Este texto faz parte da série de dez textos dedicada a contar um pouco da história e de como estão estruturadas as principais ligas do basquete europeu hoje. Clique aqui para ler os outros textos desta série.

Liga Grega de Basquete (GBL, do inglês “Greek Basket League”)🇬🇷

1. Informações gerais

Organizado por: HEBA, sigla do inglês para designar a Associação Helênica dos Clubes de Basquete. A HEBA é um órgão designado pela Federação Helênica de Basquete (EOK, como é abreviada no grego). A GBL também é conhecida por muitos simplesmente como HEBA ou HEBA League;
Fundação: 1927, com 78 edições já disputadas;
Número atual de clubes: 13;
Formato atual: após contar com o menor número de participantes desde a temporada 1988-89, com 12 clubes na temporada passada, a HEBA promoveu dois clubes da Série A2, ao invés de somente um, como previsto. O Apóllon Patras foi o grande campeão da segunda divisão e o Olympiacos, que disputou a A2 nas duas últimas temporadas, mas não conseguiu o acesso direto, venceu a repescagem e conseguiu voltar para a elite. Os 13 times se enfrentam em jogos de turno e returno, totalizando 24 partidas na temporada regular. Os oito primeiros colocados ao fim passando para as quartas-de-finais, disputadas em séries melhor de três jogos. Semifinal e final serão ambas disputadas em séries melhor de cinco. O último colocado da temporada regular é rebaixado para a série A2;
Copa nacional: a Copa da Grécia ocorre, normalmente, entre os meses de setembro e fevereiro, com datas espaçadas. Os seis primeiros colocados na tabela do Campeonato Grego do ano anterior ganham classificação automática para a fase de quartas-de-final. A partir daí, todos os outros clubes da primeira, segunda e terceira divisões jogarão duas fases com eliminações em jogos únicos, até que sobrem apenas dois clubes para completar as quartas-de-final e as fases seguintes, todas com eliminação em jogo único.

Clubes atuais

Estes são os 13 clubes que disputam a temporada 2021-22 da GBL.


A.E.K. Atenas
Atenas, Ática

Áris Tessalônica
Tessalônica, Macedônia Central

Ionikós Níkaias
Níkaia, Ática

Iraklís Tessalônica
Tessalônica, Macedônia Central

Kolossós Rodes
Rodes, Rodes

Lárisa
Lárissa, Tessália

Lávrio
Lávrio, Ática
Olympiacos logo
Olympiacós
Pireu, Ática

Panathinaikós
Atenas, Ática

P.A.O.K. Tessalônica
Tessalônica, Macedônia Central

Peristeri
Peristeri, Ática

Promithéas Pátras
Pátras, Grécia Ocidental
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Apóllon Pátras
Pátras, Grécia Ocidental
     

Maiores campeões

Eis a lista com os clubes que mais vezes foram campeões gregos e o número de conquistas:

2. O que a liga representa hoje?

O basquete grego conquistou muito prestígio ao longo das três últimas décadas, pelo excelente desempenho da seleção nacional nas competições internacionais. Porém, o prestígio que a seleção conquistou não se traduz da mesma forma para com a liga grega hoje. Historicamente, a liga grega esteve durante décadas entre as três melhores da Europa, mas vem caindo vertiginosamente nos últimos dez anos.

A GBL é hoje uma liga intermediária no cenário europeu de clubes. Ela está muito aquém de outras grandes ligas, especialmente no aspecto financeiro. Ela possui dois clubes gigantes e multi-milionários com saúde financeira e técnica estável (Panathinaikos e Olympiacos), mas nenhum outro clube sequer chega perto da dupla. E imagine o prejuízo que é a ausência de uma dessas duas forças da primeira divisão nacional… O site especializado Eurohoops faz anualmente um ranking das dez melhores ligas nacionais e as divide em três níveis. No de 2020, a liga grega foi considerada a sétima do rankeamento geral, mas a última dentre as do segundo nível.

O AEK Atenas, campeão da Basketball Champions League em 2018

Atualmente, o campeão grego garante a única vaga destinada ao país na EuroCup, competição de segundo nível na Europa. Vale lembrar que se um entre Panathinaikos e Olympiacos for o campeão ou se ambos chegarem à final, a vaga passa para o próximo melhor colocado, pois a dupla tem vaga automática na Euroliga até 2025. Na EuroCup, porém, nenhum time grego passa perto de ser campeão há mais de uma década. O último time grego a chegar na semifinal da competição foi o Panellinios no longínqüo 2009-10.

O campeonato tem também três vagas na Basketball Champions League da FIBA, competição de terceiro nível na Europa. Dois vão direto para a fase de grupos e um para a fase preliminar. Curiosamente, foi de lá que veio o último título europeu de um clube grego – o AEK Atenas foi o vencedor da temporada 2017-18. Com o título, eles foram os representantes europeus no Mundial de Clubes da FIBA de 2019, vindo até o Brasil e derrotando o Flamengo na final, sagrando-se campeões do mundo. O mesmo AEK alcançou a final da última temporada da BCL e foi vice campeão para o San Pablo Burgos (ESP).

3. História e grandes times

A PRIMEIRA ERA: OS CAMPEONATOS PAN-HELÊNICOS (1927-28 A 1962-63)

A história do campeonato grego é dividida em quatro “eras”. Entre as temporadas de 1927-28 e 1962-63, tínhamos os chamados Campeonatos Pan-Helênicos. Nessas primeiras décadas, cada região fazia seu próprio campeonato distrital e os campeões de cada região se reuniam e faziam um mini-torneio entre si para decidir o campeão nacional.

Panellinios: a primeira grande equipe grega e o time “que poderia ter sido” (1929 a 1957)

Foi durante esse período que surgiu o primeiro grande time do país. O Panellinios, de Atenas, já era um dos clubes esportivos mais antigos da Europa, fundado ainda em 1891. Inclusive, conta-se que o Panathinaikos nasceu quando membros do Panellinios romperam com o clube por este não querer mais manter o departamento de futebol.

O departamento de basquete do clube foi fundado em 1929 e logo de cara já se sagrou campeão do distrito de Atenas e, posteriormente, seria campeão nacional. Este foi apenas o primeiro dos seis títulos nacionais que o time venceria até 1957, tornando-o o maior campeão nacional do período. Nesta primeira era do campeonato nacional, ele não pôde ser disputado por um total de 13 temporadas, por motivos variados, como por exemplo a Segunda Guerra Mundial. Por isso, acredita-se que o Panellinios tenha sido grandemente prejudicado, pois poderia ter vencido ainda mais títulos.

Na década de 1950, o Panellinios também foi o clube grego que mais se destacou internacionalmente. Contando com o “Quinteto de Ouro” de Themis Cholevas, Dinos Papadimas, Mimis Stefanidis, Panos Manias e Aristeidis Roubanis, que era a base da seleção nacional, eles conseguiram vitórias em vários torneios internacionais do período. Vale lembrar que a Euroliga só foi fundada em 1958 e antes disso não existia uma competição européia unificada. Acredita-se que se o “Quinteto de Ouro” tivesse tido a oportunidade de disputar uma competição unificada, eles também teriam vencido títulos, pois eram considerados um dos melhores times da Europa. Campeões gregos de 1957, eles foram o primeiro representante grego na história da Euroliga, mas em um momento em que seu grande time já estava envelhecido e, por isso, não foram longe no torneio.

Desse período, é importante citar também os irmãos Ioannis e Alekos Spanoudakis, atletas do Olympiacos e da seleção grega no fim da década de 1950. Eles participaram de uma clínica de treinamento dada pelo Boston Celtics, da NBA, no país, que contou com as presenças de Bob Cousy e Lou Tsioropoulos. Conta-se que o aprendizado que os irmãos obtiveram na clínica foi uma das grandes causas da modernização e “americanização” do basquete grego pelos anos seguintes.

A SEGUNDA ERA: A CATEGORIA NACIONAL A (1963-64 A 1985-86)

Para a temporada 1963-64 foi criado o primeiro campeonato nacional unificado, chamado “Categoria Nacional A”, perdurando assim até o meio da década de 1980. Foi o momento em que o esporte passou a ser disputado de maneira nacional, basicamente como o é hoje. Nesse período, é possível identificar três grandes clubes que dominaram o cenário nacional.

AEK, o primeiro tetracampeão nacional e campeão europeu, que dominou a década (1962 a 1970)

Quando terminou o período de dominância do Panellinios na década de 1950, a tocha foi passada para o AEK Atenas. Com uma equipe forte, comandada pelo astro  Georgios Amerikanos, o clube de Atenas venceu seu segundo título grego na temporada 1962-63, que foi o primeiro de quatro consecutivos. Ao todo, o time venceria seis títulos entre 1960 e 1970, mais do que qualquer outro clube. Além de Amerikanos, outros grandes nomes daquela equipe foram Christos Zoupas, Georgios Trontzos e Antonis Christeas, este último que fez parte do Panellinios na década de 1950.

Mas o AEK não fazia bonito apenas dentro da Grécia. A equipe se tornou o primeiro time grego na história a alcançar o Final Four da Euroliga, na temporada 1965-66, perdendo na semifinal para os tchecos do Slavia Praga. Mas dois anos mais tarde a “União” (apelido do clube) pôde se vingar do rival tcheco. Na temporada 1967-68, os dois times chegaram à final da extinta Saporta Cup, a competição de segundo nível no basquete europeu de clubes. O AEK bateu a atual campeã Varese (ITA) na semifinal e fez a grande final contra o Slavia Praga em Atenas, no mítico Estádio Panatenaico, palco da abertura das primeiras Olimpíadas modernas. Diante de mais de 80 mil espectadores e outros milhares do lado de fora, o AEK bateu os tchecos por 89 a 82 e tornou-se o primeiro clube grego, de todos os esportes coletivos, a vencer um título europeu (foto acima).

A primeira “dinastia” do Panathinaikos (1971 a 1984)

No início da década de 1970 o Panathinaikos já era o maior campeão grego. Os Verdes haviam vencido de maneira consistente nove títulos, espaçados entre as três décadas anteriores. O time da década de 1940, inclusive, foi a base da seleção grega que conseguiu sua primeira medalha no EuroBasket, com o bronze de 1949. Mas ainda faltava aquele tão característico período de várias conquistas consecutivas e ele veio na década de 1970.

Comandados dentro de quadra pelo ala Apostolos Kontos, o Panathinaikos foi senhor do basquete grego durante aquela década, vencendo inicialmente o primeiro pentacampeonato nacional da história da Grécia (de 1971 a 1975). Foi nesse intervalo também que o time fez sua primeira grande campanha européia, alcançando o Final Four da Euroliga pela primeira vez em sua história, na temporada de 1971-72. Eles caíram diante da maior potência do basquete europeu dos anos 1970, a Varese, mesmo tendo vencido o jogo de volta.

O domínio do Panathinaikos continuou pelos anos seguintes e o clube acabaria por vencer um total de 10 dos 14 campeonatos gregos entre 1971 e 1984. Nesse mesmo intervalo, o Olympiacos conseguiu beliscar dois títulos nacionais, para chegar a um total de quatro, mas o clube de Pireu se destacou mesmo na Copa da Grécia, que nasceu em 1975 e da qual o time venceu quatro dos primeiros cinco títulos. Os outros dois títulos nacionais do período foram vencidos pelo Aris Tessalônica (1979 e 1983), levando o total de conquistas do clube para três. Mas as conquistas foram o presságio da reviravolta que aconteceria no clube.

A “dinastia” do Aris, de Nikos Galis, e a ascensão da seleção grega (1985 a 1991)

A década de 1980 revolucionaria o basquete grego por completo. E sem receio algum, pode-se atribuir essa revolução a um homem: Nikos Galis. Nascido nos EUA de pais gregos que imigraram para lá, Galis cresceu e se formou como jogador ali e estava prestes a entrar na NBA, após passar pelo basquete universitário. Mas o sonho foi interrompido por uma lesão, em 1979, o que o fez considerar as várias ofertas de clubes gregos. Ele escolheu o Aris, então atual campeão grego, e literalmente mudou a história do clube e do esporte no país.

O AEK foi o primeiro time desta segunda era a impressionar, com um tetracampeonato nacional, e foi superado pelo Panathinaikos, que conseguiu um pentacampeonato. O Aris foi ainda mais além. Após o Panathinaikos vencer quatro dos primeiros cinco títulos da década de 1980, o Aris assumiu o controle e iniciou seu império, vencendo incríveis sete títulos gregos consecutivos. E não foi somente isso: o clube também dominou a Copa da Grécia, faturando cinco dos seis títulos no período, quatro consecutivos. No total, entre 1982 e 1992, o Aris levou para Tessalônica oito títulos gregos e seis copas nacionais. Galis era, de longe, o melhor jogador do país, sendo o maior pontuador do campeonato grego durante 11 temporadas consecutivas (1981 a 1991).

O Aris também fez campanhas excepcionais na Euroliga, durante aquele período. Na época em que a competição era composta apenas por campeões nacionais, o Aris pôde se habituar à competição e conseguiu alcançar o Final Four em três temporadas consecutivas (1988 a 1990), mas caiu na semifinal em todas elas. Galis foi o cestinha da Euroliga durante sete temporadas seguidas, entre 1986 a 1992, e também em 1994. As duas últimas já com a camisa do Panathinaikos, onde terminou sua carreira.

A presença de Galis na seleção grega também foi revolucionária. Com a presença do “Gângster”, como era apelidado, a Grécia conseguiu se classificar para a primeira Copa do Mundo de sua história, na edição de 1986. Os gregos não fizeram uma campanha muito boa, terminando apenas em décimo lugar, mas Galis foi o cestinha da competição com 33,7 pontos por jogo de média. Na seleção, ele reproduziu a dupla letal com seu companheiro de Aris, Panagiotis Giannakis.

Mas o ápice veio em 1987, o ano da maior conquista da história do basquete grego. Sediando pela primeira vez na história o EuroBasket, a Grécia não fez uma fase de grupos muito boa, se classificando por muito pouco. Mas, das quartas-de-finais em diante, o time se transformou e com partidas fantásticas de Galis, conseguiu chegar à final, eliminando favoritas como Itália e Iugoslávia. Os gregos enfrentaram a amplamente favorita União Soviética na final e com 40 pontos de Galis, venceram na prorrogação por 103 a 101, diante de 17 mil torcedores em Pireu.

O ouro do EuroBasket de 1987 foi a primeira grande conquista de seleções gregas em qualquer modalidade. O título não apenas fez o basquete explodir em popularidade no país, mas colocou a Grécia no mapa do basquete mundial e foi a grande ignição para que o país se tornasse uma das melhores escolas do mundo nos anos de 1990. Por seus espetáculos dentro de quadra e pelo que eles desencadearam no esporte grego, Galis é indiscutivelmente o maior jogador grego da história. Você pode ler mais sobre ele neste artigo que escrevemos.

TERCEIRA (1986-87 a 1991-92) E QUARTA ERAS (1992-93 até hoje): estrangeiros, profissionalização e o nascimento da HEBA A1

A terceira “era” do campeonato grego foi muito breve (entre as temporadas 1986-87 e 1991-92), mas pode ser considerada uma das mais importantes, pois a liga se estruturou por completo para se tornar profissional. Foi nesse período que criou-se a segunda divisão nacional e que, na temporada 1988-89, os clubes tiveram permissão de ter jogadores estrangeiros pela primeira vez na história.

Na temporada 1992, nasce a HEBA, que passará a administrar e promover o campeonato, dando início à quarta e última “era”, a qual vivemos até hoje. Foi naquele mesmo ano que o passo mais importante foi dado: o basquete grego se tornou completamente profissional. O campeonato da primeira divisão passou a se chamar, oficialmente, HEBA A1, nome que permaneceu até a temporada 2011-12, quando passou a se chamar Greek Basket League (GBL), “Liga Grega de Basquete”, como a conhecemos hoje.

A ascensão do Olympiacos, pentacampeão nacional, e os primeiros títulos da Euroliga da Grécia (1991 a 1997)

A profissionalização do esporte atraiu muito dinheiro para o basquete grego. O empresário local Sokratis Kokkalis, dono do Olympiacos, investiu pesado no início dos ano 1990, recheando a equipe de estrelas, com o pivô sérvio Žarko Paspalj, voltando da NBA, sendo a principal delas. O investimento deu frutos imediatamente, com o clube encerrando um jejum de títulos gregos que durava desde 1978, com o título nacional de 1993. Este foi apenas o primeiro dos cinco títulos consecutivos do clube, um pentacampeonato inédito em sua história.

Os Vermelhos também começaram a experimentar sucesso na Europa, alcançando a final da Euroliga três vezes em quatro anos, tornando-se o primeiro grego da história a chegar na final. Para alcançar as finais de 1994 e 1995, o clube teve o prazer de eliminar nas semifinais o maior rival, Panathinaikos. Porém, os espanhóis Joventut Badalona e Real Madrid, ambos treinados pelo técnico sérvio Željko Obradović, prevaleceram nas duas finais.

O domínio do Olympiacos dentro da Grécia e as boas campanhas na Europa faziam todos imaginar que o título europeu era só questão de tempo. Mas o Panathinaikos tinha outros planos. No verão de 1995, o clube fez a contratação “bombástica” do ala americano Dominique Wilkins, uma lenda da NBA, já com seus 35 anos, por uma única temporada. O jogador foi o cestinha da equipe e a ajudou a alcançar sua primeira final de Euroliga, na temporada 1995-96, onde bateu o Barcelona e sagrou-se o primeiro campeão europeu da Grécia.

Apesar do título europeu, o Panathinaikos não conseguiu acabar com o domínio do Olympiacos dentro da Grécia. Na temporada seguinte ao título do Panathinaikos, o Olympiacos faria uma temporada mágica. Sob a batuta do treinador sérvio  Dušan Ivković, o Olympiacos conquistou a “Tríplice Coroa” na temporada 1996-97: Euroliga, Campeonato Grego e Copa da Grécia. Mais importante ainda para seu torcedor: na fase de quartas-de-final, os Vermelhos varreram e eliminaram o Panathinaikos.

A nova “dinastia” do Panathinaikos, nacional e européia (1998 a 2011)

O título europeu de 1996 foi um grande feito para o Panathinaikos e para o basquete grego. Mas, ao mesmo tempo, perdurava um incômodo jejum de títulos do campeonato grego que chegava a seu 14º ano (o último havia sido em 1984). O dono do clube, Pavlos Giannakopoulos, investiu pesado no clube e trouxe nomes como Dino Rađja e Byron Scott. Mas o maior reforço veio no verão de 1998: o ala iugoslavo Dejan Bodiroga, MVP da Copa do Mundo de 1998 e um dos principais responsáveis pela eliminação dos gregos na semifinal, anotando 31 pontos para a Iugoslávia. Assim, o Panathinaikos pôde quebrar o jejum e vencer dois títulos consecutivos.

Mas o dono do time, Pavlos Giannakopoulos, estava ainda mais ambicioso e fez no verão de 1999 aquela que talvez seja a maior contratação da história do clube: o técnico sérvio Željko Obradović. Três vezes campeão da Euroliga e campeão da Copa do Mundo e do EuroBasket com a Iugoslávia, Obradović já era um dos melhores treinadores da Europa. Mas, com o Panathinaikos, ele pôde formar um dos melhores times da história do basquete.

Logo em sua primeira temporada (1999-00), ele levou o clube a seu segundo título da Euroliga. Em 2002, ele repetiria a dose, mas Bodiroga, a principal estrela do time, deixaria o clube ao fim da temporada. Então, o clube passaria alguns anos se reestruturando e voltaria a ganhar a Europa outras três vezes (2007, 2009 e 2011). Na campanha do título de 2009, o clube eliminou o maior rival, Olympiacos, na semifinal, devolvendo uma das três eliminações em playoffs que o adversário lhe havia imposto na década de 1990.

Ainda mais impressionante que o desempenho na Europa foi o que o Panathinaikos conseguiu fazer na Grécia. Com Obradović, o time venceu outros dois títulos (2000 e 2001), completando um tetracampeonato, interrompido pelo título do AEK em 2002. Mas a partir de 2003, o clube iniciou uma seqüência até hoje recordista de nove títulos gregos consecutivos. Nesse intervalo, foram seis “dobletes” (campeonato e copa) e duas “Tríplices Coroas” (2007 e 2009).

Os novos sucessos da seleção grega

A década de 2000 foi também de muitas glórias para a seleção grega, que teve algumas de suas melhores gerações. Após o título do EuroBasket de 1987, o país ficou com a prata no de 1989 e o subseguiu com várias outras boas campanhas, incluindo três semifinais seguidas. Na Copa do Mundo, a equipe helênica chegou a duas semifinais seguidas (1994 e 1998) e ela também retornou aos Jogos Olímpicos em 1996, pela primeira vez desde 1952.

Mas foi uma nova geração, liderada por jovens como Theo Papaloukas, Dimitris Diamantidis, Ioannis Bourousis e Antonis Fotsis, além de veteranos como Fragiskos Alvertis, que fez mais barulho. A Grécia venceu em 2005 o segundo ouro no EuroBasket em sua história, derrotando a Alemanha de Dirk Nowitzki na final.

Essa geração ainda tinha uma grande conquista pela frente. Na Copa do Mundo de 2006, a Grécia foi a grande surpresa do torneio, derrotando os EUA na semifinal em um jogo espetacular, para chegar à final pela primeira vez em sua história. A Espanha, de Pau Gasol e companhia, foi forte demais para eles na final e ficou com o ouro, mas essa medalha de prata é uma das maiores conquistas da seleção grega.

O bicampeonato europeu do Olympiacos (2012 e 2013)

Após o título do Panathinaikos na Euroliga, o Olympiacos acordou.  Na verdade, já alguns anos antes o clube havia melhorado consideravelmente e montado um time que disputou o título europeu. Em 2009, voltou ao Final Four pela primeira vez desde 1997, caindo para o Panathinaikos na semifinal. Na temporada seguinte, com Papaloukas no time, chegou à final, mas perdeu para o Barcelona de Ricky Rubio e companhia.

Mas foi na temporada 2011-12 que os Vermelhos tiveram o seu melhor momento na história recente. Com a volta do técnico Dušan Ivković, que comandou o time na “Tríplice Coroa” de 1997, o clube evitou um decacampeonato grego do arquirrival, com o título nacional. Mas, ainda mais importante, o clube voltou à final da Euroliga onde derrotou o CSKA Moscou, de Andrei Kirilenko, em uma das viradas mais espetaculares da história do basquete.

Ivković se aposentou logo após o título, mas isso não impediu que aquele time fantástico continuasse a vencer. Trazendo o técnico revelação do campeonato grego, Georgios Bartzokas, a equipe liderada por Vassilis Spanoulis e Georgios Printezis conquistou a Europa de novo na temporada 2012-13, sendo o primeiro bicampeão europeu desde 2005.

Esse time do Olympiacos ainda tinha muita gasolina e conseguiu vencer um bicampeonato grego, em 2015 e 2016, e alcançar outras duas finais da Euroliga, em 2015 e em 2017. Mas, desde então, não mais venceu nenhum título grego, da copa nacional ou da Euroliga.

O declínio europeu e o rebaixamento do Olympiacos (2014 até hoje)

O Panathinaikos voltou a vencer o grego na temporada 2016-17 e venceu todos desde então, mantendo um tetracampeonato atualmente. Mas a verdade é que após o título europeu de 2011 e a saída de Obradović em 2012 o clube entrou em um grande ostracismo e desde então só tem feito campanhas ruins na Europa. O clube também passou por crises políticas, que tiveram até brigas públicas de seu então presidente e a Euroliga. Isso sem falar da crise financeira que perdura até hoje – mas que já começa a dar sinais de estar melhorando.

O Olympiacos, por sua vez, demorou demais para se renovar. Várias peças do time bicampeão europeu permaneceram no clube por tempo demais, envelhecendo a equipe e tornando-a menos competitiva. Algumas delas estão no clube até hoje, sobrevivendo do status e respeito de ídolos que conquistaram. Com Bartzokas de volta este ano e a contratação de várias peças novas, o time parece finalmente ter iniciado seu processo de renovação.

O clube passou as temporadas 2019-20 e 2020-21 na segunda divisão do campeonato nacional. Durante a temporada 2018-19, quando estava prestes a disputar a fase de quartas-de-final contra o Panathinaikos, o clube de Pireu decidiu não jogar a série, como forma de protesto contra a escolha de árbitros para a mesma. Com o w/o na série, o Olympiacos completou quatro partidas de boicote naquela mesma temporada e o regulamento previa que qualquer time que deixasse de jogar três partidas teria todas as suas vitórias anuladas e seria automaticamente rebaixado.

Sem a presença do Olympiacos na primeira divisão e com a disparidade financeira entre o Panathinaikos e os demais clubes menores, a liga grega passou dois anos com um nível de disputa baixíssimo. O Olympiacos não colocou seu time principal para disputar a série A2, usando uma “equipe B”, composta majoritariamente de garotos das categorias de base. Começando a temporada 2019-20 com 6 pontos a menos como punição pelos boicotes do ano anterior, o clube terminou a temporada com um modesto sexto lugar, passando longe da zona de promoção.

O Apóllon Pátras celebra o título da série A2 de 2020-21, ao derrotar o Olympiacos na última rodada por 70 a 63. O time patrense retorna à elite grega após quatro temporadas na segunda divisão.

No ano seguinte, novamente a vaga direta não veio, pois, na última rodada, os Vermelhos perderam o confronto direto para o Apóllon Pátras, que se consagrou o campeão da divisão. Mas, em um “playoff de promoção” constituído pelos times que terminaram entre o segundo e o quinto lugar, o Olympiacos conseguiu se impor no quadrangular final e ficou com a segunda vaga para a primeira divisão.

A volta do Olympiacos à primeira divisão certamente representará uma elevação do nível técnico da HEBA. Da mesma forma, também a reestruturação financeira do Panathinaikos, que está aos poucos recuperando sua saúde financeira. A liga pode enxergar uma melhora, mas, na Europa, é bem provável que se passem alguns anos até que um clube grego se torne competitivo o bastante para ser campeão das duas principais competições.

Este texto é um conteúdo original do EuroLeague Brasil e não deve ser reproduzido em outros sites sem o devido consentimento.

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