A semana está agitada nos bastidores do basquete europeu. Segundo reportagens, autoridades da FIBA, da E.C.A. (EuroLeague Commercial Assets, a empresa que organiza a Euroliga e a EuroCup) e até mesmo da NBA vêm tendo reuniões ao longo desta semana para tentar chegar a uma solução para a unificação do basquete europeu.

Primeiro, os representantes dos 13 clubes acionistas da E.C.A. se reuniram na última segunda e terça-feira (18 e 19/10) na cidade de Barcelona, na Espanha. Segundo noticiou o jornal espanhol “Mundo Deportivo”, os encontros evidenciaram uma grande divisão entre os clubes, com uma parte deles aparentemente satisfeita com a forma que a empresa está sendo administrada, enquanto a outra parte anseia por mudanças radicais na gestão.

Segundo a publicação, o grupo dos clubes insatisfeitos, que inclui gigantes como Maccabi Tel Aviv, Panathinaikos e Olympiacos, estaria disposto até mesmo a retornar para a tutela da FIBA (leia mais sobre o conflito entre E.C.A. e FIBA na parte final deste artigo). O grande motivo desse descontentamento, que já vem se arrastando há alguns anos, são os retornos financeiros baixos que a Euroliga atualmente dá aos clubes, na opinião dos mesmos. Os 13 acionistas estão sob contrato com a E.C.A. até 2026 e qualquer um deles que desejar sair desse contrato, para ir disputar a Basketball Champions League da FIBA, por exemplo, deverá pagar uma multa no valor de € 10 milhões.

Já nesta quinta-feira (21), duas notícias caíram como uma bomba no basquete europeu. Primeiro, o jornal espanhol “MARCA” noticiou que a FIBA e NBA estariam negociando para tentar a criação de uma “NBA Europa”, semelhante à recém-criada “NBA África”, ou BAL (Basketball Africa League). A publicação espanhola diz que essas negociações estão indo por um bom caminho e que a criação de tal liga aconteceria em um “futuro iminente”.

Porém, também nesta quinta-feira, o site Eurohoops, maior referência no noticiário sobre basquete europeu, apurou que FIBA, NBA e a E.C.A. estariam trabalhando juntas em busca de uma unificação para o basquete europeu. De acordo com a matéria do site, a FIBA estaria disposta a “fazer as pazes” com a E.C.A., buscando encontrar um meio termo entre os interesses das duas instituições, além de incluir, é claro, a NBA no processo.

Contudo, diferentemente da matéria publicada pelo MARCA, as fontes do site Eurohoops afirmam que não há a intenção de criar uma liga nos moldes da BAL, a liga africana da NBA. Tudo o que a matéria diz é que o secretário-geral da FIBA, o grego Andréas Zagklís, quer acabar com o conflito que existe entre a federação e a E.C.A. desde o ano 2000, quando a empresa foi criada e rompeu com a FIBA.

Em um dos trechos da matéria do Eurohoops, uma fonte do site dentro da FIBA teria dito o seguinte: “A FIBA confirma que, após um convite do presidente e CEO da EuroLeague Basketball (Jordi Bertomeu), mas também dos acionistas da E.C.A., uma reunião foi realizada em meados de setembro para discutir a unificação do basquete europeu. Por ser um fator-chave no desenvolvimento do basquete e dado que ela é uma parceira de longa data da FIBA, a NBA também foi convidada e participou da reunião. Ao fim da discussão, todas as partes concordaram em reunir-se nos meses que virão”.

Um pouco de contexto

Para o amigo leitor que talvez não conheça, aqui vai um pouco da história de todo esse conflito que existe entre a E.C.A. e a FIBA. A Euroliga, a mais importante competição de clubes do basquete europeu, é hoje organizada pela E.C.A., como já mencionamos. Porém, nem sempre foi assim.

A competição foi fundada em dezembro de 1957 pela FIBA, com o nome de Copa dos Campeões Europeus. Ela permaneceu sendo organizada e promovida unicamente pela FIBA até o ano de 2000. Naquele ano, alguns clubes decidiram criar uma liga independente, desligada da FIBA. Como a federação não tinha tornado a marca “Euroliga” oficialmente sua, esses clubes conseguiram pegar para si o nome. Assim, a partir da temporada 2000-01, a empresa E.C.A. criou a “nova Euroliga”, gerida pelos próprios clubes.

Nem todos os grandes clubes aderiram à nova liga imediatamente. Times como Panathinaikos, Maccabi, CSKA Moscou, Efes e Partizan Belgrado preferiram ficar com a FIBA, enquanto outros como Real Madrid, Barcelona, Olympiacos, Virtus Bolonha e Žalgiris Kaunas migraram para a nova liga. Assim, a temporada 2000-01 teve duas competições européias de primeiro nível: a Euroliga, da E.C.A., e uma competição da FIBA que levou o nome de SuproLeague. Naquele ano, portanto, houve dois campeões europeus – a Virtus Bolonha, da Euroliga, e o Maccabi, da SuproLeague (foto abaixo).

Porém, a FIBA desistiu de ter sua própria competição para concorrer com a Euroliga no primeiro momento e a SuproLeague deixou de existir a partir da temporada 2001-02. Todos os grandes clubes concordaram em fazer parte da nova Euroliga. Mas começava ali o período de conflitos entre a FIBA e a E.C.A. A federação tentou emplacar algumas competições próprias pouco depois, como a FIBA EuroChallenge e FIBA EuroCup Challenge, mas elas duraram pouco. A hegemonia da Euroliga apenas crescia.

Em 2013, uma trégua foi alcançada entre as duas instituições. Assim, a Copa Intercontinental da FIBA, a que define o clube campeão mundial, voltou a ser disputada, com a presença do campeão da Euroliga como representante europeu. Foi justamente nessa época que os campeões europeus vieram até o Brasil para desafiar o campeão da antiga Liga das Américas (LDA), no triênio de 2013 a 2015. Mas essa trégua durou muito pouco.

Em 2015, a E.C.A. deu início ao seu plano de tornar a Euroliga uma competição fechada, similar à NBA e muito parecida com o conceito da recente “Super Liga Européia” do futebol europeu, que foi lançada no início deste ano, mas foi fortemente rejeitada pelas torcidas. A empresa passou a usar o sistema de licenças a longo prazo, fazendo com que os então 11 clubes acionistas tivessem “cadeira cativa” na competição todos os anos, independente de seus desempenhos nas ligas domésticas.

A FIBA não concordou com a nova mentalidade da E.C.A. e, imediatamente, lançou uma nova competição própria, a FIBA Europe Cup, na temporada 2015-16. O campeão desta liga seria o representante europeu no Intercontinental. Então, na temporada 2016-17, a FIBA inaugurou sua grande competição, a Basketball Champions League (BCL), que é hoje o carro-chefe da instituição.

A BCL é considerada hoje a terceira liga mais importante do basquete europeu de clubes, atrás da Euroliga e da EuroCup. Apesar de ser a terceira, ela já está chegando ao ponto de ser mais atrativa para muitos clubes do que a própria EuroCup, principalmente por possuir premiações maiores e um nível técnico mais baixo, o que faz a conquista de seu título ser “menos difícil” que o da EuroCup. A Europe Cup continuou existindo e ela é hoje considerada a quarta mais importante nessa hierarquia.

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