Se você já acompanhava basquete em 2011, neste caso a NBA, deve se recordar que a temporada da liga americana, que costuma iniciar no mês de outubro, começou apenas em dezembro, já na rodada de Natal. O atraso se deu por conta de um impasse trabalhista entre proprietários das franquias e os jogadores, o chamado locaute. Neste contexto, o basquete europeu entrou em cena por conta das dezenas de atletas que, devidamente autorizados, rumaram ao Velho Continente para não ficarem um longo período sem jogar profissionalmente.

Com amistosos cancelados, a temporada sem previsão de início, e os jogadores sem sequer poderem utilizar a estrutura de seus clubes, a alternativa foi buscar outros mercados, sendo uma opção de cada atleta, visto que estavam aptos a negociarem novos contratos. O primeiro grande nome a fechar com um clube da Europa foi Deron Williams, armador então duas vezes All-Star e campeão olímpico com a seleção americana em Pequim 2008. Ainda em julho de 2011, pouco mais de um mês após o início do locaute, o jogador acertou vínculo de um ano com o Beşiktaş, da Turquia.

A partir daí, foram muitos os jogadores que aceitaram ir para a Europa. Ou voltar a ela, como o francês Tony Parker, o russo Andrei Kirilenko, o espanhol Rudy Fernandez e o italiano Danilo Gallinari fizeram ao retornar aos seus países, por exemplo. Assim que houve acordo para o fim do locaute e a temporada da NBA esteve prestes a começar, a maioria dos atletas retornou aos Estados Unidos. Alguns, porém, deixando sua marca.

50 pontos e camisa aposentada

Talvez o caso mais emblemático de um jogador atuando na Europa durante o locaute foi mesmo Deron Williams. O armador nunca havia atuado no Velho Continente, e tampouco tinha relação com algum clube. Porém, a curta passagem pelo Beşiktaş foi histórica, a ponto de lhe render uma bela homenagem.

Foram 12 jogos oficiais de Williams com a camisa 8 do Beşiktaş. Em sete partidas pela liga turca, sendo seis vitórias, teve média de 19.7 pontos. Pouco antes, sua equipe havia sido eliminada na fase classificatória da EuroCup, indo disputar a EuroChallenge, terceira competição do basquete europeu na época. Nos três confrontos que participou, o americano deu show. Depois de 20 pontos na estreia, foram 31 no segundo. No último, o espetáculo: 50 pontos diante do Göttingen, da Alemanha – 10-13 para dois pontos e sete bolas triplas em 10 tentativas.

Ainda que a passagem tenha sido relâmpago, pois Deron Williams retornou aos Estados Unidos no fim de novembro, o Beşiktaş homenageou o astro americano. Em cerimônia realizada no dia 29 de novembro de 2011 (há exatos 10 anos), em Istambul, o clube turco aposentou a camisa 8, eternizada por seu ídolo precoce.

O quase título de AK47

Um dos poucos jogadores a não retornar aos Estados Unidos com o fim do locaute foi Andrei Kirilenko. Ao voltar para o CSKA Moscou, 10 anos depois de sair para atuar pelo Utah Jazz, o astro russo cumpriu a temporada 2011-12 até o fim com o objetivo de ser campeão da Euroliga. Bateu na trave. Individualmente, acumulou prêmios: melhor defensor da liga, líder em rebotes (média de 7.5), time ideal da Euroliga e MVP da temporada regular – acumulou 14.1 pontos por partida de média. O jogador foi crucial para levar sua equipe à decisão da Euroliga, mas viu o sonho escapar ao ser derrotado por 62 a 61 para o Olympiacos, em um dos jogos com final mais emocionante da história do torneio. Como “consolação”, AK47 foi campeão da Liga VTB com o CSKA, além de ser MVP da temporada e do Final Four.

Pequenas amostras na Euroliga

Alguns jogadores conhecidos mundialmente tiveram passagens rápidas pela Euroliga durante o locaute da NBA. Curiosamente, o grupo C daquela edição do torneio europeu reuniu alguns bons desempenhos deste período, antes do retorno dos jogadores aos Estados Unidos. Com a camisa da Olimpia Milão, Danilo Gallinari atuou por sete jogos, com médias de 16.4 pontos e 4.4 rebotes. Já Rudy Fernandez, vestindo pela primeira vez a camisa do Real Madrid – voltaria já em 2012, para nunca mais sair –, esteve oito vezes em quadra, anotando 11.5 pontos de média. Outro rival neste grupo foi Ersan Ilyasova, em sua breve passagem pelo Anadolu Efes. Em oito partidas, acumulou médias de 9.5 pontos e 5.5 rebotes.

Já em outro grupo, o suíço Thabo Sefolosha teve bons momentos pelo Fenerbahçe. Em sete jogos, suas médias foram de 11.4 pontos, 6 rebotes e ainda 2.1 roubos de bola. Outro nome importante atuou pela pior equipe da temporada regular da Euroliga. O ala-armador Danny Green, que anos depois seria três vezes campeão da NBA, vestiu a camisa do Union Olimpija, em sua única passagem pela Europa. Em sete partidas, 11.4 pontos de média, com 23 na única vitória do time esloveno no grupo D – perdeu nove vezes. Em amostras menores é possível citar jogadores como Serge Ibaka (seis jogos pelo Real Madrid), Zaza Pachulia (quatro jogos pelo Galatasaray) e Goran Dragic (dois jogos pelo Baskonia).

Craque francês em “seu time”, e brasileiro de volta à Espanha

Outros casos que podem ser destacados durante o locaute são de Tony Parker e Tiago Splitter, então companheiros de San Antonio Spurs, onde viriam a ser campeões juntos em 2014. O francês teve rápida passagem pelo ASVEL, clube que havia comprado uma porcentagem em 2009 – atualmente ele é proprietário e presidente do clube –, recebendo somente o salário mínimo da liga francesa. Na EuroCup, atuou em apenas uma partida, mas anotando 34 pontos, além de cinco rebotes e cinco assistências, para 40 de PIR, sendo eleito o MVP da semana.

Já o brasileiro vinha de sua primeira temporada na NBA, após 10 anos na Espanha, quase sempre com a camisa do Baskonia. O destino foi o mesmo país, porém atuando pelo Valencia. A experiência durou menos de um mês, visto que havia assinado no fim de novembro e retornou aos Estados Unidos em dezembro. Na EuroCup, Splitter atuou em três jogos, com médias de 14 pontos e 7.7 rebotes. Ironicamente, Valencia e ASVEL, de Tony Parker, estavam no mesmo grupo no torneio, mas os companheiros de Spurs não chegaram a se enfrentar.

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