Neste domingo (5), a Liga VTB teve o sétimo jogo da série final, entre CSKA Moscou e Zenit São Petersburgo. O time da capital, até então vencedor de 11 das 12 edições do torneio, teve sua hegemonia quebrada ao perder em casa o duelo decisivo, por 81 a 75.

O Zenit, que pela primeira vez chegou à final, chegou a estar perdendo a série por 3 a 1, mas venceu os três últimos confrontos, sendo dois em Moscou, e conquistou o título inédito. O pivô Jordan Mickey, eleito também o defensor do ano, foi nomeado MVP das finais.

A conquista, inclusive, lembra a decisão da NBA de 2016, quando o Cleveland Cavaliers, de LeBron James, viu o Golden State Warriors abrir 3-1 na melhor de sete, mas virou e também foi campeão pela primeira vez na história. Até aquele momento, nunca uma equipe havia vencido daquela maneira.

Porém, o que mais chamou atenção na temporada da Liga VTB, sem dúvidas, foi o impacto que a invasão da Rússia à Ucrânia causou na competição, tanto esportivamente, na questão dos times, quanto no torneio em si, como produto.

Mudanças drásticas pela guerra

No dia 24 de fevereiro, a Rússia fez os primeiros ataques ao país vizinho, dando início ao conflito que se arrasta até hoje. A consequência, no âmbito esportivo, foi imediata. No mesmo dia, o Kalev/Cramo, time da Estônia, anunciou sua saída da Liga VTB. Um dia depois, foi a vez do polonês Zielona Góra também deixar a competição, que ficou com apenas dez equipes na disputa.

O efeito dominó seguiu. Muito além da questão de quadra, mas também pelo bom senso de se voltar contra a guerra. Quatro dias depois do início do conflito, a ECA (Euroleague Commercial Assets) decidiu suspender as três equipes russas da Euroliga (CSKA Moscou, Zenit São Petersburgo e UNICS Kazan), mais o Lokomotiv Kuban, representante da EuroCup.

Ademais, os clubes perderam jogadores importantes. Só entre os finalistas, por exemplo, um time inteiro ou mais foi embora. O campeão Zenit teve cinco perdas. O armador Conner Frankamp e o pivô Arturas Gudaitis acertaram com outras equipes pela Europa, enquanto o armador Shabazz Napier e os alas Mindaugas Kuzminskas e Mateusz Ponitka não atuaram mais na temporada.

Já o CSKA viu seis atletas deixarem Moscou. O armador Daniel Hackett e o ala-pivô Tornike Shengelia, um dos astros da equipe, rumaram à Virtus Bolonha para disputar a EuroCup, onde foram campeões. O armador Iffe Lundberg, outro destaque, conseguiu um contrato two-way com o Phoenix Suns, da NBA. Já o ala-armador Marius Grigonis e os pivôs Johannes Voigtmann e Joel Bolomboy não acertaram com outros times.

Em contrapartida, houve aqueles que optaram por permenecer na Rússia – sem contar os jogadores locais, obviamente -, apesar das sanções aos clubes e até críticas. Quase todos, peças essenciais para as equipes, como Will Clyburn e Nikola Milutinov do lado do CSKA, e os americanos Jordan Loyd, Billy Baron, Jordan Mickey e Alex Poythress por parte do Zenit. O próprio MVP da temporada regular, Mario Hezonja, seguiu no UNICS até o fim.

Mesmo assim, com menos clubes na disputa e as potências enfraquecidas, sem o peso de disputarem as principais competições do continente, a Liga VTB parece ter perdido visibilidade, além da parte técnica também ser reduzida com a saída de algumas estrelas das principais equipes.

A final em si teve cenário emocionante até o último jogo. O CSKA, de melhor campanha na primeira fase, com 15-3 de recorde, fez as duas primeiras partidas em casa. Abriu vantagem ao vencer por 83-59 e 82-73. O Zenit fez os dois confrontos seguintes em São Petersburgo. Venceu o primeiro, por 93-79, mas viu o rival vencer um duelo com duas prorrogações, por 111-110, e ficar a um triunfo do 12º título.

No entanto, os comandados de Xavi Pascual buscaram o improvável. Venceram em Moscou por 97-95 e por 82-63 no jogo 6, em casa. No sétimo e decisivo confronto, virou o placar no último período para conquistar o troféu inédito da Liga VTB (81-75). Um título que coroa o belo trabalho do técnico espanhol, mas manchado pelo contexto que vive a Rússia, de imagem negativa perante o mundo.

A derrota e perda do título marcou o fim de uma era no CSKA. O técnico Dimitris Itoudis, um dos maiores da história do clube, anunciou sua saída após oito anos. Duas vezes campeão da Euroliga, além de seis conquistas da Liga VTB, o treinador grego acertou recentemente com a seleção de seu país. Ele tinha contrato com a equipe até 2023, mas, em comum acordo, encerrou sua trajetória em Moscou.

Com final inédita, disputada pela primeira vez em uma série de sete jogos, a Liga VTB terminou, dentro de quadra, com a bonita história do mais novo campeão russo. Porém, a temporada para sempre ficará marcada como a que sancionou os clubes russos dos principais torneios do continente, como consequência da guerra que ainda persiste.

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