Texto enviado pelo colaborador Luiz Eduardo Gomes

Continuando a série “Como Funcionam as Ligas Europeias?” (o primeiro episódio você lê aqui, pois é importante para entender todo o contexto), agora vamos para as competições de nível intermediário. Este que hoje, apesar de não ser o nível mais alto do basquete de clubes europeu, representa o território estratégico na guerra entre o grupo EuroLeague e a FIBA, que organizam, respectivamente, EuroCup e a Basketball Champions League. O capitulo de hoje é dedicado à primeira.

EuroCup

Início: uma provocação à FIBA

O início oficial da EuroCup aconteceu na temporada 2002-03, mas, para explicá-lo, vamos retornar até abril de 2001. Nesta época, ocorria uma negociação entre a ULEB (União das Ligas de Basquete Europeias), que estava concluindo a temporada inaugural da sua recém-criada competição (a Euroliga), e a FIBA, que até então era a responsável exclusiva pela organização de todos os torneios continentais interclubes. A proposta que estava sobre a mesa contemplava a FIBA ficando responsável pela organização do torneio na temporada 2001/02, enquanto a ULEB seria uma espécie de fiscal da parte financeira. Este acordo esteve muito perto de ser oficializado, mas como tudo na relação ULEB/EuroLeague é beligerante, o final acabou em desentendimento. O resultado final foi muito favorável à ULEB: controle total sobre uma competição de clubes europeia, agora com a nata do basquete europeu (na temporada 2000-01, CSKA Moscou, Panathinaikos e Maccabi Tel Aviv ainda estavam com a FIBA).

Assim, na temporada 2001/02, sobrou para a FIBA a organização das competições de 2º e 3º escalões, que na época levavam o nome de Copa Saporta e Copa Korać, respectivamente. Porém, em julho de 2002, a ULEB dava mais um passo para alijar a FIBA do basquete de clubes da Europa e criava a Copa ULEB, que seria sua competição secundária na hierarquia das competições europeias. Prometendo aos clubes de segundo escalão um melhor resultado financeiro e uma competição com 32 clubes, como se vê na imagem abaixo, a ULEB também aproveitou para mandar um aviso aos possíveis traidores (veja a parte destacada em vermelho).

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A parte marcada em vermelho diz: “Os clubes que renunciarem a uma vaga atribuída a eles na Copa ULEB para participar das competições da FIBA não poderão participar de futuras competições organizadas pela ULEB“.

Ameaças feitas, a primeira edição da Copa ULEB acabou contando com 24 participantes, ao invés dos 32 inicialmente planejados. Quatro grupos de seis equipes, com os quatro melhores de cada chave avançando para os playoffs. Oitavas, quartas e semifinais e finais foram jogadas em duas partidas, com a regra do “placar agregado”, que consistia na simples soma dos placares das duas pelejas (note que por este regulamento uma partida poderia terminar empatada). Na série final, jogada em abril de 2003, o Valência levou o caneco ao vencer duas vezes o Krka, da cidade eslovena de Novo Mesto. No elenco do time espanhol, destacamos os argentinos Fabricio Oberto e Alessandro Montechia, que um ano depois seriam campeões olímpicos com a Argentina, e o sérvio Dejan Tomašević (MVP do torneio), que um ano antes havia ganho o título mundial com a seleção da Iugoslávia (na época formada por Sérvia e Montenegro).

Vaga para a Euroliga e mudança de nome

A Copa ULEB apresentou inicialmente um caráter mais aberto à participação de clubes de todo o continente, sendo, por motivos óbvios, uma competição mais abrangente que a Euroliga. O formato de disputa até a temporada 2007-08 foi basicamente uma fase de grupos seguida por playoffs a partir das oitavas de final. As principais variações eram o número de participantes, que chegou a 54 na temporada 2007-08, e a final, que a partir da segunda temporada passou a ser em jogo único. Na temporada 2004-05, houve uma adição substancial no prestigio da competição. A partir desta temporada, o campeão desta copa assegurava vaga na Euroliga da temporada seguinte.

Na temporada 2008-09, por questões de marketing, a competição mudaria de nome. Passaria a se chamar Eurocup, nome que mantém até os dias atuais. Mas nesta temporada não foi só o nome que foi alterado. O formato também sofreria mudanças. Uma segunda fase de grupos foi adicionada e os playoffs transformados em um final eight – oito times jogariam jogos eliminatórios em uma sede fixa (Turim, na Itália foi o local escolhido). Este formato perdurou até a temporada 2010-11.

A partir da temporada 2011-12 as oitavas-de-final passaram a ser disputadas em melhor de dois jogos (com a regra do placar agregado) e, especificamente nesta edição, as semifinais e as finais foram disputadas em formato de Final Four.

Em 2013-14, a intersecção com a Euroliga foi aumentada. A segunda fase da Eurocup, além dos classificados da fase anterior, também passou a receber as equipes eliminadas nas duas primeiras fases da Euroliga. Se isso significava um acréscimo na parte técnica e na visibilidade, ao mesmo tempo era desestimulante para quem estava na competição desde o início. O caminho até o título ganhava obstáculos maiores.

No ano seguinte, houve a consolidação de um formato de disputa da Eurocup. Duas fases de grupo e playoffs, com algumas variações quanto à fase eliminatória. Algumas edições começando a partir das oitavas e outras já arrancando das quartas. O tamanho das séries também variou. Houve temporadas com séries em melhor de dois e outras em melhor de três jogos. Desde a temporada 2016-17 os playoffs têm sido disputados a partir das quartas, com séries disputadas em melhor de três jogos.

Concorrência da FIBA

O caminho até a Eurocup sempre foi baseado no desempenho dos clubes nas ligas domésticas, sem o sistema de licenças. Com o retorno da FIBA ao cenário de clubes do basquete europeu em 2016, com a criação da Basketball Champions League, uma outra opção de disputa para os clubes do segundo escalão surgiu. Se em um primeiro momento a entidade que dirige o basquete mundial voltou seus olhares para a Euroliga, atualmente a Eurocup é vista como um bloco onde deserções são bem possíveis. Nesta temporada, uma conquista até interessante: o Galatassaray da Turquia decidiu que não mais disputará a Euroliga ou a Eurocup (as duas competições do grupo EuroLeague) e se comprometeu em competir no torneio da FIBA. Além disso, o desentendimento entre o grupo EuroLeague e  um de seu membros mais poderosos, o Panathinaikos, rendeu até um flerte da FIBA com o lado verde de Atenas.

Aliás, esta disputa entre EuroLeague e FIBA promete altas emoções nos próximos anos.

Mas isso é assunto para outro texto. No próximo episódio desta série, nós falaremos sobre a Basketball Champions League, a competição da FIBA que hoje é tida como o terceiro nível da hierarquia, mas que é uma aposta da instituição para fazer frente à própria Euroliga, no futuro.

By Tabela de Ferro

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