Este texto integra o formato de cobertura das ligas domésticas do Tabela de Ferro. A coluna “Vamos Tratar de Basquete” tem nome alusivo à sigla “VTB”, que nomeia a liga de basquete composta por times russos e países próximos. O foco da coluna não será necessariamente a Liga VTB.

Novos integrantes e nova fórmula de disputa

A Liga VTB teve início há cerca de um mês, com as primeiras partidas disputadas no dia 2 de outubro. Assim como na temporada passada, a disputa começa com 12 equipes. Vale lembrar que, em fevereiro de 2022, logo após a invasão da Rússia à Ucrânia, duas equipes se retiraram do torneio para não mais voltarem: Zielona Gora, da Polônia, e Kalev/Cramo, da Estônia. A temporada 2021/2022 seguiu com apenas 10 times e consagrou o Zenit São Petersburgo campeão pela primeira vez.

Para a atual época, a liga conta com dois novos integrantes, ambos russos: MBA Moscou e Samara. O primeiro é um clube fundado em 2013 e que conta apenas com jogadores russos. O elenco, aliás, conta com muitos jovens – 10 atletas têm 24 anos ou menos. O segundo é um clube com mais história, criado em 1976. Outras duas equipes, também da Rússia, demonstraram interesse em ingressar na liga (Ural Ecaterimburgo e Runa Moscou), mas não preencheram os requisitos necessários.

Desta forma, 12 equipes competem no torneio, sendo 10 da Rússia (Avtodor Saratov, CSKA Moscou, Enisey, Lokomotiv Kuban Krasnodar, MBA Moscou, Nizhny Novgorod, Parma, Samara, UNICS Kazan e Zenit São Petersburgo), um do Cazaquistão (Astana) e um de Belarus (Tsmoki Minsk). O formato do campeonato foi modificado nesta temporada para preencher mais o calendário dos clubes, visto que nenhum deles disputa as competições continentais pela punição imposta devido à guerra.

Antes, a Liga VTB era disputada em turno e returno, todos contra todos, e playoffs logo em seguida. O sistema de dois turnos se mantém, mas agora há uma segunda fase, que antecede os playoffs. Após 22 rodadas, os seis melhores classificados formarão o Grupo A, enquanto os seis piores farão o Grupo B. As equipes jogarão mais duas vezes entre si dentro dos respectivos grupos para definir a ordem dos oito classificados aos playoffs, isto é, os seis já pertencentes do Grupo A, e os dois melhores do Grupo B. Na fase final, as quartas serão jogadas em séries melhor de cinco, enquanto semis e a decisão serão em melhor de sete.

Neste momento, foram disputadas sete rodadas do torneio. Dois times estão com 100% de aproveitamento: CSKA e UNICS. Da equipe de Moscou sai o destaque da temporada até agora. O pivô Nikola Milutinov, um remanescente, foi eleito o MVP do mês de outubro. Em seis jogos, o sérvio acumulou médias de 13.5 pontos e 7.7 rebotes, para 24.8 de PIR. No primeiro jogo de novembro, na reedição da última final contra o Zenit, o gigante anotou um duplo-duplo de 22 pontos e 10 rebotes na vitória da sua equipe por 85-80.

Saídas, chegadas e polêmicas

Sem o atrativo de competições européias, ou mesmo por princípios envolvendo a guerra, os times russos viram grandes estrelas deixaram o país, com pouco poder para substituir à altura. O principal exemplo é do atual campeão Zenit. Nomes como Jordan Loyd, Billy Baron e Jordan Mickey, MVP da última final, partiram para clubes que disputam a Euroliga. Em contrapartida, conseguiu levar o armador Thomas Heurtel e o ala-pivô Trey Thompkins para São Petersburgo. Os dois eram companheiros na temporada passada no Real Madrid. No comando da equipe, permanece Xavi Pascual.

O CSKA, maior campeão do país, já tinha tido a debandada de atletas ainda com a época passada em andamento. Dos grandes jogadores que haviam permanecido, Will Clyburn foi o último a ir embora na offseason, de malas para o Anadolu Efes. Como citado anteriormente, Nikola Milutinov é um dos remanescentes. O pivô ficou em Moscou e segue cumprindo seu contrato, mesmo para disputar somente a Liga VTB. De reforços, o CSKA levou o armador Dallas Moore, o ala Dejan Davidovac e o ala-pivô Livio Jean-Charles, além de um novo técnico, o macedônio Emil Rajković.

Já o UNICS, que viveu bons momentos na última temporada, também teve muitas baixas no verão europeu. Lorenzo Brown, OJ Mayo, John Brown e o astro Mario Hezonja deixaram Kazan. De chegadas, o armador Daryl Macon, os pivôs Jalen Reynolds e Vince Hunter, todos americanos, além do ala-pivô francês Louis Labeyrie. Ainda sobre jogadores que desembarcaram na Rússia, destaque para o Samara, recém-chegado à Liga VTB. O clube atraiu nomes conhecidos, tais como KC Rivers, Marcos Knight, Malcolm Thomas e James Ennis, esse com vasta experiência na NBA.

Ainda que os clubes russos tenham conseguido contratar alguns bons jogadores, mesmo que em menor número, o peso do conflito do país com a Ucrânia muitas vezes vêm à tona. Um exemplo aconteceu nesta semana, quando Jean-Pierre Siutat, presidente da Federação Francesa de Basquete, disse em entrevista ao jornal L’Équipe que Thomas Heurtel está fora da seleção por ter se juntado com um time russo, no caso o Zenit. Os também franceses Livio Jean-Charles e Louis Labeyrie foram igualmente citados, embora em situação diferente do armador.

Outro ponto levantado em meio a este contexto é o econômico. Com a guerra e a exclusão dos grandes torneios do continente, os clubes tiveram orçamento reduzido. Em recente entrevista ao Mozzart Sport, o presidente do CSKA, Andrey Vatunin, falou sobre a realidade da equipe da capital, e afirmou que “o papel do CSKA no basquete mundial está em declínio“. O mandatário lembrou que a instituição segue participando de assembleias dos acionistas da Euroliga, embora tenha perdido a licença desde o meio da temporada passada.

Vatunin também destacou que “mais cedo ou mais tarde os clubes russos voltarão a jogar na Europa”, o que é verdade. Porém, enquanto o conflito com os ucranianos persistir, é difícil prever quando será possível rever CSKA e demais equipes na disputa pelos títulos europeus. Desta forma, resta a eles a Liga VTB, de bom nível técnico com quem ainda permanece, mas definitivamente enfraquecida perto do que podia ser em um cenário normal, sem guerra.

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