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Ficha técnica
Nome: Petar Naumoski;
País: Iugoslávia (Macedônia do Norte🇲🇰);
Nascimento: 1968;
Posição: armador, ala-armador;
Carreira: de 1989 a 2011;
Principais Títulos: 2x campeão da Euroliga (1990 e 1991), 2x campeão da Copa Saporta (1995 e 2002), campeão da Copa Korać (1996), 2x campeão da liga iugoslava, 2x campeão da Copa da Iugoslávia, campeão da Copa da Itália, 4x campeão da liga turca, 5x campeão da Supercopa da Turquia e 5x campeão da Copa da Turquia;
Honras: MVP das Finais da Copa Saporta (2002), 2x cestinha da Copa Saporta (1995 e 2002) e camisa #7 aposentada pelo Anadolu Efes.

Se tem alguém que encantou o basquete da Turquia e os colocou em outro patamar, com toda certeza, foi o macedônico Petar Naumoski. O ala-armador foi conhecido por ser um craque atípico, mas que conseguiu fazer com que duas nações amassem o esporte da bola laranja, muito por conta de ter sido o líder na conquista do único título europeu do Efes Pilsen (o Anadolu Efes de hoje em dia). Não é à toa que seu número #7 foi eternizado e aposentado pelo clube turco.

Início tardio, mas promissor de carreira e ida para um grande time europeu
Em 27 de agosto de 1968 nascia Petar Naumoski na cidade de Prilepo, localizado ao sul da Macedônia do Norte, a cerca de 130 quilômetros da capital, Skopje. O basquete chegou em sua vida apenas aos 16 anos de idade, pois sua família queria que ele pudesse conciliar os estudos com esportes no início de sua adolescência. Inicialmente, ele pensou em ser jogador de futebol, já seu pai queria que ele jogasse basquete por causa de sua altura. Depois de um tempo, Petar seguiu o conselho paterno e acabou conseguindo entrar para a base de um dos melhores clubes de basquete da antiga Iugoslávia, que era um clube da capital macedônica, o KK Rabotnički.

Sua altura de 1,94 metros nas categorias mais jovens o fez ser encaixado para jogar intercalado entre a armação e na ala, no esquema tático do time. Porém, desde o começo, seu destino natural era ser o craque da equipe, devido ao seu grande controle de bola e visão de jogo, que saltava aos olhos de todos os olheiros da época. Além da facilidade tática, seus arremessos tinham qualidade e pareciam naturais, dando a entender que essa especialidade poderia ser ampliada. O jovem armador era inegavelmente um talento nato, uma das melhores promessas da Iugoslávia na época e, por isso, seu destino na maioridade acabou sendo o dream team europeu da época, o Jugoplastika (atual KK Split) de Toni Kukoč, Dino Radja, Žan Tabak e outros.

A ida de Naumoski para o clube croata em 1989 foi mais um campo de treinamento ideal para o jovem jogador, que acabou aprendendo muito com todas aquelas estrelas e egos inflados. Também o ajudou a inserir uma paixão pelo jogo e entender como poderia melhor servir seus companheiros de equipe dentro e fora de quadra. Mesmo com pouco tempo em quadra, para um jogador que começou no basquete atrasado, a experiência foi muito enriquecedora. 

Nas duas temporadas simbólicas pelo Jugoplastika, Petar tem seu nome gravado como bi-campeão da Euroliga (1990 e 1991), ambas contra o Barcelona na final. No entanto, durante o outono de 1991, a guerra civil iugoslava estourou no país, trazendo consequências não só políticas como esportivas. O Jugoplastika acabou simplesmente se desintegrando nesse meio tempo, com todos os jogadores de fora da Croácia, exceto Zoran Sretenović, deixando o clube.

Para Naumoski, o fim da aventura pelo Split permitiria que ele retornasse ao seu país natal, voltando para jogar, agora como profissional, pelo KK Rabotnički. Foi uma ótima oportunidade para Petar se acostumar com a liderança regular da equipe. O atleta chamou a responsabilidade e provou a extensão do seu talento na única temporada que ficou na equipe, o suficiente para chamar a atenção de grades clubes europeus.

Enquanto seus números no clube croata tinham sido discretos durante os dois anos disputados (39 jogos, 73 pontos, 1,9 por jogo), pelo Rabotnički, Naumoski acabou brilhando na liga iugoslava (temporada 1991-92), muito pelo fato de não ter havido a presença de equipes da Croácia e da Eslovênia. O armador macedônio marcou 388 pontos em 22 jogos (média de 17,6), terminando a temporada como o nono cestinha da liga, em uma competição acirrada contra Boban Janković, Sašha Danilović e seus ex-companheiros Luka Pavićević (terceiro colocado com 464 pontos) e Zoran Radović (oitavo com 390). Junto com a equipe, Petar ainda chegou às semifinais do campeonato nacional, mas acabaram sendo eliminados pelo Estrela Vermelha.

A primeira transferência para o Efes e a rápida passagem pela Benetton Treviso, da Itália
Depois daquela grande temporada no clube da Macedônia, o Efes Pilsen, da Turquia, percebeu o grande potencial de Naumoski e conseguiu fazer uma das melhores contratações do clube de todos os tempos. Apesar da grande história escrita pelo camisa 7 nos anos subsequentes dentro das quadras turcas, antes de ir, Petar ponderou bastante antes de concretizar a transferência para a Turquia.

Imagem

Hoje em dia, conhecemos a cidade de Istambul como uma cidade milenar de grande importância, reconhecida por ser uma ponte entre o Ocidente e a Ásia. Porém, nos anos 1990 a imagem do país não era muito boa para atletas. Muitos relutavam a ir e estabelecer-se por lá. E Petar Naumoski não era exceção à regra. Como ele mesmo relataria em suas memórias mais tarde, ir a Istambul não era prioridade em seus objetivos. Acredita-se que foi muito por conta de um jogo, quando ainda jogava no Jugoplastika em 1991, contra o também clube turco Galatasaray, onde os iugoslavos ganharam facilmente dos turcos, deixando uma imagem para Petar de que o basquete da Turquia poderia não agregar tanto para sua carreira.

Depois de alguma relutância, o armador assinou com o Efes Pinsen em 1992 e acabou encaixando como uma luva no clube, que estava precisando urgentemente de um líder dentro de quadra. No final daquela temporada, o Efes levou o campeonato turco invicto e Naumoski teve um papel principal, é claro. Além do triunfo nacional, o time de Petar se tornou a primeira equipe turca a chegar a uma final continental, a extinta Copa Saporta, o segundo torneio mais importante do basquete europeu de clubes à época. O campeonato europeu serviu de grande experiência para o armador macedônio, que obteve atuações espetaculares naquela competição e terminou com médias de 17,0 pontos por jogo, em pouco mais de 31 minutos em quadra, e com um aproveitamento de 25 de 52 nas bolas de três pontos (48,1%). 

Apesar das boas atuações de Naumoski, o jogo do título contra o Aris Tessalônica (GRE), em Turim, não será lembrado pelo seu retrospecto em quadra, já que as brigas entre torcedores dos dois lados nas arquibancadas é o que mais será recordado desse jogo. O confronto final terminou com uma vitória apertada de 50 a 48 para o Aris, mas, infelizmente, as confusões na arena acabaram resultando em quatro jogadores da equipe turca feridos, tendo que ser hospitalizados.

Na temporada seguinte (1993-94), Naumoski seguiu aprimorando seu estilo de jogo e, juntamente com sua equipe, venceu os dois campeonatos nacionais daquele ano, chamando ainda mais a atenção de vários clubes europeus, principalmente por sua atuação no ano anterior na competição continental. O time que conseguiu trazê-lo foi a Benetton Treviso, da Itália. Não demorou muito para que Petar conseguisse se encaixar taticamente na equipe e, novamente, em 1995, foi essencial para chegar em mais uma final da Copa Saporta.

O caminho percorrido até chegarem à final foi, até certo ponto, tranquilo, com direito a Naumoski anotando 44 pontos na semifinal contra o clube francês Antibes (vídeo abaixo). Já na partida valendo o título, o adversário do jogo, disputado na Abdi Ipekçi Arena, em Istambul, foi o espanhol Baskonia. Ambas as equipes já haviam se enfrentado nos confrontos da “fase de grupos quartas-de-final” e acabaram cada uma vencendo uma partida: o Baskonia por 80 a 71 na Espanha e a Benetton por 99 a 89 em casa.

Na final, a Benetton foi melhor e se consagrou campeã, vencendo por 94 a 86 com Naumoski e Orlando Woolridge como uma dupla letal, ambos anotando 26 pontos. Além da grande partida do armador, a final também teve um gostinho especial pelo fato de ter sido em cima de Velimir Perasović, seu ex-companheiro de equipe no Jugoplastika, demostrando que agora ele não era mais um mero coadjuvante. Aquele foi o terceiro troféu europeu de Naumoski, porém desta vez ele era o cabeça da equipe e o centro das atenções. Sua média na competição foi de 20,8 pontos por jogo, sendo nomeado o cestinha do time (353 pontos).

Volta à Turquia e título inédito pelo Efes
Com a saída de seu grande armador, o Efes Pilsen acaba sentindo taticamente e, no ano de 1996, tenta de todas as formas transferi-lo de volta ao clube turco. Naumoski recebe a proposta de braços abertos e retorna para o que seria o auge de sua carreira. O técnico, Aydin Örs, agora tinha novamente a peça que necessitava para que seus pensamentos começassem a fluir, uma vez que já tinha experiência com Petar em sua última passagem e dessa vez o colocaria como plano central em todas as jogadas do time. Uma decisão muito acertada.

Naquele 1993 o tão sonhado título continental da equipe turca passou muito perto. Naumoski até pôde sentir três vezes o gosto de um título europeu, mas tinha em mente que ainda faltava um com o Efes, o clube que lhe deu a oportunidade de crescer como titular e ganhar os holofotes europeus. Era necessário retribuir tudo aquilo. E em março de 1996, a equipe turca chegava a mais uma final de um campeonato europeu, só que dessa vez era a Copa Korać, a terceira mais importante do basquete europeu de clubes.

A equipe de Naumoski estava muito preparada e experiente para aqueles últimos jogos do campeonato, porém, quem eles enfrentariam não seria nada fácil: a gigante italiana Olimpia Milano, de Dejan Bodiroga, Ferdinando Gentile, Gregor Fučka e Rolando Blackman. No primeiro jogo, que foi realizado em Istambul, o Efes venceu por 76 a 68 com um iluminado Naumoski fazendo 31 pontos naquele dia. Ele acertou oito de dez nos arremessos de dois pontos, cinco de onze nas bolas de três pontos, além de dez assistências em 40 minutos. 

No jogo fora de casa, que poderia ser decisivo, a Milano era claramente a favorita e manteve-se assim durante o jogo. Contudo, só conseguiu vencer por apenas sete pontos de diferença (77 a 70), um grande indicativo que os turcos não deixariam aquele título escapar dessa vez. Na terceira partida, realmente a equipe italiana não conseguiu segurar o ímpeto do time de Petar Naumoski e o título inédito ficou para Efes, com o macedônio, mais uma vez, sendo o homem do jogo e do título, com 26 pontos.

O Efes Pilsen se tornou o primeiro time do basquete turco a ganhar um título continental, com Naumoski sendo a principal peça daquele time. Até hoje o Efes ainda não conseguiu repetir a façanha, por isso, os turcos têm tanto apreço e gratidão por tudo que Petar Naumoski fez por eles. O armador permaneceu na equipe até a virada do milênio, quando aceitou voltar para Itália, para ir jogar dessa vez pela Montepaschi Siena. Petar deixava a Turquia com oito troféus nacionais e um continental conquistados com a camisa do Efes Pilsen.

Mais um título inédito e aposentadoria
Os anos de glória na Turquia deram a Naumoski, um pouquinho antes de ir à Itália, o título de melhor jogador macedônio do milênio. Ele havia conquistado o amor de seus compatriotas e dos clubes por onde havia passado. Não seria estranho se ele surpreendesse também na nova equipe. E novamente a estrela de Petar brilhou e ele teria mais uma vez a chance de conquistar outro título europeu inédito, agora com a camisa da equipe da Siena.

Era 30 de abril de 2002, a Montepaschi ergueu o primeiro troféu continental de sua história, a Copa Saporta. Entre outras coisas, aquela edição representa a última edição da competição, uma vez que ela acabou se fundindo com a Copa Korac para a criação da Taça ULEB, a atual EuroCup. O clube de Siena se tornou muito conhecido na Itália nos anos seguintes, mas tudo começou com aquele título de 2002. Foi o marco zero para muitos torcedores e, obviamente, a experiência de Naumoski foi de grande importância para que essa história fosse escrita.

A Siena se deu muito bem na fase grupos daquele campeonato ao vencer sete das dez partidas disputadas. Nas eliminatórias, a Montepaschi consegue ser superior nos confrontos subsequentes e encontraria na final o grande Valencia, diante de 5 mil torcedores no Palais des Sports de Gerland Arena, em Lyon.

O jogo não começou muito bem para os sienenses, que sofreram um 11 a 0 logo de início. O segundo tempo, por outro lado, foi todo dominado pelo time de Naumoski, que alcançou a virada na partida. Mas os espanhóis não se renderam em nenhum momento, chegando a ficar atrás do placar por apenas três pontos nos minutos finais de jogo. É aqui, porém, que a dupla da macedônia, formada por Naumoski e Vrbica Stefanov, entrou em ação, dando o golpe de misericórdia ao vencer a partida por 81 a 71, levantando a primeira e única taça de um campeonato europeu do clube italiano. O MVP das finais foi para Petar Naumoski, que anotou 23 pontos em 30 minutos jogados naquela partida.

Ele permaneceu na Itália até 2004, com quase 36 anos, chegando a jogar uma última temporada da Euroliga, com média de 11,5 pontos. No entanto, não era hora de se aposentar ainda. Naumoski acaba voltando de novo à Turquia para se juntar ao Ülker, com o qual ganhou a Copa da Turquia, seu último troféu na carreira. Petar ainda continuou jogando até 2011 em times sem muita expressão como a Guido Rossi e a Derthona Basket, ambos pequenos clubes da Itália, mas decidiu encerrar sua carreira na Macedônia, com a camisa MZT Skopje. 

Ali se encerrava o ciclo da brilhante carreira de um jogador que começou como reserva absoluto, mas que depois conquistou a Europa. Findava sua jornada onde tudo começou, em seu país natal, o país que ele acabou mostrando para o mundo que poderia ter relevância no basquete mundial, inspirando uma série de pessoas.

Pela seleção
No auge de sua carreira, em 1996, quando havia acabado de vencer a Copa Korać com o Efes, Petar conseguiu tirar o seu passaporte turco com o nome de Namik Polat, o que lhe dava a oportunidade de jogar pela seleção da Turquia, mas seu desejo sempre foi jogar com a camisa da Macedônia. Ao lado de Stefanov, que anos depois seria seu companheiro de time na Montepaschi, Naumoski jogou poucos jogos pela seleção macedônia e nunca conseguiu vencer nenhum título de expressão.

O mais longe que a seleção macedônica chegou foi à 13ª colocação no EuroBasket de 1999, onde Petar jogou apenas na derrota contra a França, sendo o cestinha da partida (27 pontos). Ele sofreu uma lesão logo em seguida no confronto contra a Iugoslávia, desfalcando o time e, consequentemente, sendo eliminados na fase de grupos sem vencer nenhuma partida. Porém, o seu desejo de ajudar a seleção nunca se esvaiu, sendo assim, em 2015 ele é nomeado Presidente da Federação de Basquete da Macedônia.

Cerimônia de aposentadoria da camisa #7 de Petar Naumoski

Este texto é um conteúdo original do EuroLeague Brasil e não deve ser reproduzido em outros sites sem o devido consentimento.

By Vinicius Matosinhos

Sou apaixonado por esportes e amo escrever sobre as ligas de basquete espalhadas pelo mundo. Basquete é basquete em qualquer lugar.

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