Este texto faz parte da série dedicada a contar um pouco da história e de como estão estruturadas as principais ligas nacionais do basquete europeu hoje. Clique aqui para ler os outros textos desta série.

Lega Basket Serie A (LBA)🇮🇹

1. Informações gerais

Organizado por: Lega Basket, órgão delegado pela Federazione Italiana Pallacanestro (FIP, em português, “Federação Italiana de Basquetebol”) para organizar o campeonato, a copa e a supercopa nacionais, bem como seu Jogo das Estrelas;
Fundação: 1920, com 99 edições já disputadas;
Número atual de clubes: 16;
Formato atual: cada clube disputa uma temporada regular de 30 jogos, que correspondem a dois jogos contra cada adversário, em sistema de turno e returno. Ao fim da temporada regular, os oito primeiros colocados disputarão as quartas-de-final em séries melhor de cinco jogos. Os quatro vencedores jogam as semifinais, também em melhor de cinco, enquanto os dois times que forem às finais disputarão entre si uma série melhor de sete. O último colocado na temporada regular é rebaixado para a Serie A2;
Copa nacional: a copa nacional italiana é chamada Coppa Italia. No formato atual, ela é disputada anualmente em uma semana pré-determinada de fevereiro, com os oito primeiros colocados do primeiro turno da Serie A em disputa no mesmo ano. Os oito clubes se enfrentarão em quartas-de-final, semifinais e final, todas em jogo único, para se definir o campeão.

Clubes atuais
Confira na tabela abaixo os 16 clubes que disputarão a Serie A na temporada 2021-22.

Mas, antes, uma curiosidade cultural: no basquete italiano, semelhantemente ao futebol do país, a maioria dos clubes são chamados com gênero feminino.

Logo Pallacanestro Trieste 2018.png
Trieste
Trieste, Friuli-Venezia Giulia
Olimpia Milano logo 2019.png
Olimpia Milão
Milão, Lombardia
Logo Dinamo Sassari.png
Dinamo Sassari
Sassari, Sardenha
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Treviso
Treviso, Vêneto
Aquila Basket Trento logo.svg
Trentino
Trento, Trentino-Alto Adige
Stemma Fortitudo Bologna.png
Fortitudo Bolonha
Bolonha, Emilia-Romanha
Basket_Brescia_Leonessa_Logo
Brescia Leonessa
Brescia, Lombardia
Logo Pallacanestro Reggiana.png
Reggiana
Reggio Emilia, Emilia-Romanha
New Basket Brindisi logo 2017.png
Brindisi
Brindisi, Apúlia
Pallacanestro Varese logo 2014.png
Varese
Varese, Lombardia
Virtus Bologna Logo.png
Virtus Bolonha
Bolonha, Emilia-Romanha
Logo Reyer.png
Reyer Venezia
Veneza, Vêneto
Logo Vanoli Basket 2019.png
Vanoli Cremona
Cremona, Lombardia
Logo Victoria Libertas Pallacanestro 2019.png
Victoria Libertas Pêsaro
Pêsaro, Marche
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Derthona
Tortona, Piemonte
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Napoli
Nápoles, Campânia

Maiores campeões

Assim como no futebol, o campeão italiano terá bordado em sua camisa na temporada seguinte o famoso scudetto (no plural, scudetti), identificando sua condição de campeão nacional. Eis a lista com os dez clubes que mais vezes foram campeões italianos e o número de scudetti:

2. O que a liga representa hoje

Jogadores da Reyer Venezia em uma das partidas das finais de 2018-19, na qual o clube conquistou seu quarto scudetto

Apesar de hoje ele ser apenas uma sombra do que foi em seus dias de glória, o campeonato italiano é, sem dúvidas, a liga nacional mais vitoriosa da história do basquete europeu. Nenhum outro país produziu mais clubes campeões da Euroliga, com sete times levantando o troféu máximo da Europa.

Após a última conquista da competição por um clube italiano, em 2001, a Espanha levou 17 anos para, hoje, estar empatada com a Itália em números totais de títulos da Euroliga, tendo ambas hoje 13 conquistas. No caso da Espanha, esses 13 títulos se dividem entre apenas três clubes, sendo dez deles só do Real Madrid. Quando levamos em consideração todas as competições europeias de clubes na história, até hoje, nenhum país venceu mais que a Itália, com 38 conquistas (13 Euroligas, 15 Copas Saporta, 10 Copas Korać).

Mas desde a virada do século, em que a política tem interferido muito com o dia-a-dia das ligas nacionais, afetando grandemente sua relevância, a Serie A perdeu muito de sua força. Hoje, campeonatos como o da Turquia, da França e da Alemanha, além das ligas regionais que foram formadas, a Liga VTB e a Liga Adriática, têm atraído mais renda televisiva e investimento. Isso sem mencionar, é claro, a ACB (Espanha), que é a liga doméstica de mais sucesso no mundo depois da NBA.

O site Eurohoops, parceiro de imprensa oficial da Euroliga, faz um ranking anual das principais ligas domésticas, levando em consideração o dinheiro investido (considerando também a renda televisiva), o interesse do público, a infraestrutura e a transparência financeira das mesmas. No último ranking publicado, no segundo semestre de 2019, eles colocaram a Serie A como a quinta maior liga do continente. De acordo com o rankeamento, os aspectos positivos do campeonato da Bota são o nível alto de talento e sua tradição, enquanto os negativos são a grande desorganização e diversos problemas extra quadra, como o alto número de ações trabalhistas. Ela fica abaixo do organizadíssimo campeonato francês, apesar deste ter um nível técnico menor.

Sem ter mais a chance de enviar clubes diretamente para a Euroliga (privilégio hoje limitado apenas às ligas da Alemanha e da Espanha), o campeonato italiano, bem como todas as outras ligas nacionais, precisam se reinventar para não perder seu significado. Timidamente, clubes grande do país têm flertado com a Basketball Champions League, sendo o exemplo mais claro disso a Virtus Bologna, campeã da competição na temporada 2018-19 (foto acima), que também foi disputada pela Reyer Venezia, que seria a campeã italiana daquela temporada.

3. História e grandes times

O domínio dos times de Milão no pré-Guerra (1920 a 1943)

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Um dérbi entre ASSI Milano e Internazionale, em 1921

Os primórdios do campeonato italiano, como em qualquer outro país, viram o esporte e a estrutura das competições sendo extremamente rudimentares, se comparados ao que conhecemos hoje. Para se ter uma idéia, há registros de jogos nessa época em quadras de terra! O primeiro campeonato italiano, por exemplo, teve apenas oito times e foi disputado em apenas quatro dias, indo das quartas-de-final à final, todas em jogo único, com placares exóticos como a vitória de 27 a 1 do Forza e Coraggio Brescia sobre a Reyer Venezia. Os campeões foram os milaneses da Costanza Milano, que dariam início a um grande domínio de clubes da capital lombarda nos anos seguintes.

Até a pausa forçada pela Segunda Guerra Mundial, entre 1943 e 1945, quatro clubes diferentes de Milão ganharam 12 dos 23 scudetti disputados: Costanza, ASSI Milano e a Internazionale (aquela mesmo) venceram os oito primeiros. Depois, entre 1928 e 1935, a Ginnastica Triestina (que é hoje a Trieste) e a extinta Ginnastica Roma venceram alternadamente os próximos sete campeonatos. A partir de 1936, a Dopolavoro Borletti (também chamada de Borletti Milano, que posteriormente se tornaria a Olimpia Milano) voltou a trazer o scudetto para Milão, vencendo um tetracampeonato até a temporada 1938-39. Nas quatro temporadas antes da Guerra, a Triestina voltou a vencer o título, após chegar perto nos anos anteriores e venceu dois scudetti seguidos. Mesmo feito alcançou a Reyer Venezia em 1942 e 1943.

Os primeiros sucessos da Virtus Bologna e a primeira dinastia da Olimpia (1946 a 1967)

A Virtus Bologna da temporada 1946-47, com o primeiro scudetto de sua história já bordado

Ao fim do conflito, o basquete italiano voltou ao normal. A presença do exército dos EUA no país ajudou a mudar o estilo de jogo dos italianos. Até ali, o esporte era jogado como futebol, com jogadores em posições fixas no campo de jogo, ao invés dos dois quintetos indo e voltando entre defesa e ataque. Nessa retomada, pela primeira vez um time de Bolonha exerceria sua dominância.

A Virtus Bologna dominou a segunda metade da década de 1940, se tornando o terceiro clube a vencer um tetracampeonato, entre 1946 e 1949. Contribuiu muito para o sucesso dos bolonheses o fato de que a outrora fortíssima Borletti Milano havia sido rebaixada para segunda divisão em 1947. Mas, no mesmo ano, o time se fundiria com outro clube de Milão, a Pallacanestro Como, criando oficialmente a Olimpia Milano que conhecemos hoje.

Jogadores da Olimpia Milano erguem o troféu da Copa dos Campeões (Euroliga) de 1965-66, sendo o primeiro clube italiano na história a fazê-lo

Com a criação oficial da Olimpia Milano, o basquete italiano conheceria sua primeira grande dinastia. Entre 1950 e 1967, o clube lombardo venceria incríveis 14 scudetti, incluindo um pentacampeonato (1950 a 1954), um tetracampeonato (1957 a 1960) e um tricampeonato (1965 a 1967). Nascia ali, também, a maior rivalidade do país, com a Virtus Bologna sendo vice-campeã sete vezes, seis delas contra a Olimpia. Mas as “Vu Nere” foram também um dos dois únicos clubes a fazerem frente ao esquadrão milanês, vencendo dois scudetti no período, em 1955 e 1956, este último em cima da grande rival. O sucesso da Olimpia do período foi ainda mais coroado em 1966, quando o clube venceu Euroliga (na época, chamada Copa dos Campeões), o primeiro italiano a fazê-lo. Foi nesse período, também, que a Olimpia recebeu o apelido de “Scarpette Rosse” (em português, “sapatinhos vermelhos”), pelos calçados vermelhos da Converse que os jogadores usavam em quadra.

A dinastia italiana e europeia da Varese (1969 a 1979)

Aquela geração fantástica da Olimpia perderia força ao fim da década de 1960 e daria lugar para outra, talvez ainda mais impressionante, da Varese. Ao lado da Virtus Bologna, o clube foi o único a incomodar a Olimpia na década, vencendo dois scudetti (1961 e 1964), além de cinco vice-campeonatos.

Foto storica della Ignis con Dino Meneghin in primo piano
A Varese, do pivô Dino Meneghin (#11), teve talvez o melhor time da Itália e da Europa durante a década de 1970

Nas dez temporadas entre 1969 e 1978, aquele incrível time venceria sete scudetti, incluindo um tricampeonato (1969 a 1971), que se não tivesse sido interrompido pela Olimpia em 1972, poderia ter se tornado um hexa, pois a Varese venceria outro bicampeonato logo depois (1973 e 1974). Mas o que mais impressiou sobre aquele timaço foi seu desempenho na Europa. A Varese naquela década estabeleceria o recorde de inacreditáveis dez finais da Euroliga consecutivas! Até o dia de hoje nenhum clube conseguiu igualar o feito. Dessas dez, a Varese venceria cinco, tornando-se o maior campeão europeu, ao lado do Real Madrid. Eles também seriam campeões mundiais duas vezes (1970 e 1973).

O esquadrão varesino era recheado de estrelas, entre elas, aquele que é considerado o maior jogador italiano da história, o pivô Dino Meneghin, que teve sua melhor temporada em 1975, com uma média de 18,8 pontos por jogo. Ao lado do também pivô Renato Villalta (Virtus Bologna), ele comandou a melhor geração da história da seleção italiana, que alcançou resultados como a prata nos Jogos Olímpicos de Moscou (1980), o primeiro ouro no EuroBasket (1983) e mais três bronzes europeus. O campeonato italiano também viveu um boom de jogadores estrangeiros no período, com nomes como Bob Morse, Chuck Jura, Bob Lienhard, Steve Hawes, Willie Sojourner, Tom McMillen, Peter Skansi, Kresimir Kosic e Mike D’Antoni.

A década de ouro dos clubes italianos: cinco títulos europeus, em oito semifinais (1977 a 1988)

Mike D’Antoni e Bob McAdoo, ambos vindos da NBA, estrelas do bicampeonato europeu da Olimpia

Todo esse sucesso da Varese na década de 1970 serviu como precursor para um sucesso italiano ainda maior na década seguinte. Com o fim da dominância da Varese, após o nono scudetto em 1978, diversos clubes se fortaleceram, buscando tomar seu lugar. Nos anos seguintes, quatro clubes diferentes se sagrariam campeões italianos: três vezes a Virtus Bologna (1979, 1980 e 1984), quatro vezes a Olimpia (1982, 1985-87) e um título cada entre Cantù (1981), Virtus Roma (1983) e Pesaro (1988). Mas foi no nível internacional que os clubes italianos deixaram bem claro que a Serie A era o campeonato mais forte da Europa Ocidental no período.

Após a décima final seguida da Varese na Euroliga, em 1979, pelo menos um clube italiano apareceu na semifinal do principal torneio do continente oito vezes nos nove anos seguintes. Em cinco destas o troféu foi para a Itália: a Cantù foi bicampeã (1982 e 1983), a Virtus Roma beliscou o seu (1984) e a Olimpia retornaria ao topo com o seu próprio bicampeonato (1987 e 1988). Este time da Olimpia foi um dos melhores de sua história, contando com D’Antoni, Meneghin e a lenda da NBA Bob McAdoo. Não fosse o bicampeonato do Cibona Zagreb, de Dražen Petrović, clubes italianos poderiam ter vencido sete Euroligas seguidas.

derby
A Cantù foi bicampeã europeia na década de 1980, após dominar as competições de segundo nível nos anos anteriores

Mas não foi apenas na Euroliga que o sucesso europeu dos italianos era visto. Nas ligas de nível abaixo, a Copa Saporta e a Copa Korać, os italianos faturaram incríveis 13 troféus entre 1973 e 1986. A Cantù, por exemplo, venceu a Saporta quatro vezes entre 1977 e 1981, antes do bicampeonato da Euroliga. Os títulos foram parte de uma seqüência de seis conquistas seguidas de italianos no torneio.

A década bolonhesa e o breve ápice da Benetton Treviso (1993 a 2007)

O scudetto da VL Pesaro em 1988 deu início a um período de diversos campeões até 1992. Mas a partir dali, quem dominaria o basquete italiano seriam os dois times de Bolonha. Entre as temporadas 1992-93 e 2001-02, a Virtus Bologna e a Fortitudo Bologna se tornariam as protagonistas não só nacionalmente, mas também na Europa. Elas venceriam seis dos nove scudetti disputados no período (cinco da Virtus e um da Fortitudo) e apareceriam em cinco Final Fours da Euroliga entre 1998 e 2004. Inclusive, em dois destes (1999 e 2001) elas se enfrentariam na semifinal, com a Virtus eliminando o arquirrival em ambas as oportunidades.

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Sašha Danilović (esq., #5) e Carlton Myers (dir., #10), em um dos vários tensos dérbis de Bolonha na década de 1990

Sem dúvidas a Virtus do técnico Ettore Messina foi o último grande time italiano a dominar em níveis nacional e europeu. O técnico, considerado o maior da história do país, formou a base do time entre 1989 e 1993, levando-o ao primeiro scudetto do tricampeonato, antes de deixar o time para comandar a seleção italiana. A base da equipe, comandada dentro de quadra pelo iugoslavo Predrag “Sašha” Danilović, era tão forte que eles venceram os dois scudetti seguintes mesmo sem Messina. Quando este retornou ao clube, no verão de 1997, ele comandaria o time a outros dois scudetti (1998 e 2001), sendo que em ambas as temporadas, além do scudetto, a Virtus Bologna também venceu o título da Euroliga, além de serem vice-campeões europeus na temporada 1998-99. No título de 2001, especificamente, o clube venceu o histórico “triplete”: campeonato italiano, copa da Itália e Euroliga. Sua principal estrela naquela conquista foi o argentino Manu Ginóbili, eleito MVP da Serie A, da Coppa Italia e das finais da Euroliga.

A rival Fortitudo ficou quase sempre a um detalhe de grandes vitórias. O time sofreu amargas derrotas para o maior rival em momentos-chave, como nas duas semifinais da Euroliga e em duas finais da Serie A (1998 e 2001). Na finalíssima de 1998, inclusive, vestia a camisa do time o lendário Dominique Wilkins. Pelo menos uma vitória relevante sobre a Virtus eles puderam comemorar, que foi na final da Serie A de 1999-00, em que o clube conquistou seu primeiro scudetto. A base do time permaneceria forte para os anos seguintes, mas a sorte não sorriu para o clube, que amargou cinco vice-campeonatos no italiano nos sete anos após a vitória máxima em 2000. Além dos vices nacionais, a Fortitudo também “bateu na trave” quando finalmente alcançou a final da Euroliga, na temporada 2003-04, e foi atropelada pelo Maccabi Tel Aviv. Como prêmio de consolação para aquela excelente equipe, a Fortitudo venceria seu segundo scudetto na temporada seguinte.

A Virtus Bologna foi tão vitoriosa nesse período que eles acabaram ofuscando um pouco o sucesso de outro grande time, a Benetton Treviso. O clube havia sido fundado em 1954 e teve três diferentes nomes nas primeiras três décadas de existência, nas quais sempre teve dificuldades para alcançar e se manter na primeira divisão. Mas tudo mudou quando a família Benetton, dona de uma empresa de mesmo nome no ramo da moda, decidiu patrocinar o time, que era do mesmo estado que a empresa.

A Benetton Treviso celebra seu quinto scudetto, em 2006

No final da década de 1980, o clube se firmaria na primeira divisão e conseguiria o impensável: na temporada 1991-92, venceria seu primeiro scudetto, com um time comandado pelo astro Toni Kukoč. No ano seguinte, eles ficariam a cinco pontos do título da Euroliga, perdendo a final para os franceses do Limoges. Nos anos seguintes, o time ainda venceria quatro copas da Itália, outros quatro scudetti (1997, 2002, 2003 e 2006), duas Copas Saporta (1995 e 1999) e uma Copa Korać. Entre 1993 e 2003, o time apareceria quatro vezes no Final Four da Euroliga, incluindo o vice-campeonato para o Barcelona em 2003. O clube foi a grande equipe italiana que brevemente conectou a histórica Virtus Bologna dos anos 1990 com a próxima grande dinastia italiana. Infelizmente, a agremiação encerrou suas atividades no basquete profissional em 2012 e hoje trabalha apenas com categorias de base.

A dinastia da Mens Sana Siena e seu fim obscuro (2003 a 2013)

Enquanto todos os olhos ainda estavam voltados para a dupla de Bolonha e a Benetton, discretamente um clube antigo, mas ainda sem grandes sucessos, começava a se posicionar para surpreender a todos. A Mens Sana Basket, da cidade de Siena, havia sido fundada ainda na década de 1930, mas nunca conseguiu se firmar na primeira divisão antes de 1994. Em 2000, essa realidade mudaria, quando o banco Montepaschi, da própria cidade, passaria a ser o patrocinador principal do clube.

A história vitoriosa da Montepaschi Siena começou na temporada 2001-02, quando o clube venceu o primeiro título profissional de sua história, a Copa Saporta, sem grandes estrelas, mas com um time muito bem treinado pelo turco Ergin Ataman, recheado de estrangeiros. Com o quinto lugar na Serie A daquele ano, o time herdaria a vaga para a primeira Euroliga de sua história da Cantù, que desistiu da mesma por problemas financeiros. Para a surpresa de todos, a equipe, mesmo após ter feito uma temporada regular muito ruim, conseguiu se classificar para o Final Four, sobrevivendo a um “grupo da morte” que tinha a Fortitudo, o Panathinaikos e o Fenerbahçe. Eles caíram diante da Benetton na semifinal, mas uma mensagem havia sido enviada com aquela campanha.

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A Montepaschi foi um dos melhores times da história da Serie A, vencendo oito scudetti, sendo sete consecutivos. Mas um escândalo de corrupção acabou anulando dois títulos e levando o clube à falência

Na temporada 2003-04, veio a confirmação. Após ter a melhor campanha na temporada regular, a Montepaschi alcançou sua primeira final da Serie A, contra a Fortitudo, e garantiu seu primeiro scudetto. Após passar em branco nas duas temporadas seguintes, caindo ainda nas quartas-de-final da Serie A, na temporada 2006-07 a Montepaschi iniciaria a maior sequência de títulos da história do campeonato italiano: sete scudetti consecutivos (de 2007 a 2013). Um time extraordinário, recheado de estrangeiros, mas sem grandes estrelas. Pelo menos até a chegada de Bo McCalebb, em 2010, mas que nem ali já era uma estrela. Nesse heptacampeonato, a Montepaschi foi devastadora, terminando como líder da temporada regular em seis delas, vencendo mais de 84% de seus jogos. No período, eles também alcançariam outros dois Final Fours da Euroliga (2008 e 2011), mas caindo na semifinal em ambos. Esta aparição de 2011 segue, até hoje, como a última de um clube italiano.

Porém, em 2014 explodiu o caso de corrupção envolvendo membros da diretoria do clube em anos anteriores, que vinham sendo investigados por diversos crimes, incluindo evasão de impostos e o emprego de funcionários clandestinos. Em outubro de 2014, poucos meses após o clube ter alcançado uma nova final da Serie A (perdendo para a Olimpia), o mesmo declarava sua falência. Em 2016, com a condenação dos dirigentes do time investigados pelas fraudes fiscais, a FIP decidiu punir o clube com a revogação dos últimos dois scudetti vencidos em 2012 e 2013.

O fim do jejum da Olimpia e os anos de treva na Europa (2014 até hoje)

Com o fim do “reinado” da Montepaschi, a Olimpia pôde finalmente voltar à condição de maior potência nacional. Eles venceram a Montepaschi em quadra para conseguir o scudetto na temporada 2013-14, seu primeiro desde 1996, com uma virada fantástica nos dois últimos jogos da série final. Desde tal temporada, a Olimpia venceu outros dois scudetti (2016 e 2018), chegando à incrível marca de 28. Contudo, mesmo com o orçamento confortavelmente maior que o de qualquer time italiano, graças à fortuna do dono do time, Giorgio Armani, a Olimpia vem fazendo uma campanha medíocre atrás da outra nas competições europeias.

A Dinamo Sassari vence seu primeiro scudetto, em 2015

Poucos times foram capazes de incomodar a Olimpia nos últimos cinco anos, com a emergente Dinamo Sassari faturando o scudetto de 2015 (após ter vencido a Coppa Italia na temporada anterior) e a Reyer Venezia voltando a vencer um italiano depois de mais de 70 anos, com os scudetti de 2017 e de 2019. Na temporada 2019-20, que foi cancelada pela ameaça do COVID-19, a Virtus Bolonha vinha liderando o campeonato e jogando o melhor basquete do país, dando grandes sinais de que o investimento do novo dono, Massimo Zanetti (que comprou o time após o rebaixamento de 2016), daria o retorno esperado.

Na temporada passada, esse retorno finalmente veio para a Virtus. O time conquistou o seu primeiro scudetto em 20 anos, com uma campanha histórica nos playoffs. No “mata mata”, o clube bolonhês não perdeu nenhum jogo, concluindo uma varrida impiedosa para cima da Olimpia na final. O time ainda ficou a uma vitória de alcançar a final da EuroCup, o que lhe daria vaga para a Euroliga, mas o time foi eliminado na semifinal para o UNICS Kazan.

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