Na semana passada a Virtus Bolonha, segunda maior campeã italiana, se consagrou a grande campeã do “scudetto” desta temporada, derrotando a grande rival Olimpia Milão. As “Vu Nere” voltam a conquistar o título nacional após 20 temporadas de jejum e 14 temporadas após ter jogado sua última final. Aqui em nosso blog, conseguimos cobrir pontualmente a primeira e a segunda partidas da série, que aconteceram em Milão. Porém, devido à falta de tempo, não conseguimos cobrir, no dia em que aconteceram, a terceira e a quarta. Hoje, trazemos para vocês um breve resumo das mesmas, caso não tenham podido acompanhar.
Contexto
A final da Serie A é disputada em série melhor de sete jogos desde a temporada 2007-08, com o time que teve melhor campanha durante a temporada regular tendo a vantagem de mando de quadra. Tal time joga os dois primeiros jogos em casa, com os dois jogos seguintes passando para a casa do time de pior campanha. Caso sejam necessários os outros três jogos, eles são alternados, com um jogo (o sexto) com mando para o time de pior campanha e dois (o quinto e o sétimo) com mando para o time de melhor campanha.
Como mencionamos no parágrafo anterior, mesmo tendo a vantagem de jogar em Milão, a Olimpia foi dominada pela Virtus e perdeu ambas as partida. O terceiro melhor time da Europa partiu para Bolonha para tentar um verdadeiro milagre contra sua maior rival histórica. Se vencesse pelo menos um jogo, conseguiria trazer a série de volta para Milão, para um quinto jogo.
Jogo 3 – Virtus Bolonha 76 x 58 Olimpia Milão
Quarta-feira, 09/06 – Bolonha, Emília-Romanha
Se o basquete jogado pela Olimpia nos dois primeiros jogos não foi dos melhores e o desgaste físico já se mostrava claro, as coisas ficaram ainda mais difíceis para os milaneses na terceira partida, pois jogaram desfalcados de duas peças fundamentais: Zach Leday (rodízio de estrangeiros) e Malcolm Delaney (contusão muscular). Mas, pelo menos de início, isso não impediu os visitantes de incomodarem e tomarem a iniciativa. A Olimpia chegou a estar liderando nos minutos finais do primeiro quarto e foi somente na última bola do período inicial que os alvinegros retomaram a liderança.
Mas a Virtus abriu o segundo período com uma parcial de 11 a 0 e conseguiu se colocar à frente por 12 pontos (28 a 16). A Olimpia, contudo, batalhou e conseguiu mais tarde uma parcial de 12 a 0 que lhe deu a vantagem novamente, com o placar mostrando 31 a 30 para os milaneses. Os donos da casa levaram para o intervalo uma pequena vantagem, de apenas 37 a 34.
A história do terceiro quarto foi muito semelhante à do segundo, pois a Virtus novamente tomou a iniciativa a conseguiu se colocar à frente por dez pontos, contando com uma atuação inspirada de Kyle Weems (oito pontos só no período). Mas, do outro lado, a Olimpia contou com um ainda mais inspirado Luigi Datome, que anotou 12 dos 18 pontos da equipe no quarto e a ajudou a chegar ao empate nos segundos finais.
O jogo chegou ao último período completamente aberto, empatado em 52 a 52. Mas brilhariam aqui as jovens estrelas da Virtus, Alessandro Pajola e Awudu Abass, que com uma disposição defensiva enorme e combinando para 12 pontos no ataque, ajudaram a causar um “apagão” na Olimpia no último período. A defesa virtussina foi implacável e limitou a Olimpia a apenas quatro pontos em seis minutos jogados, podendo criar uma parcial de 16 a 4, colocando-se assim 12 pontos à frente (68 a 56), com quatro minutos por jogar. Mesmo jogando poucos minutos no último quarto, Miloš Teodosić ainda pôde ser decisivo, matando uma bola de três crucial já perto dos dois minutos finais, que deu 13 de vantagem para a Virtus e praticamente liquidou o jogo.
Weems foi o grande destaque ofensivo da Virtus na partida, terminando o jogo como cestinha, com 23 pontos, além de dez rebotes, que lhe deram 26 de valoração. Apenas Teodosić (12 pontos e seis assistências) e Pajola (dez pontos e seis rebotes) também pontuaram em duplos-dígitos. Pela Olimpia, Shavon Shields e Datome tiveram 14 pontos cada e Kevin Punter teve 11, mas todos os outros jogadores do time milanês tiveram oito pontos ou menos.
Melhores momentos:
Jogo 4 – Virtus Bolonha 73 x 62 Olimpia Milão
Sexta-feira, 11/06 – Bolonha, Emília-Romanha
A esta altura, o clima era de que somente um desastre tiraria o título da Virtus. Mas, aquela que pode ser considerada a segunda partida mais importante do clube na temporada não começou tão bem para os donos da casa. Foram os “Sapatinhos Vermelhos” quem tomaram a iniciativa e passaram perto de abrir dez de frente. Mas a Virtus reagiu e conseguiu diminuir a vantagem dos milaneses, que venceram o primeiro quarto por apenas 24 a 19.
As “Vu Nere” continuaram lutando e chegaram a virar o jogo no segundo quarto, mas Shavon Shields e Luigi Datome estavam determinados a entregar tudo para evitar a eliminação da Olimpia. A dupla combinou para mais da metade (22) dos pontos da equipe de Milão no primeiro tempo e ajudaram o time visitante a ir para o intervalo com a vantagem, o que aconteceu apenas pela segunda vez nesta série, com 43 a 41 no placar.
O equilíbrio se manteve durante o terceiro quarto, com as duas defesas fazendo um trabalho excelente, o que resultou no baixo placar final de 14 a 8 para a Virtus no período. A dificuldade defensiva no período foi grande que ambos os ataques combinaram para o pífio aproveitamento de 22,2% dos arremessos de quadra. Mas foram os donos da casa quem erraram menos e, assim, eles puderam criar e manter, nos minutos finais, uma vantagem de quatro pontos, confirmada após uma bola de três bonita de Miloš Teodosić nos segundos finais.
No último quarto, ainda que a superioridade física da Virtus estivesse evidente, a Olimpia não se entregou e, pelo menos nos primeiros minutos, chegou a cortar seu déficit para dois pontos novamente, instantes após a Virtus ter aberto sete de frente. Mas o fator físico acabou se tornando um obstáculo intransponível para a Olimpia, cujos atletas já não tinham pernas para acompanhar a movimentação de bola e os contra-ataques fulminantes da Virtus. Assim, pouco a pouco a vantagem bolonhesa foi crescendo, até que se tornou irreversível.
Marco Belinelli foi o cestinha da Virtus na partida, terminando com 15 pontos (quatro acertos em dez tentativas de três). Kyle Weems o seguiu com 14, enquanto Teodosić teve dez pontos e seis assistências. Do outro lado, Shields liderou a Olimpia com 16 pontos e dez rebotes, que lhe deram 28 de valoração, a maior marca do jogo. Kevin Punter teve 11 pontos, enquanto Kyle Hines e Datome tiveram dez pontos cada. Zach LeDay voltou ao time, mas, muito marcado, teve apenas dois pontos, enquanto pegou cinco rebotes.
Melhores momentos:
Teodosić é eleito MVP das finais
O sérvio Miloš Teodosić, grande estrela da equipe bolonhesa, foi eleito o MVP das finais. Em toda a campanha dos playoffs, ele foi o principal jogador do time, mantendo médias de 17,4 pontos e seis assistências por jogo, ainda com aproveitamentos de 52,9% dos arremessos de dois pontos e de 45,4% da linha de três, jogando uma média de 25 minutos por jogo. Isso lhe deu uma média de valoração de 19,6 por jogo. Nesta temporada, ele ainda havia sido eleito o MVP da temporada regular da EuroCup, prêmio que havia sido dele também na temporada passada.
Campanha histórica nos playoffs
A Virtus conseguiu o feito histórico de ser campeã com uma campanha invicta nos playoffs, tendo vencido todos os dez jogos, sendo apenas o segundo clube a conseguir tal feito. Desde que a final da Serie A passou para o formato melhor de sete jogos, somente a histórica Mens Sana Siena conseguiu o feito, nas temporadas 2008-09 e 2009-10.
A bonita festa dos torcedores virtussini toma as ruas de Bolonha
O torcedor vistussino não se conteve e invadiu a quadra ali mesmo, ao fim da partida, para comemorar o 16º “scudetto” da história do clube:
Mas a festa não ficou só ali. Considerada a capital italiana do basquete, por ter dois dos maiores clubes do país e, por conseqüência, duas das torcidas mais fanáticas do esporte no país, a porção alvinegra da cidade tomou as ruas da Rossa. Aqui, os torcedores da Virtus comemoram na Piazza Maggiore, no centro da cidade:
A maior vitória do “projeto Zanetti” até aqui
Este “scudetto” se torna a maior conquista da Virtus desde que o empresário italiano Massimo Zanetti comprou o clube. Proprietário de uma empresa de bebidas, cujo produto mais conhecido globalmente é a marca de café Segafredo, Zanetti comprou o clube durante a temporada 2016-17, quando o time ainda se encontrava na segunda divisão italiana, após o primeiro rebaixamento de sua história. Ele reergueu o clube e já o havia ajudado a conquistar o título da Basketball Champions League da FIBA da temporada 2018-19.
Nesta temporada, a Virtus teve o segundo maior orçamento do basquete italiano e esteve a uma vitória de se classificar diretamente para a Euroliga, mas ficou pelo caminho na semifinal da EuroCup. Para a temporada que vem, ainda existe a possibilidade de o clube receber o último convite para a maior competição européia, mas as chances maiores, acredita-se, são de que esse convite vá para o Zenit São Petersburgo (RUS). Se isso se confirmar, a Virtus voltará a disputar a EuroCup na temporada que vem.
Djordjević: de demitido a campeão na mesma temporada e a indefinição sobre seu futuro
A montagem deste time da Virtus começou há pelo menos três anos, mas algumas de suas peças principais chegaram em 2019. Mais notadamente, Teodosić, que aceitou a proposta do clube, mesmo este estando fora da Euroliga. A super-estrela sérvia foi direto da NBA para Bolonha e foi um dos grandes sinais para todo o basquete europeu de que a Virtus estava pronta para voltar ao protagonismo. Mas o que teria convencido um dos grandes jogadores da história recente do basquete europeu a recusar ofertas de times da Euroliga? Um dos fatores pode ter sido outra contratação que o time fez, cerca de três meses antes: a do técnico sérvio Sasha Djordjević.
O renomado treinador assumiu a equipe em março de 2019, após o time fazer uma campanha irregular com o treinador Stefano Sacripanti na Serie A. Ele não conseguiu salvar a campanha doméstica, com o time ficando de fora dos playoffs naquele ano, mas, em compensação, conduziu o clube ao título da Basketball Champions League da FIBA. Na temporada seguinte, já contando com Teodosić e com Stefan Marković, a Virtus subiu ainda mais de nível e liderava a Serie A com folga, quando a temporada foi cancelada por causa da pandemia da COVID-19. Na EuroCup, o clube também tinha uma das melhores campanhas, ao lado do Partizan Belgrado, e era um dos favoritos ao título, já tendo se classificado para as quartas-de-final quando do cancelamento.
Porém, nesta temporada, Djordjević enfrentou sua primeira crise à frente do time. Com um início irregular na Serie A (apesar de uma campanha invicta na EuroCup), o treinador foi demitido após uma derrota na 10ª rodada para a Dinamo Sassari, em casa. Porém, a revolta com essa decisão foi tão grande, seja entre os torcedores e até entre os próprios jogadores, que menos de 24 horas depois a diretoria da Virtus voltou atrás e o trouxe de volta ao cargo. Marković foi um dos atletas que mais explicitamente criticou a demissão e acredita-se que ele dificilmente teria continuado no time, caso ela não tivesse sido mudada.
Agora, mesmo com a conquista irretocável, não há certeza se haverá continuidade do casamento entre Djordjević e Virtus. No início dos playoffs da Serie A, rumores indicavam que, independente do resultado final, o técnico pretendia deixar o clube ao fim da temporada. Agora, a conversa já é outra. Em entrevista logo após o título, na sexta, ele declarou: “na semana que vem me encontrarei com a diretoria para falar sobre meu futuro com calma, mas acredito que seja evidente o resultado extraordinário que obtivemos, todos juntos”.