por 3 a 0.

Thiéres Rabelo: Sem dúvidas, a série mais equilibrada e imprevisível destes playoffs. Meu palpite mesmo seria um empate! Sem muita certeza, eu acredito que o atleticismo do Bayern poderá fazer uma grande diferença e levar o time à vitória na série, por talvez 3 a 2. Porém, é inegável que o time da Olimpia é, no geral, mais talentoso e mais profundo. O favoritismo é dos italianos, sim. Mas o meu palpite vai para esta surpresa alemã.

By Tabela de Ferro

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