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Ficha técnica
Nome:
Arvydas Sabonis;
País: Lituânia🇱🇹;
Nascimento: 1964;
Posição: pivô;
Carreira: de 1981 a 2004;
Principais Títulos: pelos clubes, campeão da Euroliga (1995), campeão do Mundial de Clubes da FIBA (1986), 3x campeão soviético (1985 a 1987), 2x campeão espanhol (1993 e 1994), campeão da copa da Espanha (1993), campeão lituano (2004); pela seleção, medalhas de ouro (1988, com a U.R.S.S.) e duas de bronze (1992 e 1996, com a Lituânia) nos Jogos Olímpicos, medalha de ouro (1982) e de prata (1986) na Copa do Mundo (ambas com a U.R.S.S.), medalha de ouro (1985, com a U.R.S.S.), de prata (1995, com a Lituânia) e duas de bronze (1983 e 1989, com a U.R.S.S.) no EuroBasket;
Honras: pelos clubes, MVP do Final Four da Euroliga (1995), MVP da temporada regular e do Top 16 da Euroliga (ambos em 2004), 2x MVP do campeonato espanhol (1994 e 1995), 2x MVP das finais do campeonato espanhol (1993 e 1994), 2x MVP do Jogo das Estrelas do campeonato espanhol (1991 e 1992), eleito um dos 50 maiores contribuidores da história da Euroliga (2008), eleito um dos 50 maiores jogadores da FIBA (1991), eleito para o melhor time de calouros da NBA (1996), camisa #11 aposentada pelo Zalgiris; pelas seleções, MVP do EuroBasket (1985, com a U.R.S.S.);

Por Thiéres Rabelo e o colaborador Arthur França

De longe o maior jogador lituano da história e possivelmente um dos cinco melhores entre europeus, Arvydas Sabonis poderia ter tido uma carreira bem diferente, caso não tivesse vivido em meio a um contexto de Guerra Fria. Ainda assim, isso não freou o sucesso do craque lituano, que colecionou grandes títulos e honras individuais em 23 anos de carreira. Seu retrospecto positivo não ficou restrito apenas às ligas nacionais, pois no basquete internacional Sabonis também tem uma lista invejável pelas duas seleções que defendeu.

A ascensão pelo Zalgiris e a primeira frustração

Arvydas iniciou sua carreira aos 13 anos de idade e já aos 15 já integrava a seleção júnior soviética. Foi em 1981, ainda aos 17, que o pivô fez sua estreia pelo gigante lituano Zalgiris Kaunas, onde posteriormente ele seria tricampeão soviético, entre 1985 e 1987. Ele ainda venceu a Copa do Mundo de 1982, onde teve uma média de 9,2 pontos por jogo. Os números de rebotes e assistências não estão computados no banco de dados da FIBA para aquele período. Na Copa de 1986, Sabonis e a U.R.S.S. foram vice-campeões, mas já era clara a evolução do pivô, que desta vez marcaria 15,3 pontos por jogo no torneio.

Sabonis gradualmente se tornou o dono daquele time, que começou a crescer muito em produção na década de 1980. Sem vencer um título nacional desde 1951, naquela década o Zalgiris jogaria sete finais consecutivas. Infelizmente, praticamente não existem à disposição do público estatísticas detalhadas do campeonato soviético, mas ficou claro para a Europa o quão bom era Sabonis já em sua primeira participação na Euroliga.

Como mencionado anteriormente, o Zalgiris foi tricampeão soviético, nas temporadas 1984-85, 1985-86 e 1986-87, vencendo o arquirrival da época CSKA Moscou em todas as finais. Isso deu ao clube o direito de participar, pela primeira vez em sua história, da maior competição de clubes do continente, que na época contava somente com os campeões nacionais de 23 países.

Sua campanha de maior destaque foi logo na primeira tentativa, na temporada 1985-86, o clube surpreendeu a todos: passando pelas fases preliminares, eles chegaram à “fase de grupos semifinal”, onde tinham que superar gigantes como o então atual campeão Cibona Zagreb (Iugoslávia), de Dražen Petrović, o Maccabi Tel Aviv (ISR) e a Olimpia Milano (ITA), que venceram títulos europeus naqueles anos, e o Real Madrid. Com vitórias contra cada um desses clubes, os lituanos ficaram em segundo lugar e disputaram a final contra o Cibona, em Budapeste. Sabonis anotou 27 pontos, pegou 14 rebotes e deu 3 tocos na grande final (assista ao jogo completo abaixo), mas prevaleceu o talento dos croatas, que venceram seu bicampeonato. Sabonis foi o cestinha da Euroliga, com média de 24,5 pontos por jogo.

https://www.youtube.com/watch?v=PCBRGaTN4_Y

Em meio a tudo isso, houve a primeira frustração de sua carreira. Logo no ano de 1985, Sabonis havia sido selecionado pelo Atlanta Hawks, mas foi barrado por não ter atingido a idade mínima da época (21 anos). Na primavera seguinte, o pivô sofreu uma lesão no tendão de Aquiles, mas ainda conseguiu ser selecionado pela equipe dos Portland Trail Blazers, onde tratou a contusão. Isso não significou que Sabonis participaria da NBA, pois em meio a um contexto de Guerra Fria, entidades soviéticas não permitiram que o pivô estrelasse na liga estadunidense, fazendo-o permanecer no Zalgiris. A lesão fez com que ele disputasse somente sete jogos pelo time na Euroliga, nos quais teve média de 21,3 pontos por jogo.

Anos de glória com o Real Madrid: o que faltava para sua carreira decolar

Após vencer as Olimpíadas de 1988, com médias de 13,3 pontos e 11,1 rebotes por jogo, Sabonis deu um novo rumo à sua carreira, ao se transferir para o Valladolid (ESP), onde foi excelente desde sua chegada. Em sua primeira temporada, teve média de 23,3 pontos por jogo, junto de 13,5 rebotes, e foi responsável por carregar uma equipe que havia figurado na 17ª colocação na temporada anterior, para a primeira fase dos playoffs.

No ano seguinte, houve um pequeno déficit em seus números, mas Sabonis permaneceu como a estrela do clube e ajudou a levá-lo às quartas-de-finais mais uma vez, onde foram eliminados pelo Barcelona. Em sua terceira e última temporada em Valladolid, houve mais do mesmo em sua carreira: Sabonis teve 21,4 pontos e 13,3 rebotes por jogo. Ele foi eleito o melhor jogador do Jogo das Estrelas daquele ano e foi, de longe, o melhor jogador de sua equipe na temporada. Ele não ganhou por pouco o prêmio de melhor jogador do campeonato, que ficou com o estadunidense Darryl Middleton. No campeonato, o Valladolid novamente não passou da primeira fase dos playoffs.

Cansado de ficar no quase, Sabonis foi para o Real Madrid (ESP) logo após as Olimpíadas de 1992, onde conquistou a medalha de bronze. Mas, desta vez, com uma diferença: ele representou a Lituânia, que havia declarado sua independência da União Soviética em 1990. A história daquela seleção lituana rumo ao pódio olímpico é contada no documentário “O outro Dream Team”.

Seu primeiro ano em Madri, durante a temporada 1992-93, foi uma prévia do que estava por vir: Sabonis finalmente pôde subir o degrau que faltava em sua incrível carreira, com médias de 17,4 pontos e 12,2 rebotes por jogo. Sabonis ficou em segundo na corrida para o prêmio de MVP da temporada regular, além de finalmente erguer o troféu da ACB e também ser o melhor jogador das finais. Na série final, em cinco jogos contra o Joventut Badalona, ele manteve médias de 16,8 pontos, 10,6 rebotes e 1,6 tocos por jogo. Ele também pôde voltar à Euroliga em seu primeiro ano na capital espanhola e foi o melhor jogador do time na campanha europeia. Os “merengues” fizeram uma campanha fantástica (venceram 14 dos primeiros 16 jogos) e chegaram à semifinal, mas caíram para o Limoges (FRA), que posteriormente seria o campeão daquela temporada. Sabonis terminou a campanha como cestinha do Real (16,5 pontos por jogo) e melhor reboteiro (12,0 por jogo), em 20 jogos disputados.

Mas seu sucesso não parou por aí. Na segunda temporada, o pivô foi ainda melhor, vencendo seu primeiro prêmio de MVP, com médias parecidas às da temporada anterior (17,1 pontos e 11,6 rebotes por jogo). Ele foi bicampeão espanhol com o Real, desta vez em cima do grande rival, Barcelona, com uma varrida em três jogos. Novamente ele venceu o MVP das finais, tendo um desempenho individual ainda melhor: 21,3 pontos, 16,3 rebotes e 3,3 tocos por jogo. Na Europa, ele foi novamente o grande jogador da equipe na Euroliga, sendo seu cestinha e melhor reboteiro, com médias de 17,4 pontos e 11,9 rebotes. Porém, o Real seria eliminado ainda nas quartas-de-final, perdendo a série para seus compatriotas do Joventut Badalona, que se sagraria campeão daquela edição.

A última temporada em Madri, em que o grande técnico sérvio Željko Obradović assumiu o Real, foi a melhor de Sabonis individualmente, tendo ele sido coroado o MVP da temporada regular mais uma vez, com 22,9 pontos e 12,5 rebotes por partida. Mas isso não foi o bastante para garantir o sucesso do Real na Espanha, que desta vez foi eliminado pelo Barça nas semifinais e não conseguiu o tão sonhado tricampeonato. Contudo, na Euroliga as coisas não poderiam ter sido melhores. Mesmo que a campanha na fase de grupos não tenha sido das melhores, o time cresceu na reta final, deu o troco no Limoges na semifinal e quebrou um jejum de 15 anos, vencendo o título europeu em cima do Olympiacos (GRE). Sabonis foi, naturalmente, o grande jogador do time, com médias de 21,8 pontos e 11,2 rebotes por jogo. Ele também foi eleito o MVP do Final Four.

Sabonis marca Vlade Divac, da Iugoslávia, na final do EuroBasket de 1995

Enquanto isso, do outro lado do mundo, o Trail Blazers, da NBA, que detinha os direitos do atleta, iria finalmente levá-lo para os EUA. Mas antes, ele ainda tinha um compromisso histórico. Pela primeira vez desde 1939, a Lituânia disputaria o EuroBasket como nação independente, naquele verão europeu de 1995. Aquela talentosíssima geração, liderada pelos 22,3 pontos e 13,3 rebotes por jogo do pivô, alcançou a final do torneio, onde ficou com a medalha de prata, ao perder para a Iugoslávia (assista ao jogo completo aqui). Este foi o último ato de Sabonis no mundo FIBA antes de se tornar um jogador da NBA, que constituiu talvez o melhor ano de sua carreira.

O sonho tardio da NBA e o desgaste físico

O desgaste sofrido por Sabonis ao longo de seus anos como profissional foi um grande impasse para sacramentar sua ida para a NBA. O período entre 1985 e 1988 foi bem conturbado para o pivô, com diversas lesões e desgaste físico. Com um grande número de partidas disputadas e pouco tempo para descanso muscular, sua carreira teve a durabilidade fortemente afetada.

A constante utilização do jogador em quase todas as partidas do Zalgiris e seleção, tanto por conta da rivalidade com o CSKA, quanto pelo esforço soviético em utilizá-lo como ferramenta para exercer uma propaganda política de seu esporte, impediram a recuperação apropriada de várias lesões. Tudo isso contribuiu para a primeira grande lesão de sua carreira. Um acontecimento que ficou marcado ocorreu em 1988, quando Sabonis passou por um procedimento cirúrgico em Portland, mas foi chamado para integrar a seleção nos Jogos Olímpicos antes mesmo de ter se recuperado devidamente, atitude que foi duramente criticada em Portland.

Após anos de espera, foi 1995 que Blazers e Sabonis chegaram a um acordo para o jogador ir para a NBA. Ao realizar sua avaliação física, o médico do clube brincou dizendo que Sabonis teve tantas lesões que ele poderia ganhar uma vaga de estacionamento para deficientes quando chegasse ao Blazers. Mas isso não fez a equipe voltar atrás. O calouro de 30 anos disputaria a temporada 1995-96 do melhor basquete do mundo.

Logo em sua primeira temporada, o pivô teve médias de 14,5 pontos, 8,1 rebotes e 1,1 toco, ficando na segunda colocação do prêmio de calouro do ano e também de melhor sexto homem da liga. Nos playoffs, os Blazers caíram no primeiro round, mas Sabonis teve incríveis médias de 23.6 pontos e 10,2 rebotes. O pivô passou sete temporadas no basquete estadunidense, mas muito de sua carreira e potencial na liga foi desperdiçado por conta da idade que o jogador tinha ao finalmente entrar na liga.

Ainda assim, foi na temporada de 1999-00 que Sabonis, ao lado de Scottie Pippen e Rasheed Wallace, chegou perto do título da NBA. Os Blazers tiveram a segunda melhor campanha da Conferência Oeste, apenas atrás do Los Angeles Lakers, de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal. Eles chegaram muito perto das finais da liga, mas após um eletrizante embate que durou sete partidas, o Lakers de Phil Jackson saiu vitorioso, sagrando-se campeão da NBA posteriormente. Após a temporada de 2002-03, Arvydas Sabonis voltaria ao Zalgiris para uma última dança.

De volta para casa: os últimos sucessos da carreira

Quase 15 anos depois, Sabonis estava de volta ao Zalgiris, para disputar sua última temporada como jogador profissional, na temporada 2003-04. Ele mostrou o porquê de seu nome jamais ter sido esquecido em seu país. No campeonato lituano, o pivô de 39 anos teve médias de 12,3 pontos, 9,0 rebotes e liderou sua equipe no último título de sua carreira, o campeonato nacional. Curiosamente, este foi o único título lituano de sua carreira, já que quando ele deixou o basquete do país, este ainda era parte da U.R.S.S.

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Ainda assim, esse não foi o último grande feito de sua carreira, pelo menos não individualmente falando. Naquele mesmo ano, o Zalgiris voltou a participar da Euroliga e Sabonis teve as boas médias de 16,7 pontos e 10,7 rebotes, o que lhe rendeu os prêmios de MVP da temporada regular e do Top 16 da competição. Tudo isso apesar das complicações causadas pelas lesões ao longo de toda a sua carreira.

Sabonis foi grandioso por onde passou, teve sua camisa aposentada pelo Zalgiris e hoje é considerado o melhor jogador da história de seu país. Em um total de seis competições defendendo a camisa da Lituânia independente, ele acumulou a maior média de pontos da história do selecionado, com 19,9 pontos por jogo. Em pontos totais (995) ele é o quinto que mais pontuou, porém os quatro atletas à sua frente têm pelo menos 30 jogos a mais que ele no total. Sem a menor dúvida, Sabonis (cujo filho, Domantas, joga hoje na NBA) tornou-se uma das maiores referências do basquete mundial e assim o é até hoje.

Este texto é um conteúdo original do EuroLeague Brasil e não deve ser reproduzido em outros sites sem o devido consentimento.

As 10 melhores jogadas de sua carreira

https://www.youtube.com/watch?v=WEYnLxrs4W8

Alguns de seus melhores lances na NBA

https://www.youtube.com/watch?v=mbu4aKh57yw

By Tabela de Ferro

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