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Ficha técnica
Nome: Dejan Bodiroga – ”White Magic
País: Iugoslávia (Sérvia🇷🇸);
Nascimento: 1973;
Posição: ala
Carreira: de 1990 a 2007;
Principais Títulos: 3x campeão da Euroliga (2000, 2002 e 2003), 2x campeão do Campeonato Espanhol (2003 e 2004), campeão da Copa da Itália (1996), campeão do Campeonato Italiano (1996), campeão do FIBA Saporta Cup (1996), 3x campeão do Campeonato Grego (1999, 2000 e 2001), campeão da Copa da Espanha (2003), campeão da SuperCopa da Espanha (2004), medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta (1996), 3x medalha de ouro do EuroBasket (1995, 1997 e 2001), 2x campeão da Copa do Mundo FIBA (1998 e 2002) e medalha de bronze do EuroBasket (1999).
Honras: 3x FIBA EuroStar (1997, 1998 e 1999), MVP do Campeonato Espanhol (1998), MVP do Campeonato Grego (1999), 2x MVP do final do Campeonato Grego (1998 e 1999), 2x Melhor marcador do Final Four da Euroliga (2001 e 2003), MVP do Top 16 da Euroliga (2001-02), 2x MVP da final da Euroliga (2002 e 2003), 3x  time dos melhores da Euroliga (2002 , 2003 e 2004), Jogador do ano em toda a Europa (2002), MVP da Copa da Espanha (2003), MVP da SuperCopa da Espanha (2004), MVP das finais do Campeonato Espanhol (2004), time dos melhores do Campeonato Espanhol (2004), time da década da Euroliga 2000-10 (2010).

Para os sérvios, ele é um “deus” e são convictos de que todo o mundo deveria conhecê-lo e aprender a como ter uma carreira divina, através de seus ensinamentos e métodos de jogo. Para os catalães, ele é o homem que os levou ao topo da Europa. Para os fãs do Panathinaikos, ele é o seu amado e inesquecível Dejan, aquele que eles se lembrarão beijando o escudo na camisa do Panathinaikos na final de 1999 e anos depois voltar à mesma arena como jogador em outra equipe, mas que nunca deixaria de estar nos corações gregos. Dejan Bodiroga foi e é uma lenda reconhecida em todo o mundo, e fez questão de deixar sua marca em todos os times pelos quais jogou.

Começo da carreira

Em 2 de março de 1973, nascia Dejan Bodiroga, em Zrenjanin, na Servia (antiga Iugoslávia), porém ele morava mais precisamente em Klek, que é uma vila de apenas 3.000 habitantes localizada no município de Zrenjanin. Dejan começou a jogar basquete desde cedo. Aos 13 anos ele se matriculou na peneira do time local, chamado Manisac, onde foi integrado ao time de base. Já aos 15 anos, após um surto de crescimento, chegando a alcançar 2,05 metros, ele foi finalmente incorporado ao time principal do Masinac Zrenjanin, que era treinado por Miodrag Sija Nikolic, campeão nacional pela Iugoslávia na década de 60.

O ano de 1990 com certeza foi o ano em que Dejan deu o principal passo em sua carreira, pois após ser observado por Kresimir Cosic – que era conhecido por revelar muitas estrelas Iugoslavas na época -, o mesmo convenceu a família Bodiroga que seu filho deveria ir com ele para a cidade de Zadar, na Croácia, porque conseguia ver um verdadeiro talento no garoto para o basquete profissional no futuro. Após um ano de muito treinamento, Bojan Bodiroga conseguiu entrar para a equipe profissional do KK Zadar. Ele permaneceu por 2 anos no clube, contudo a Croácia passava pela guerra de independência do país, o que fez Bojan sair do Zadar e ir jogar na Itália.

Liga Italiana: de três finais perdidas a campeão

Várias equipes disputaram o garoto iugoslavo, mas a escolha de Dejan foi o time Italiano Stefanel Trieste, na temporada 1992-93. Lá foi onde ocorreu a sua explosão para o mundo basquetebolístico, pois mesmo sendo o jogador estrangeiro mais jovem da história da liga italiana, em seu primeiro ano na equipe, Bodiroga alcançou 21,2 pontos por jogo naquela temporada.

Considerado por especialistas da liga na época como um jogador versátil e muito maduro, capaz de marcar bem, tocar bem a bola, pegar bastantes rebotes e marcar pontos cruciais, Dejan começou a mostrar todo o seu potencial, chegando a obter jogos de 51 pontos na liga, se tornando dominante nas temporadas seguintes. Ele levou a equipe da Trieste a uma inédita final europeia, na extinta Copa Korać, na temporada 1993-94, contra o PAOK Tessalônica (GRE). Ao fim daquela temporada, a patrocinadora Stefanel saiu do clube de Trieste e passou a patrocinar a tradicionalíssima Olimpia Milano, levando Bodiroga e vários outros atletas para Milão.

No novo clube, ele jogaria outras duas finais consecutivas da Copa Korać. A primeira foi na temporada 1994-95, contra o Alba Berlin (ALE) e, na temporada 1995-96, contra o Efes Pilsen (TUR) de Petar Naumoski. Em nenhuma das três finais a equipe de Bodiroga saiu campeã, porém a recompensa veio no final da mesma temporada 1996, quando a Olimpia sagrou-se campeã tanto do campeonato italiano, quanto da Copa da Itália, com direito a cesta decisiva de Dejan na final da Serie A.

A coroa dupla foi um prêmio por quatro anos de trabalho duro, que acabou quase garantindo Bodiroga nos planos do técnico Dusan Ivkovic, técnico da Iugoslávia, para as Olimpíadas de Atlanta, em 1996. Em função de sanções internacionais, a Iugoslávia estava havia quatro anos banida das competições internacionais. Bodiroga precisou esperar três anos para sua estreia oficial na equipe nacional adulta. E ele fez isso, claro, com grande estilo: uma medalha de ouro no Eurobasket de 1995, em Atenas, com 12 pontos e 5 rebotes de média. E logo no ano seguinte, nas Olimpíadas, ele ganhou a medalha de prata.

Início na Espanha

A mudança para o Real Madrid no verão de 1996 teve como fator principal o conhecimento que Dejan tinha a respeito do técnico madridista Zeljko Obradovic, a quem conheceu muito através de suas passagens pela seleção. Outro fator impactante foi a oferta de US$ 1 milhão por temporada.

A equipe espanhola contava em seu cartel com o veterano Joe Arlauckas, além de jogadores consolidados como Alberto Herreros e Mikhail Mikhailov. A equipe não teve dificuldades nos playoffs, progredindo até a final na temporada 1996-97. O adversário era o grande time do Barcelona com Aleksandar Djordjevic e Jerrod Mustaf. Foi uma série super equilibrada, consequentemente indo para o jogo 5 decisivo. O Barcelona acabou vencendo a série por 3-2 e o placar do último jogo foi de 82-69 na quadra do Real. Foi algo duro de engolir na carreira de Bodiroga e do Real.

Na temporada seguinte, o Real começou sem o técnico Obradovic, que foi para a Pallacanestro Treviso (ITA) e a equipe madridista não ofereceu nenhuma melhora em relação à temporada anterior. Tudo isso culminou na desclassificação nos playoffs uma rodada mais cedo, nas mãos do Basquet Manresa, que sinalizou o fim do período de Madrid para Dejan. Embora ele sempre tenha apresentado números altos e tenha anotado pontos importantes, a equipe nunca encontrou a química adequada e um ritmo vitorioso. O único consolo pessoal foi o fato de ele ter conquistado o prêmio de MVP da liga na temporada 1997-98.

Seu auge na Grécia

Na temporada 1998-99, o time grego Panathinaikos estava começando a ser montado para ser um dos times mais dominantes da Europa. Os greens haviam acabado de ganhar um título nacional após 14 anos de espera e estavam animados e confiantes para um título continental em 1998-99. Bodiroga era a peça que faltava para o quebra-cabeça de um dos maiores times da história da Euroliga.

Além de nomes como os dos jogadores Dino Radja e Fragiskos Alvertis, Dejan iria contar com seu amado treinador Obradovic para a temporada, agora no time grego. Juntos novamente, Obradovic e Bodiroga começaram a década de ouro dos Panathinaikos. O Final Four de 1999-00 foi disputado na cidade grega de Tessalônica e o Panathinaikos chegou lá sem problemas. Nas semifinais, derrotou o Efes por 81-71 com 22 pontos de Bodiroga. No jogo do título, a vítima foi o Maccabi Tel Aviv, a vitória grega foi por 73 a 67, com grandes jogos de Zeljko Rebraca (20 pontos, 8 assistências), que acabou levando o prêmio de MVP do Final Four, Oded Kattash (17 pontos) e Dejan Bodiroga (9 pontos, 4 rebotes).

Já a famosa temporada 2001-02 reuniu todos os grandes nomes da Euroliga, depois que gigantes como Maccabi Tel Aviv, Panathinaikos, CSKA Moscou e Efes jogaram a temporada anterior na FIBA SuproLeague (a competição que a FIBA criou após a Euroliga romper com a instituição). A Euroliga havia crescido e se reformulado para 32 equipes, que foram divididas em quatro grupos de oito para a temporada regular, seguida pela introdução de uma nova fase, o Top 16. A Virtus Bologna (ITA) e o Panathinaikos compartilharam a melhor campanha da temporada regular (12 vitórias e 2 derrotas) e a Benetton Treviso (ITA) e o Tau Ceramica (ESP) foram os vencedores dos outros grupos da temporada regular. Após os confrontos da temporada regular, Benetton, Virtus, Panathinaikos e Maccabi alcançaram o Final Four em Bolonha.

Na primeira semifinal do Final Four, o Panathinaikos contou com a mão quente de Dejan Bodiroga para eliminar o Maccabi por 83-75. Ele registrou 27 pontos e 9 rebotes naquela partida. A Virtus (equipe de Manu Ginobili) se juntou a eles na final. A equipe anfitriã chegou a 10-0 no placar contra o Panathinaikos no primeiro quarto. Mas mesmo assim, a equipe grega se sagrou campeã com o placar de 89-83. O Panathinaikos se tornou o primeiro – até aquele momento – time a vencer uma final de Euroliga na casa do adversário chegando a perder por 14 pontos de diferença antes do intervalo. Manu Ginobili marcou 27 na derrota. Dejan Bodiroga naquele ano além de ter sido eleito o MVP do Top 16, produzindo 19,8 pontos e 5,2 rebotes de média, também foi o MVP do Final Four, terminando a temporada com 20,0 pontos, 5,2 rebotes de média. Que ano!

https://www.youtube.com/watch?ti/me_continue=6179&v=jjqTOL1UjXM&feature=emb_logo

De volta à Espanha

Em 2003, o Barcelona trouxe um verdadeiro time dos sonhos para o torneio, montando um elenco que ganharia o primeiro título da Euroliga na história da equipe. A equipe contava com – além de Dejan Bodiroga – Sarunas Jasikevicius, Juan Carlos Navarro e com o treinador Hall of Fame, Svetislav Pesic. Eles enfrentariam potências tradicionais no Final Four como CSKA Moscou, Benetton Treviso e Montepaschi Siena (ITA) naquele ano. O Barcelona superou o CSKA por 76-71 na primeira semifinal. Na final, o Barcelona comemorou seu tão esperado primeiro título da Euroliga ao derrotar a Benetton por 76 a 65. Bodiroga marcou 20 pontos e foi eleito como MVP do Final Four, apenas o segundo jogador a ganhar o prêmio de MVP em temporadas consecutivas. Pesic tornou-se o terceiro a conquistar o título continental como jogador e treinador.

O Barcelona quebrava uma ‘’maldição’’ de anos sem um título continental, em uma final vista por uma multidão de 16.670 fãs espanhóis, e que todos tinham certeza de quem era seu herói: Dejan Bodiroga. A equipe também conquistou os títulos da liga espanhola e da copa nacional naquela temporada. Com três troféus, o Barcelona se tornou apenas a segunda equipe da Espanha a alcançar esse feito. Na temporada seguinte, a equipe defendeu o título da liga espanhola, com Bodiroga como MVP, sendo os últimos troféus de sua carreira. Em 2005-06, Dejan se muda para a Virtus Roma (ITA), prestes a se aposentar. Bodiroga jogou exatamente 100 partidas pela Euroliga, com uma média de 16,1 pontos por jogo. Mas os números que mais importavam eram os de troféus em clubes que passou – nada mais nada menos que 13, sem contar os prêmios de MVP – e claro, as medalhas conquistadas pelo seu país – cinco medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.

Pela seleção

Após a medalha de prata nas olimpíadas de verão em 1996, a Iugoslávia fazia seu nome no basquete mundial, e iria em busca de mais um Eurobasket em 1997, com Bodiroga novamente desempenhando um papel integral e crucial. O campeonato daquele ano seria marcado não pela final, mas a partida contra a Croácia. Foi o primeiro encontro entre duas nações desde a dissolução da antiga Iugoslávia. O jogo carregava todos os tipos de tensão política e era um assunto nervoso, fazendo com que o jogo tenha sido de baixa pontuação, mas a Iugoslávia conseguiu vencer e sagrar-se campeã europeia novamente, em uma final contra a Itália.

Bodiroga vinha se tornando decisivo em todo lugar que jogava e isso ficou mais evidente no Eurobasket de 2001 na Turquia e na Copa do Mundo de 2002, em Indianápolis, ambos os quais a Iugoslávia venceu. A bola estava sempre em suas mãos quando jogos importantes estavam sendo decididos. Exemplo disso foi a famosa final de Indianápolis. A Iugoslávia estava em uma noite em que nada parecia dar certo no ataque devido à excelente defesa posicional do “Dream Team” da Argentina. Porém a estrela de Bodiroga brilhou e após empatar a partida nos lances livres, ele ainda consegue roubar a bola quando a Argentina foi tentar ganhar o jogo. Resultado: a partida foi para a prorrogação e a Iugoslávia derrotou a poderosa Argentina por 84-77.

Este texto é um conteúdo original do EuroLeague Brasil e não deve ser reproduzido em outros sites sem o devido consentimento.

By Vinicius Matosinhos

Sou apaixonado por esportes e amo escrever sobre as ligas de basquete espalhadas pelo mundo. Basquete é basquete em qualquer lugar.

2 thoughts on “Personagens históricos: Dejan Bodiroga”
  1. Mano, que texto EXCELENTE! Eu não sabia muitos detalhes sobre a carreira dele e adorei ler seu texto.

    Uma das coisas que eu mais aprecio no jogo do Bodiroga é o quanto ele é inteligente. Ele não era o mais atlético, como um LeBron da vida, mas compensava isso com um talento inacreditável. Mas o mais legal (ainda mais para mim, que sou torcedor do PAO) é a paixão que ele demonstrava, principalmente quando vencia. Esse vídeo aqui dá uma boa idéia sobre tudo isso. https://www.youtube.com/watch?v=FIFPRay9EZM

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