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Ficha técnica
Nome: Alphonso Gene Ford;
País: Estados Unidos🇺🇸;
Nascimento: 31/10/1971;
Falecimento: 04/09/2004
Posição: ala-armador;
Carreira: de 1993 a 2004;
Principais Títulos: campeão da Copa da Grécia (2002);
Honras: 2x cestinha da Euroliga (2001 e 2002), 2x eleito para o melhor quinteto da Euroliga (2001 e 2003), eleito para o segundo melhor quinteto da Euroliga (2002), MVP do campeonato grego (2001), MVP da Copa da Grécia (2002), 4x cestinha do campeonato grego (1997, 1999, 2000 e 2001), camisa #9 aposentada pelo Papágou (GRE) e camisa #10 aposentada pelo Peristeri (GRE).
Lenda do basquete europeu e nome de um dos prêmios de maior prestígio no basquete europeu, o ala-armador Alphonso Ford completaria 50 anos em 2021. Todos os anos, a Euroliga premia o jogador com a maior média de pontos durante a temporada regular. Criado na temporada 1991-92, o importante troféu leva consigo um nome desde 2004-05: Alphonso Ford, falecido antes do início daquela temporada. Premiado duas vezes como maior cestinha da competição, em 2001 e 2002, ele completaria 50 anos neste domingo (31/10/2021).
Primeiros passos e reinado na faculdade
Americano nascido em Greenwood, cidade com população pouco superior a 15 mil pessoas, no estado de Mississipi, Alphonso Gane Ford chamava a atenção com a bola laranja desde cedo em sua região. Após se destacar no high school em Amanda Elzy, no local onde cresceu, Ford partiu para a Universidade de Mississipi Valley State, para defender o Delta Devils. Nos quatro anos de faculdade, de 1989 a 1993, Ford fez história. Logo em sua primeira temporada, liderou a pontuação de calouros de toda NCAA, com 29.9 pontos de média. No ano seguinte, essa estatística aumentou para incríveis 32.7 pontos. Comprovando sua carreira lendária no basquete universitário, o jogador tornou-se o primeiro a ter média de 25 pontos em quatro temporadas seguidas. Em pontuação geral, Alphonso Ford chegou a 3.165, alcançando, na época, o quarto lugar no ranking geral – em 2019, foi ultrapassado por Chris Clemons, da Universidade de Campbell.
Passagem rápida pela NBA
Ao encerrar sua passagem pelo college, Alphonso Ford participou do Draft da NBA de 1993, que teve Chris Webber como primeira escolha geral, além de nomes famosos como Penny Hardaway e Sam Cassell. Escolhido na 32ª posição pelo Philadelphia 76ers, Ford havia alcançado seu objetivo de chegar à liga americana, mas teve vida curta. Antes mesmo de estrear, foi cortado pelos Sixers e acabou por jogar um período na CBA (Continental Basketball Association), uma liga de basquete profissional alternativa que existiu nos Estados Unidos até 2009. Em quadra, atuando pelo Tri-City Chinook, time do estado de Washington, Ford seguiu mostrando seu valor como artilheiro, tendo 22.8 pontos de média. Além disso, foi eleito calouro do ano da liga, esteve no time ideal da temporada e participou do All-Star Game.
Com essas credenciais, Ford finalmente teve sua chance na NBA, ainda na temporada 1993-94, com a camisa do Seattle SuperSonics – hoje Oklahoma City Thunder. Porém, os minutos foram escassos, e, consequentemente, sua pontuação limitada, com apenas 2.7 de média em seis partidas. Na temporada seguinte, quase o mesmo script: voltou à CBA, para atuar pela mesma equipe, tendo 24 pontos de média, e disputando novamente o Jogo das Estrelas, e foi outra vez chamado para a NBA. Agora, o destino era a Filadélfia, na franquia que o havia draftado quase dois anos antes. No entanto, o roteiro de pouco espaço se repetiu. Ainda que tenha tido muito mais minutos em relação à passagem por Seattle, foram poucas noites. Apenas cinco jogos. Um deles, curiosamente, contra o Chicago Bulls, em uma das primeiras partidas de Michael Jordan desde o retorno de sua primeira aposentadoria do basquete. Neste confronto, Alphonso Ford teve sua melhor atuação, com oito pontos, cinco rebotes e três assistências em 38 minutos. Em meados de 1995, porém, era a hora de deixar a NBA de lado e mirar outros horizontes.
O começo na Europa e a descoberta da doença
O primeiro destino de Al Ford no Velho Continente foi a Espanha, mais precisamente em Huesca. Por lá, começou a reviver seus tempos de NCAA, onde tinha a pontuação como marca registrada. Ao ajudar sua equipe a permanecer na elite do basquete espanhol, o jogador nunca teve menos de duplos dígitos de pontos, terminando a temporada com média acima de 25 por jogo. Devido à sua situação econômica, o Huesca teve de encerrar o vínculo com a empresa que dava nome ao clube. Com isso, Ford migrou para a Grécia, para atuar pelo Papagou. Por lá, conseguiu seu primeiro prêmio de cestinha da liga grega, com 24.6 pontos de média – seria o anotador máximo mais três vezes, de 1999 a 2001.
Ao encerrar a temporada, em meados de 1997, Al Ford descobriu a doença que levaria sua vida anos depois: a leucemia. Inicialmente, o jogador não permaneceu no Papagou, com quem teria mais um ano de contrato, para dedicar-se ao tratamento da enfermidade. Ficou sem atuar em 1997-98, mas retornando na temporada seguinte, aparentemente melhor de saúde. Ainda na Grécia, voltou a jogar com as cores do Sporting, de Atenas. Outra vez cestinha da liga, aceitou o convite do Peristeri. Em sua primeira temporada, levou a equipe às semifinais do campeonato grego, conquistando vaga para a Euroliga do ano seguinte, onde faria sua estreia.
Artilharia pesada na Euroliga
Alphonso Ford tornou-se sinônimo de pontuação na Euroliga. Foram três temporadas disputando a maior competição de clubes do Velho Continente, sendo o cestinha em duas delas. Ao todo, disputou 54 partidas, e em nenhuma delas saiu de quadra marcando menos de dois dígitos. No total foram 1.200 pontos, sendo o jogador com a melhor média até hoje (22.2). Na sua temporada de estreia, pelo Peristeri, teve média de 26 pontos, mas sendo eliminado nas oitavas de final para o Baskonia, mesmo anotando 41 pontos em um dos jogos. Até 2019, a pontuação era a maior em uma partida de Euroliga moderna (de 2000-01 em diante), junto com outros três jogadores – até Shane Larkin anotar 49 em um jogo do Anadolu Efes, em 2019.
Em 2001, havia chegado o momento de Al Ford vestir a camisa de um dos grandes do basquete europeu, no caso, o Olympiacos. Na Euroliga, a média de 24.8 pontos lhe deu o segundo troféu de cestinha do torneio, ainda que sua equipe tenha ficado pelo caminho antes do Final Four. Em território grego, o jogador foi campeão da Copa da Grécia, seu único título coletivo, além de levar o prêmio de MVP. Após isso, foi a vez de mudar de ares, e Ford rumou à Itália para defender a Montepaschi Siena. Em seu último ato na Euroliga, ajudou a levar o clube italiano ao Final Four, sendo derrotado na semifinal por três pontos para a Treviso (65-62), ficando com o terceiro lugar ao vencer o CSKA Moscou por 79-78 – com 19 pontos de Ford.
A temporada final, a morte e o legado
A temporada 2003-04 foi a “última dança” de Al Ford no basquete. Visivelmente debilitado pela leucemia, quase tirava forças de onde não havia para seguir brilhando dentro de quadra. Ainda na Itália, mas vestindo as cores da Pêsaro, Ford teve média de 22.2 pontos na liga italiana, classificando sua equipe para os playoffs em quarto lugar. Após passar a primeira eliminatória, porém, acabou eliminado por seu ex-time, a Montepaschi, na semifinal. Mesmo assim, o clube garantiu vaga para disputar a Euroliga seguinte. O jogador também conseguiu levar a Pêsaro à final da Coppa Itália, mas perdendo para a Treviso.
Ao fim daquela temporada, em meados de 2004, necessitando de cuidados para tratar a doença, Ford anunciou sua aposentadoria. Em Memphis, Tennessee, onde realizava tratamento, faleceu no dia 4 de setembro, a pouco menos de dois meses de completar 33 anos. A Europa perdia um dos melhores jogadores que por lá havia atuado, e o mundo inteiro perdia um grande exemplo de superação. Do sonho frustrado da NBA ao estrelato no basquete europeu, Alphonso Ford, definitivamente, escreveu seu nome na história do esporte.
Logo após a morte do lendário jogador, a Euroliga decidiu nomear o prêmio de cestinha da temporada com o nome de Alphonso Ford, vencedor de dois troféus. Coincidentemente ou não, o primeiro vencedor da premiação com a nova nomenclatura foi Charles Smith, ala-armador contratado pela Pêsaro exatamente para substituir Ford. Em 2016, Alphonso Ford Jr., um dos três filhos do ex-atleta, foi o responsável por entregar o prêmio ao vencedor daquela edição, Nando De Colo, do CSKA Moscou. Por essas e por outras, Al Ford, que estaria a completar 50 anos, será sempre lembrado pelos amantes da bola laranja no Velho Continente.
Alguns de seus melhores lances na Euroliga
Alguns de seus melhores lances na passagem pelo Olympiacos
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