Euroliga

Texto enviado pelo colaborador Luiz Eduardo Gomes

Origem: um início silencioso

A primeira competição oficial entre clubes europeus ocorreu em 1958, sob a tutela da FIBA Europa. Esta competição teve diversos nomes até o ano 2000 – FIBA European Champions Cup, FIBA European League e FIBA EuroLeague.

Mas para explicar o início da Euroliga, vamos até junho do ano de 1991, quando ocorreu um movimento sem muito alarde, mas que seria decisivo no futuro: a criação da ULEB – do francês Union des Ligues Européennes de Basket-Ball, a União das Ligas Europeias de Basquete. Apesar do nome pomposo, esta associação foi inicialmente formada apenas pelas ligas espanhola, italiana e francesa e tinha por finalidade a realização de projetos de colaboração entre si, que poderiam até ser considerados modestos se comparados ao que viria depois.

O primeiro evento organizado pela recém-criada organização foi um All-Star weekend envolvendo jogadores das ligas espanhola e italiana, realizado em Madri em novembro de 1992. E vale uma observação. No intervalo de tempo em que aconteceram todos estes eventos, uma grande mudança do baquete mundial estava no seu início, com internacionalização definitiva da NBA, Michael Jordan como o atleta mais famoso do planeta e o Dream Team nas olimpíadas de Barcelona. O basquete europeu, embarcou na onda e começava a entrar em outra era.

Em junho de 2000, agora com a presença das ligas grega, belga e britânica, a ULEB dava seu grande passo e criava não só sua própria competição, a Euroliga, como fundava uma companhia de mesmo nome que seria responsável pela administração. Diz a lenda que apesar de usar a palavra “Euroliga” nas competições que organizava, a FIBA Europa nunca se preocupou em registrar a propriedade sobre o mesmo, o que facilitou muito para a ULEB “roubar” a alcunha.

Sistema de disputa: muitas mudanças

On This Day, 2001: Virtus becomes first champion of a new era ...
A Virtus Bologna foi a primeira campeã da “nova” Euroliga, na temporada 2000-01

Claro que este desafio à FIBA não foi algo pacifico, mas a primeira “nova” Euroliga saiu já na temporada 2000-01, mesmo que sem a presença alguns gigantes do continente, que ainda relutavam em participar. Anadolu Efes (na época, Efes Pilsen), CSKA Moscou, Panathinaikos e Maccabi Tel Aviv não entraram de imediato na aventura. Ao invés disso, eles disputaram a FIBA SuproLeague, última competição de grande relevância organizada pelo órgão. Ou seja, a temporada 2000-01 teve dois campeões europeus: o da Euroliga e o da SuproLeague.

O formato desta primeira edição contou com 24 clubes e teve como pontos a se destacar o fato de ainda tentar ser uma competição pan-europeia, ou seja, aberta a presença de clubes de várias ligas. Além disso, o desempenho nas ligas domésticas era o principal critério para a participação. Apesar da predominância de clubes da Espanha, Itália e Grécia (quatro de cada um destes países), houve a participação de clubes da Bélgica, Portugal, Suíça e Reino Unido, algo inimaginável nos dias de hoje.

O sistema de disputa foi bem simples: quatro grupos de seis equipes cada, jogos de ida e volta dentro do grupo, com os quatro primeiros de cada grupo se classificando para os playoffs. Oitavas e quartas-de-final disputadas em melhor três jogos, semifinais e finais jogadas em melhor de cinco, em um total de 26 datas possíveis. A série final foi jogada entre a italiana Virtus Bologna (na época, Kinder Bologna) e o espanhol Baskonia (na época, Tau Cerámica). O time do país da bota levou a melhor por 3 a 2 e esta série também serviu como um prenúncio do que a “geração dourada” argentina seria capaz de fazer. No elenco italiano, a presença de Manu Ginobili. No elenco espanhol, Fabricio Oberto e Luis Scola.

Curiosamente esta foi a primeira e única vez que semifinais e finais foram jogadas em sistema de playoffs. A partir da segunda edição foi adotado o sistema de Final Four, com estas etapas sendo jogadas em jogo único, em uma sede única. Porém, o número de participantes e o formato das fases prévias sofreram mudanças ao longo destas 20 temporadas.

Na temporada de 2001/02, agora já com a participação das principais forças do continente e já sem a concorrência da FIBA, foram inseridas duas fases de classificação. A primeira, chamada de “Temporada Regular”, onde as equipes eram geralmente divididas em grupos maiores, e uma segunda fase, intitulada “Top 16”, que como o próprio nome diz, era composta pelas 16 melhores equipes da Temporada Regular. Esses 16 times eram divididos em quatro grupos de quatro equipes ou dois grupos de oito. As quartas-de-final voltariam a ser jogadas no formato de playoff na temporada 2004-05.

Os formatos da Euroliga com a Temporada Regular e Top 16 até a temporada 2015-16 e seus respectivos números de datas foram os seguintes:

  • 2001-02: 32 times na fase regular, divididos em quatro grupos de oito, se classificando os quatro melhores de cada grupo. Top 16 com quatro grupos de quatro, com o campeão de cada grupo avançando para o Final Four. 22 datas, portanto (14 TR + 6 T16 + 2 FF).
  • 2002-03 e 2003-04: 24 times na fase regular, divididos em três grupos de oito, classificando-se os cinco melhores de cada grupo e mais o melhor sexto colocado. Top 16 com quatro grupos de quatro, com o campeão de cada grupo avançando para o Final Four (22 datas – 14 TR + 6 T16 + 2FF).
  • 2004-05 até 2007-08: O mesmo sistema anterior, porém no “Top 16” avançavam duas equipes por grupo para as oitavas de final, que foram jogadas em série de playoff de melhor de três. Os vencedores de cada série avançavam para o Final Four (aqui, um aumento de três datas – 25 datas totais)
  • 2008-09 até 2012-13: Na temporada regular, as 24 equipes passaram a ser distribuídas em quatro grupos de seis equipes cada, avançando as quatro melhores para o Top 16, de onde avançavam para as oitavas as duas melhores de cada grupo. As oitavas-de-final passaram a ser jogadas em melhor de cinco jogos. (Total de 23 datas, 10 TR + 6 T16 + 5 PO + 2 FF).
  • 2013-14 até 2015-16: Temporada regular igual ao sistema anterior, mas o Top 16 passou a ter dois grupos de 8 equipes. Os 4 melhores avançavam para as quartas que eram jogadas em séries de melhor de 5 jogos. Os vencedores de cada série avançavam para o Final Four. Neste formato houve aumento substancial de datas. Agora eram 31 datas no total (10 FR + 14 T16 + 5 PO + 2 FF).

Todas estas temporadas tiveram, antes da temporada regular, fases preliminares valendo classificação para a fase regular. Apesar de já se apresentar com uma mentalidade mais restritiva, a Euroliga tinha um caráter mais democrático, com clubes de um leque maior de países envolvidos participando.

Neste período também surgiram as famosas licenças “A”. O que seria isso? Para alguns clubes (os mais tradicionais e poderosos) era a garantia de participação direto na fase de grupos, em todas as temporadas, independente do desempenho em sua liga doméstica. As únicas exigências eram que o clube tivesse um investimento mínimo e se mantivesse na 1° divisão de sua liga nacional. Houve situações que um campeão nacional tinha que disputar a fase preliminar, enquanto um clube da mesma liga, que havia terminado em uma posição inferior, mas possuía uma licença, entrava direto na fase de grupos. Aqui não custa lembrar que a Euroliga é uma empresa com acionistas, logo a oferta de dinheiro sempre será parte importante da equação.

Temporada 2016-17: a grande mudança

EuroLeague 2016-17 Final Four
O Fenerbahçe foi o primeiro campeão da Euroliga em seu atual formato, em 2017

A temporada 16-17 sacudiu o basquete europeu. A Euroliga mudava novamente seu formato. Apenas 16 clubes, sendo 11 com licença e, portanto, fixos. São eles: Anadolu Efes (TUR), Barcelona (ESP), Baskonia (ESP), CSKA Moscou (RUS), Fenerbahçe (TUR), Maccabi Tel Aviv (ISR), Olympiacos (GRE), Olimpia Milano (ITA), Panathinaikos (GRE), Real Madrid (ESP) e Zalgiris Kaunas (LIT). As cinco vagas restantes foram distribuídas da seguinte forma:

  • uma para o campeão (ou melhor colocado) da Bundesliga (ALE);
  • uma para o campeão (ou melhor colocado) da VTB League (uma liga regional com clubes de alguns países da ex-URSS, mas majoritariamente da Rússia);
  • uma para o campeão (ou melhor colocado) da ABA League (uma liga regional com clubes de alguns países da ex-Iugoslávia);
  • uma para o campeão da EuroCup, a competição de segundo nível do grupo EuroLeague;
  • uma para um clube convidado (wild card).

Esta foi de fato, a primeira vez que a competição assumia realmente a forma de uma liga. A fórmula de disputa foi bem simples, com jogos de ida e volta entre os 16 times na temporada regular (30 datas, portanto), com os oito primeiros se classificando para as quartas-de-final, jogadas em série de melhor cinco jogos. Os vencedores de cada série avançavam para o Final Four, terminando com 37 datas no total.

Este novo formato, que seria repetido nas temporadas 17-18 e 18-19, não passou ileso de críticas no mundo do basquete europeu. Se para alguns, era a celebração de colocar o basquete do continente no mais alto grau de profissionalismo e em um modelo de negócio que pegava um caminho mais em direção à NBA, para outros a competição estava totalmente em desacordo com a cultura esportiva europeia. Afinal, uma competição continental deveria abranger o maior número de países possível. Além disso, com um maior número de datas, haveria menos datas (além de atenção e, consequentemente, dinheiro) para as ligas nacionais.

A temporada 19-20, que foi cancelada devido à pandemia da COVID-19, apresentou mais um movimento expansionista. De 16 clubes, passou a ter 18. Além dos 11 times com licenças fixas, foram adicionados um wild card a mais e também o campeão ou melhor colocado da ACB. Bayern de Munique (ALE) e o ASVEL (clube francês de propriedade do ex-armador Tony Parker) receberam convites de dois anos. Após este período haverá uma reavaliação e ambos podem receber uma licença definitiva. Considerando que os mercados alemão e francês são estratégicos e não possuem nenhum clube com licença definitiva, a probabilidade de serem aceitos é bem grande. E claro, com adição destes dois times, a liga ganhou mais quatro datas, tendo 41 possíveis (19 a mais do que a primeira temporada).

No próximo texto desta série, falaremos da EuroCup, a competição de segundo nível do grupo EuroLeague. Para os leitores que estão mais acostumados com o mundo do futebol, podemos fazer a seguinte comparação: a Euroliga é a “UEFA Champions League” e a EuroCup é a “UEFA Europa League”.

Para trazer ainda mais luz para o entendimento de como se distribuem as atuais 18 vagas para a Euroliga, criamos essas três imagens para exemplificar de uma maneira mais visual. Ao cancelar a temporada 2019-20 no final de maio, a liga estabeleceu que, para a temporada seguinte, todos os 18 clubes que disputaram esta temporada serão mantidos em 2020-21.

eUROLIGA

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By Tabela de Ferro

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