Após uma turbulenta (e longa) temporada regular, e a decisão de realização de uma fase final em formato modificado, a Liga Francesa (LNB Pro A) encerrou a temporada 2020-21 com um Final Four na cidade de Rouen. As equipes classificadas vieram de uma breve fase de quartas-de-final, em jogo único, sem surpresas, realizando semifinais e final na sede da Normandia. O ASVEL levou o título (20º da equipe) ao bater o Dijon, que chegou a uma final de campeonato francês pela primeira vez em sua história.
SF 1 – Dijon 79 x 68 Monaco
Na primeira semifinal disputada em Rouen, na quinta-feira (24), o Dijon surpreendeu o Monaco e venceu por 79 a 68, alcançando a final pela primeira vez na sua história. A equipe dominou o jogo e não deixou os atuais campeões da EuroCup passarem na frente do placar em nenhum momento, batendo a equipe do Principado em todas as estatísticas. Aliás, o Monaco provou do próprio veneno, ao encontrar uma equipe com uma defesa muito forte e que conseguiu equilibrar a batalha dos rebotes, especialmente os ofensivos. Muito disso foi em função da ausência de Mathias Lessort e Ibrahima Fall Faye, com as seleções da França e Senegal, respectivamente. Pelo Dijon, o armador Axel Julien foi novamente o destaque.
A partida começou com o Dijon bem mais agressivo no ataque, e mais focado na defesa, enquanto o Monaco parecia desligado. O belga Hans Vanwijn briga por todos os rebotes ofensivos, enquanto Axel Julien começa a matar algumas bolas, colocando a vantagem do Dijon em 19 a 4 na metade do quarto. Apenas Marcos Knight consegue algo pelo Monaco, que não consegue encontrar o seu melhor jogo, tendo um aproveitamento de quadra muito baixo. O Dijon não tira o pé do acelerador e consegue abrir 19 pontos de vantagem (27 a 8), atropelando o Monaco e dando uma aula de defesa. Na abertura do segundo quarto, perdendo por 15 pontos, o Monaco ajusta a defesa e consegue uma corrida de 7 a 0, com Rob Gray tentando entrar na partida. O Dijon só consegue pontuar após mais de três minutos jogados, com uma bola tripla de Alexandre Chassang, colocando a vantagem em 11 pontos. A partir daí, as duas equipes erram bastante e ficam cerca de dois minutos sem anotar uma cesta de quadra, até que Gray acerta novamente para o Monaco. Mas a equipe não está inspirada e sofre para reduzir a diferença, apesar de uma defesa bem mais forte. A diferença volta para os 13 pontos, mas Dee Bost acerta duas bolas triplas e reduz a desvantagem para “apenas” sete na parada para o intervalo, contendo o Dijon a apenas 13 pontos no quarto.
Na abertura do segundo tempo, Julien já conecta uma bola do perímetro e coloca a diferença novamente em dois dígitos. Ele e J.J. O’Brien trocam algumas cestas até que, após jogada de David Holston, a diferença vai para 14 pontos na metade do intervalo. O Dijon volta a controlar a partida, conseguindo rebotes e roubos de bola importantes, sem deixar a equipe do Monaco encostar. A dupla Gray-Knight não acerta nada do perímetro e comete muitos desperdícios de bola, sem lembrar em nada os jogadores decisivos que foram ao longo da temporada. Mesmo com Abdoulaye Ndoye tentando trazer a equipe para o jogo, a diferença ainda é de dois dígitos ao final do terceiro quarto. O quarto decisivo tem participação importante do austríaco-esloveno Rašid Mahalbašić, principalmente com rebotes e assistências, ajudando a equipe do Monaco a reduzir a diferença para três pontos na metade do período, após uma corrida de 11 a 3. O Dijon sente o momento decisivo, mas o Monaco não consegue aproveitar o bastante para passar a frente no placar, chegando a ficar novamente três pontos atrás com pouco mais de dois minutos por jogar. Porém, o Dijon toma melhores decisões e consegue fazer 10 a 2 nos momentos finais, vencendo a partida e acabando com as possibilidades do Monaco vencer o seu primeiro campeonato francês.
Grande partida de Hans Vanwijn, com 16 pontos, dez rebotes, três assistências, um toco e 23 de valoração, apoiado por Axel Julien, com 22 pontos (5 de 8 do perímetro), três rebotes, duas assistências, um toco, um roubo e 22 de valoração. Pelo Monaco, ótima partida de Rašid Mahalbašić, com oito pontos, 14 rebotes, dez assistências, um roubo e 28 de valoração, ao contrário da dupla Rob Gray e Marcos Knight (nove pontos cada), que erraram todas as dez bolas triplas que tentaram em conjunto.
SF 2 – ASVEL 83 x 67 Strasbourg
Na segunda semifinal, também realizada na quinta-feira (24), o ASVEL passou sem dificuldades pelo Strasbourg, por 83 a 67. Mesmo sem contar com Moustapha Fall (assinou com o Olympiacos) e Thomas Heurtel (machucado e com a seleção francesa, além de já ter assinado com o Real Madrid), os atuais campeões tiveram o retorno de Amine Noua e dominaram de ponta a ponta. O Strasbourg contou com o retorno de Brandon Jefferson, porém não foi o bastante para conduzir a equipe à vitória. O grande diferencial da partida foi o volume muito maior de oportunidades de lances livres do ASVEL, o qual arremessou 35 vezes contra apenas 13 do Strasbourg, além do melhor aproveitamento (83% versus 62%).
A partida começou com certo equilíbrio, com o Strasbourg escolhendo bem os arremessos e rodando bem a bola. O ASVEL buscava mais a bola tripla, mas também tentava atacar a cesta, gerando algumas faltas. Pouco a pouco o time de Lyon vai assumindo o controle do jogo, apertando mais a defesa e conseguindo abrir nove pontos de vantagem (19 a 10). O Strasbourg comete muitos turnovers (oito no período) e tem um aproveitamento muito baixo dos dois pontos (30%), sem nenhum dos seus cestinhas (Brandon Jefferson e Bonzie Colson, MVP da temporada) conseguindo se destacar. O ASVEL tem boas participações de Antoine Diot e Amine Noua e fecha o quarto vencendo por 21 a 12. No segundo quarto, o jogo cai bastante tecnicamente, levando quase três minutos para uma equipe marcar uma cesta de quadra. O Strasbourg continua cometendo muitos erros e, principalmente, faltas, colocando o ASVEL muitas vezes na linha do lance livre. A diferença fica girando nos dez pontos, com Ismael Bako começando a aparecer com força dentro do garrafão, sem uma resposta do Strasbourg. Quando o jogador vai para o banco, David Lighty assume o protagonismo do ASVEL e mantém a liderança da equipe, que vai para o intervalo vencendo por 12 pontos (43 a 31).
Na volta do intervalo, os ventos mudam de lado e o Strasbourg melhora na partida. Apesar de Bako continuar forte no garrafão, o ASVEL comete muitos erros no período, forçados pela melhor defesa do Strasbourg. Além disso, as bolas triplas começam a cair para a equipe da Alsácia, com Jefferson trazendo a desvantagem para apenas quatro pontos, com pouco menos de quatro minutos por jogar. Porém o ASVEL, após parada do técnico TJ Parker, faz os ajustes necessários, principalmente na defesa, e não permite mais o Strasbourg pontuar. A equipe faz uma sequência de 14 a 2 nos minutos finais, sendo que dez pontos vieram de lances livres (em 12 arremessados). Com isso, as equipes vão para o último quarto com uma diferença de 16 pontos, e controle do ASVEL. Logo na abertura, uma ponte aérea de Diot para Bako coloca a vantagem em 18 pontos, e o Strasbourg sem uma solução para marcar essa jogada dentro do garrafão. E a confiança do ASVEL também está alta, com Diot matando uma bola tripla logo após ter arremessado um “air ball” do perímetro, colocando a vantagem em 20 pontos e obrigando o técnico finlandês Lassi Tuovi a parar o jogo. Mas estava muito difícil para o Strasbourg, que não acertava mais nada e os jogadores demonstrando muita frustração. A vantagem chega aos 27 pontos e o Strasbourg ainda anota os últimos 11 pontos da partida, mas tarde demais para uma reação, com o ASVEL chegando a mais uma final da liga francesa.
Além do elevado número de lances livres para o ASVEL, vale mencionar o grande número de desperdícios de bola das duas equipes, com 21 para o Strasbourg e 18 para o ASVEL, além das 46 faltas cometidas pelas duas equipes, mostrando como o jogo foi truncado e não tão bom tecnicamente. O grande destaque individual do ASVEL ficou com Ismael Bako, com 18 pontos (8 de 9 dos arremessos), 12 rebotes, uma assistência, um roubo e 29 de valoração, acompanhado por Antoine Diot, com 16 pontos (4 de 7 do perímetro), um rebote, sete assistências e um roubo. No Strasbourg, partidas discretas de Bonzie Colson, com 13 pontos (5 de 14 dos arremessos) e quatro rebotes, e Brandon Jefferson, com 12 pontos e três turnovers.
Final – Dijon 74 x 87 ASVEL
Na grande final realizada no sábado (26), o ASVEL bateu o Dijon por 87 a 74 e conquistou o bicampeonato da LNB Pro A, a Liga Francesa de basquete. A equipe havia vencido o campeonato de 2018-19, o último finalizado, já que a edição de 2019-20 foi cancelada em função da Covid-19. O Dijon tentava mais um feito inédito, após ter terminado em primeiro lugar na fase regular e também ter avançado para a final, ambos pela primeira vez em sua história.
O jogo começou equilibrado, com trocas na liderança e nenhuma das equipes conseguindo abrir vantagem. As defesas conseguiam superar os ataques, com os aproveitamentos de quadra baixos e o ASVEL, assim como na semifinal, aproveitando os lances livres. O destaque do Dijon nas duas partidas anteriores, Axel Julien, não conseguia jogar e tentava mais infiltrações do que bolas do perímetro, porém sem sucesso. Porém, Jacques Alingué fazia uma boa partida, com alto aproveitamento dentro do garrafão, enquanto David Lighty comanda o ASVEL, que termina o primeiro quarto liderando por apenas um ponto. No segundo quarto, o Dijon volta com tudo e logo faz 8 a 0, colocando sete de vantagem no placar. Mas o ASVEL é uma equipe com jogadores qualificados e experientes, não demorando muito para retomar a liderança. A questão é que a equipe faz uma corrida incrível de 19 a 2 e coloca dez pontos de vantagem, melhorando muito o aproveitamento de quadra, além de pressionar demais na defesa. Além disso, David Lighty “pega fogo” no final do período, deixando a equipe com 11 de vantagem no intervalo.
No terceiro quarto, o Dijon volta disposto a explorar o garrafão, tendo algum sucesso com o belga Hans Vanwijn, porém o ASVEL começa a matar bolas do perímetro, com Antoine Diot e Norris Cole. Com isso, a diferença vai se mantendo nos dígitos duplos, sem que o Dijon consiga encostar mais. Além da boa partida do ASVEL e melhora considerável no seu aproveitamento de quadra, o Dijon vai muito mal nos lances livres, fazendo com que a diferença chegue aos 18 pontos no final do quarto. No último período, o Dijon volta com tudo, conseguindo baixar a diferença para dez pontos, tendo Vanwijn e Alingué como protagonistas. Porém, a bola do perímetro do ASVEL vai mantendo o controle para a equipe, com Diot e Paul Lacombe sendo importantes desafogos para a equipe. O Dijon ainda tenta pressionar mais a defesa, mas os atuais campeões têm a tranquilidade para manter o controle da partida, bem liderados por Cole e Lighty, fechando o jogo e conquistando o 20º título da história do clube.
O grande destaque individual ficou com David Lighty, eleito o MVP da Final, com 21 pontos, quatro rebotes, cinco assistências, um roubo e 23 de valoração, bem acompanhado por Norris Cole, com 20 pontos, dois rebotes, quatro assistências, um toco e um roubo, além de Paul Lacombe (16 pontos e oito rebotes) e Antoine Diot (14 pontos, seis rebotes e seis assistências). No vice-campeão Dijon, destaque para Hans Vanwijn, com 19 pontos, sete rebotes, uma assistência e um roubo.