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Ficha técnica
Nome: Juan Carlos Navarro (“La Bomba”);
País: Espanha 🇪🇸;
Nascimento: 1980;
Posição: ala-armador
Carreira: de 1997 a 2018;
Principais Títulos: pelos clubes, 2x campeão da Euroliga (2003 e 2010), 8x campeão do Campeonato Espanhol, 7x campeão da Copa da Espanha, 5x campeão da Supercopa da Espanha, campeão da Copa Korać (1999); pela seleção, campeão da Copa do Mundo (2006), 2 medalhas de ouro do Eurobasket (2009 e 2011), 3 medalhas olímpicas (prata em 2008 e 2012, bronze em 2016);
Honras: 2x Time da Década da Euroliga (2000-2010 e 2010-2020), 3x Melhor Jogador Europeu do Ano (2009, 2010, 2011), MVP da Euroliga (2009), MVP do Final Four da Euroliga (2010), 5x eleito para o melhor time da Euroliga, MVP do Campeonato Espanhol (2006), 3x MVP das finais do Campeonato Espanhol (2009, 2011, 2014), MVP do EuroBasket (2011), camisa número 11 aposentada pelo Barcelona.

O maior jogador da história do Barcelona, sem a menor sombra de dúvida. Catalão de nascença e criação, chegou ao clube ainda com 12 anos e só saiu (pelo menos de dentro da quadra) aos 38. Na verdade, ele chegou até a jogar uma temporada na NBA (2007-08), mas escolheu voltar para casa e encerrou a carreira genial totalizando 35 títulos com o Barça, entre eles os dois mais importantes: as Euroligas de 2003 e de 2010. Somando-se Euroliga e Campeonato Espanhol, Navarro é o líder dos Culé em jogos disputados (901), pontos (11.505), assistências (2.195) e cestas de três pontos (1.637).

Navarro é um dos maiores jogadores da história da Euroliga. Em 2012, ele se tornou o maior cestinha da história moderna (a partir de 2000) da competição e, quando encerrou sua carreira, esse título permanecia, com seus 4.152 pontos marcados. Ele também encerrou a carreira como o jogador com o maior número total de PIR (Performance Index Rating), com 3.890. Foi apenas neste ano que o grego Vassilis Spanoulis o superou em ambos (atualmente, ele tem 4.239 pontos e acumula 4.023 de PIR). Porém, até o dia de hoje, “La Bomba” ainda detém o recorde de mais cestas de três, com 623 (com 37,3% de aproveitamento), e, se considerarmos sua participação na última Euroliga organizada pela FIBA (1999-00), em que ele anotou 169 pontos totais, ele ainda está à frente de Spanoulis na história, com 4.321 pontos. Ele também ainda é o único jogador espanhol da história a vencer o prêmio de MVP do Final Four.

A ‘jóia da base’ dando seus primeiros passos no profissional
Navarro teve sua primeira participação no time profissional Blaugrana na temporada 1997-1998, com apenas 17 anos, mas ela foi bem discreta. Ele entrou em quadra apenas três vezes, para um total de três minutos e nenhum ponto. No Espanhol, ele disputou 12 partidas, mas ainda com uma média menor que dez minutos por jogo. 

Na temporada seguinte, seu papel começou a crescer um pouco mais. Para se ter uma idéia, ele esteve em quadra em 19 jogos no Espanhol, enquanto o lendário Pau Gasol, que tem a mesma idade, esteve em apenas quatro. Foi nesta mesma temporada que ele saboreou seus primeiros dois títulos como profissional, com o Barça vencendo o Espanhol e a Copa Korać, a antiga segunda competição continental mais importante.

Ele tornou-se um membro efetivo da rotação na temporada 1999-00, na qual esteve em quadra em 48 jogos do Espanhol e outros 22 na Euroliga (a última que foi organizada pela FIBA, antes de ser criado o grupo EuroLeague, que conhecemos hoje). Na competição européia, Navarro foi o quarto que mais anotou pontos (169), apesar de ser apenas o sétimo em minutos jogados (média de 18:42 por jogo). Ele foi parte efetiva da equipe que alcançaria o Final Four daquela temporada, mas cairia para o Maccabi Tel Aviv na semifinal e para o Efes Pilsen na disputa pelo terceiro lugar.

O garoto começava a chamar a atenção já ali, o que apenas confirmava o sucesso que ele e a “Geração de Ouro” espanhola vinha mostrando nas categorias de base. Navarro foi parte da seleção espanhola que venceu o Campeonato Europeu sub-18, em 1998, e a Copa do Mundo sub-19, em 1999. Navarro foi o maior pontuador da Espanha em ambas as competições, incluindo 25 pontos e 6 assistências na final da Copa contra os EUA.

Os anos de amadurecimento com o time
Pelas cinco temporadas seguintes, Navarro passaria por altos e baixos no que diz respeito a seu papel dentro da equipe, apesar de sua produção nunca ter diminuído. Entre as temporadas 2000-01 e 2004-05, ele não teve um ano sequer em que produziu menos do que uma média de 10,4 pontos ou de 10,0 PIR por jogo. Na primeira temporada da “nova” Euroliga, ele foi o titular da equipe, mas perdeu a competição para Rodrigo De La Fuente na temporada 2001-02.

Ainda sem ter vencido nenhuma Euroliga em sua história, enquanto o maior rival, Real Madrid, já acumulava oito, o Barcelona começou a investir pesado no basquete. Já na temporada de 2001, eles trouxeram a jovem promessa lituana, o armador Šarūnas Jasikevičius, que seria o titular do clube pelos três anos seguintes. E para a temporada 2002-03, o time fez talvez a maior e mais importante contratação de sua história até ali, assinando com a super-estrela Dejan Bodiroga, então bicampeão europeu com o Panathinaikos. Eles também trouxeram o pivô da seleção italiana Gregor Fučka e montaram um super time. Naturalmente, se tornou mais difícil para o ainda garoto Navarro disputar uma vaga de titular em uma verdadeira “seleção” como aquela.

O investimento deu resultado. Aquele grupo concretizaria a maior temporada da história do clube, vencendo absolutamente tudo o que competiu. Ele sagraram-se campeões do Espanhol, da Copa da Espanha e, finalmente, da Euroliga. E com o gostinho ainda melhor de ter faturado o caneco em casa, com o Final Four sendo disputado em Barcelona.

A lendária “Tríplice Coroa” teve participação essencial de Navarro, que foi titular em boa parte da temporada regular da Euroliga, contribuindo com 14,5 pontos por jogo, mas foi novamente preterido por De La Fuente nas fases decisivas. Apesar disso, ele era uma presença constante, com média superior a 26 minutos por jogo e ainda foi decisivo na semifinal contra o CSKA, em que interceptou um passe e foi para a bandeja que praticamente decidiu o jogo (foto abaixo).

Foi dividindo a quadra e aprendendo com aquele time de estrelas, que permaneceria junto por mais duas temporadas, que Navarro se desenvolveu em um dos melhores jogadores do planeta e pôde, finalmente, estar pronto para ser o dono do time nas temporadas seguintes.

Os primeiros anos como titular, o título mundial e a ida para a NBA
Os dois anos posteriores ao título europeu viram o Barcelona passar por uma ressaca na Euroliga, caindo na fase do Top 16 em ambas. Eles ainda venceram o Espanhol da temporada 2003-04, mas se via que aquela equipe já havia cumprido sua missão. Algumas peças começaram a ser trocadas e, com isso, deu-se início à “era Navarro”, com o jogador se tornando titular absoluto da equipe.

Na temporada 2005-06, “La Bomba” liderou o time a seu terceiro Final Four em seis anos, sendo o seu cestinha disparado, com 15,1 pontos por jogo, e o melhor arremessador de três da competição, com absurdos 46,2% de aproveitamento. Mesmo com a empolgação de eliminar o maior rival nas quartas-de-final, o bicampeonato não veio, com derrotas para o CSKA, de Theodoros Papaloukas, na semifinal e para o Baskonia na disputa do terceiro. Mas uma glória ainda maior estava para vir naquele verão de 2006.

A seleção espanhola, recheada de estrelas daquela geração, viajaria até o Japão, onde se tornaria a primeira seleção não chamada EUA, URSS ou Iugoslávia a vencer a Copa do Mundo desde 1963. Depois do ex-companheiro Pau Gasol (que ganharia o MVP), Navarro foi o jogador mais importante do time, anotando uma média de 14 pontos por jogo, enquanto acertou 41,3% dos tiros de três. A melhor geração da história do basquete espanhol dava início, com aquela conquista, à sua dinastia no basquete FIBA e Navarro era sua segunda peça mais importante.

Já sem praticamente nenhuma estrela remanescente do título de 2003, Navarro assumiu mais do que nunca o protagonismo no Barcelona na temporada 2006-07 e, por isso, teve sua melhor temporada da carreira, em desempenho pessoal. Ele foi o cestinha de toda a Euroliga, com 16,8 pontos por jogo, e do Espanhol, com 17,3. Porém, o clube morreria na praia em ambas as competições, caindo diante do Real Madrid na final nacional e sendo eliminado nas quartas-de-final da Euroliga para os compatriotas do Unicaja Malaga.

Seu desempenho era tão bom que tornou-se inevitável a sua ida para a NBA. Ele havia sido escolhido pelo Washington Wizards no Draft de 2002, mas o clube da capital trocou seus direitos com o Memphis Grizzlies em 2007 e, com isso, Navarro chegou a um acordo com o clube de seu compatriota Pau Gasol e rumou para a maior liga do mundo. Para tal, ele também precisou negociar com o Barcelona e o clube aceitou reduzir a multa rescisória de € 10 milhões para cerca de € 3 ou 4 milhões, com o compromisso de que se ele voltasse para o basquete europeu, voltaria para seu clube do coração.

Em Memphis, ele teria uma temporada sólida como reserva direto de Mike Miller, jogando pouco mais de 25 minutos por jogo e sendo o quinto melhor pontuador da equipe, com 10,9 pontos por jogo. No quesito, ele ficou à frente de Mike Conley e Kyle Lowry, ainda garotos. Ele disputou todos os 82 jogos da temporada, 30 como titular e pontuou em duplos-dígitos em 42 deles. Ele também teve 12 jogos em que fez pelo menos 20 pontos e foi o líder da equipe em cestas de três feitas, com 156 (36,1% de aproveitamento), duas abaixo do recorde de um calouro à época. Em uma partida contra o New Orleans Hornets, ele igualou o recorde de um calouro, acertando oito tiros de três no jogo.

Mesmo se destacando entre os calouros e mostrando que poderia, assim como seu amigo Gasol, se estabelecer e crescer na liga, Navarro optou por retornar ao Barcelona. O prestígio de ter sido escolhido pelos treinadores da NBA para integrar o segundo time ideal de calouros e o interesse do próprio Grizzlies e de outras equipes em contar com ele não foram o suficiente. Apesar de ele ter negado, a situação financeira pode tê-lo influenciado. Enquanto ele recebeu o salário de mínimo para calouros na NBA (US$ 540 mil no ano), uma volta para o Barcelona lhe garantiria não apenas o protagonismo, mas também um salário consideravelmente maior. Quando deixou o time um ano antes, diz-se que ele estava insatisfeito com seu salário e se sentia desvalorizado. Retornando no verão de 2008, ele se tornou o jogador mais bem pago da equipe, assinando um contrato de quatro anos, com salário anual que poderia ter variado entre € 1,5 milhão e € 3 milhões, segundo diversas fontes.

De volta para o Barça e o segundo título europeu
Retornando ao clube, ele se tornou a peça central do projeto que culminaria na segunda conquista da Euroliga dos Culé. Na temporada 2008-09, logo de cara, o Barça voltou a vencer o espanhol, o primeiro desde 2004. Navarro ainda era o cestinha da equipe, mas ele contou com grande ajudas na temporada, principalmente do pivô Fran Vázquez e do australiano David Andersen. Assim, eles conseguiram voltar ao Final Four da Euroliga, eliminando o forte Baskonia de Tiago Splitter e Pablo Prigioni. Navarro foi eleito o MVP da temporada regular, mas uma vez mais eles caíram na semifinal para o CSKA, mas ficaram com o terceiro lugar.

Com as adições do ala-pivô Erazem Lorbek, peça fundamental do CSKA e da seleção eslovena, do ala americano Pete Mickeal e do fenômeno Ricky Rubio, o Barcelona conseguiu alcançar o topo do basquete europeu na temporada 2009-10, com uma campanha histórica. O time do técnico Xavi Pascual fez uma campanha invicta na temporada regular, eliminou o arquirrival Real Madrid nas quartas. No Final Four, eles finalmente conseguiram superar o algoz CSKA na semifinal e, com Navarro cestinha com 21 pontos, bateram o Olympiacos na final. “La Bomba” foi eleito o MVP do Final Four (foto abaixo).

Os últimos anos de força e a conclusão da carreira
Após a conquista de Paris, o Barcelona manteve sua base e conseguiu permanecer na elite do basquete europeu por mais quatro temporadas. Adições como a do brasileiro Marcelinho Huertas e Ante Tomić, além do ala-pivô Joey Dorsey foram alguns exemplos de adições que ajudaram o clube a continuar competitivo.

Enquanto isso, Navarro seguia como a estrela do time, apesar do surgimento de jovens estrelas como Alex Abrines e Mario Hezonja. Porém, nas temporadas 2010-11 e 2011-12, ele começou a conviver com lesões que atrapalharam tanto seu rendimento pessoal quanto o do time. Nos dois anos citados, ele desfalcou o time em dez jogos por conta de lesões, mas ainda assim foi o cestinha da equipe, com uma média de 13,8 pontos por jogo.

Durante as duas temporadas subseqüentes ele conseguiu manter-se saudável e jogando em seu nível normal, ajudando o clube a registrar um fato inédito em sua história: o Barça apareceu em três Final Fours da Euroliga consecutivos, entre 2012 e 2014. Foi também neste período que ele, Navarro, escreveu seu nome na história de maneira definitiva. Em 2011, ele se tornou, oficialmente, o maior pontuador da história da Euroliga, chegando aos 2.716. Em 2013, o primeiro a chegar a 3.000 pontos.

Nesta fase final de sua carreira, apesar de o Barcelona não ter conseguido superar a semifinal em nenhuma de suas três aparições seguidas no Final Four, o clube catalão ainda conseguiu vencer três títulos espanhóis, duas Copas da Espanha e duas Supercopas. Após a temporada 2013-14, já com 34 anos completados, a produção de “La Bomba” começou a cair e ele começou a contribuir mais vindo do banco. Em 2017, outro marco: ele se tornava o primeiro jogador da história a alcançar 4.000 pontos. No mesmo ano, o Barcelona ofereceu-lhe um contrato de dez anos, cabendo às partes decidir a cada ano se ele cumpriria o contrato como jogador ou como membro do setor de basquete do clube. Navarro tinha intenções de encerrar a carreira após a temporada 2018-19, aos 39 anos, mas ao fim da temporada 2017-18 a diretoria lhe comunicou dizendo que ele não fazia parte do projeto esportivo para a temporada seguinte, oficializando sua aposentadoria.

Pela seleção, Navarro encerraria a sua carreira com dez medalhas conquistadas, destacando-se os ouros da Copa do Mundo (2006) e do EuroBasket (2009 e 2011, este último, sendo ele o MVP), as pratas nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008) e Londres (2012) e o bronze nos Jogos Olímpicos do Brasil (2016). Ele detém o recorde de cestas de três anotadas com a camisa espanhola (421) e o de mais partidas disputadas (253), além de ser seu quinto maior pontuador (2.796).

As 10 melhores jogadas de Navarro na Euroliga

 

Documentário

 

https://www.youtube.com/watch?v=808c2RKc7g0

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