Este artigo faz parte da série de textos dedicados a contar a história de grandes jogadores, times e treinadores do basquete europeu. Clique aqui para ler outros textos que fazem parte desta série.

drazenFicha técnica
Nome: Dražen Petrović;
País: Iugoslávia (Croácia 🇭🇷);
Nascimento: 1964;
Posição: ala-armador, armador;
Carreira: de 1979 a 1993;
Principais Títulos: pelos clubes, 2x campeão da Euroliga (1985 e 1986), 2x campeão da Copa Saporta (1987 e 1989), campeão do Campeonato Iugoslavo (1985), 3x campeão da Copa da Iugoslávia, campeão da Copa da Espanha (1989); pela seleção, campeão da Copa do Mundo (1990), campeão do EuroBasket (1989), medalha de prata nas Olimpíadas de Seul (1988), medalha de prata das Olimpíadas de Barcelona (1992, pela Croácia), medalha de bronze nas Olimpíadas de Los Angeles (1984), medalha de bronze na Copa do Mundo (1986);
Honras: MVP da Copa do Mundo (1986), MVP do EuroBasket (1989), cestinha do Campeonato Espanhol (1989), eleito para o terceiro melhor time da NBA (1993), melhor jogador da Iugoslávia (1985), membro do Hall da Fama do basquete, membro do Hall da Fama da FIBA, camisa #10 aposentada pelo Cibona Zagreb, camisa #3 aposentada pelo Brooklyn Nets;

Se hoje e nos últimos 20 anos jogadores europeus vêm experimentando grande sucesso na NBA, eles devem isso, sem sombra de dúvidas, a Dražen Petrović. Nascido na Iugoslávia, mais especificamente na República da Croácia, o ala-armador é considerado por muitos o maior jogador europeu da história. Seu jogo era de nível tão alto que o apelido que lhe deram foi de “O Mozart do basquete” e até mesmo o lendário Reggie Miller declarou que ele foi o melhor arremessador que ele já viu.

Após uma década em que ele absolutamente dominou o basquete de seu continente, ele foi para a NBA buscando novos desafios. E apesar de ter sofrido com falta de oportunidades em duas temporadas com o Portland Trail Blazers (menos de 12 minutos por jogo), ele experimentou grande sucesso na liga americana após ser trocado para o New Jersey Nets, em 1991. Infelizmente, uma tragédia tirou sua vida no verão de 1993, meses antes de completar 29 anos de idade, dando um fim precoce à sua extraordinária carreira.

Sua formação no Šibenka e a estreia nos profissionais com apenas 15 anos

KWcVEhPeHc6J6i1iAeDgaLDsxLkjeQkqrW1aREyptYoy2b4Vhm2F5KmkNKvinGaeJUoqKkBKsU9bcbbteASeguindo os passos do irmão mais velho (Aleksandar, hoje treinador da seleção brasileira), Dražen escolheu o basquete ainda na infância e aos 12 anos iniciou sua caminhada pelas categorias de base do clube de sua cidade natal, o KK Šibenka, em 1976. Antes disso, suas intenções eram de se tornar um jogador de futebol ou de polo aquático. Ele escalou rapidamente as categorias cadete e júniors e já aos 15 anos fazia a sua estréia com a equipe adulta do time, em 1979. O clube experimentava um sucesso meteórico, tendo sido fundado apenas em 1973, mas já militaria na primeira divisão da Iugoslávia pela primeira vez quando Petrović seria lançado no time principal.

Não por coincidência, o Šibenka viveria seus dias de maior glória nas quatro temporadas em que o garoto da cidade vestiria a camisa do time. Mas o desenvolvimento do adolescente Petrović em seus primeiros dois anos como profissional, apesar de impressionante, não foi da noite para o dia. Na temporada 1979-80, ele entraria em quadra em apenas 16 jogos, sem muito destaque, já que o time contava com uma das lendas do basquete nacional, o armador Zoran Slavnić (que também exercia a função de técnico). Na temporada seguinte, recebendo um pouco mais de confiança, o garoto começou a marcar presença em quadra por uma média de 10 a 15 minutos por jogo, aproximadamente, mas ainda tinha um desempenho tímido. Em 22 jogos que pôde estar em quadra pela equipe naquele ano, ele somou um total de apenas 39 pontos (1,7 por jogo).

A grande mudança no estilo de jogo e o dedo do novo treinador

imagesOutro fato interessante sobre os primeiros dois anos de Petrović nos profissionais, como conta o autor de uma de suas biografias, Todd Spehr, foi que o jogador foi obrigado a mudar de estilo de jogo quando subiu de categoria. Como ele não tinha mais a dominância física para viver das infiltrações em direção à cesta, como fez nos juniores, Petrović foi obrigado a treinar um aspecto do seu jogo que, até ali, ainda era inconsistente: o seu arremesso. Irônico, não é mesmo? A arma mais poderosa, que colocaria o atleta eternamente na história do basquete, não foi sempre sua característica mais forte. Seu irmão, que havia se transferido para o grande Cibona Zagreb, “zoava” o irmão quando o visitava, chamando-o de algo equivalente a “pedreiro”, pois quando ele arremessava de longe, parecia que estava jogando pedras.

Foi em seu terceiro ano, a temporada 1981-82, que Petrović e o Šibenka alçariam seus primeiros vôos altos. Um quarto lugar na liga iugoslava no ano anterior (campanha de 12-10) garantiram uma vaga para o clube na primeira competição europeia de sua história, a extinta Copa Korać, considerada na época a terceira mais importante competição continental da FIBA. A primeira grande chance da carreira do atleta veio na fase qualificatória da competição, quando o armador titular Srećko Jarić se lesionou e não pôde enfrentar o Hapoel Jerusalem (ISR) em uma série de jogo de ida e de volta, decidindo quem iria para a fase de grupos. Petrović foi escalado como armador e foi o homem do jogo de volta, anotando 30 pontos e classificando a equipe. O treinador Faruk Kulenović chamou o jogador após o jogo e disse que ele seria o armador do time no restante da temporada, para aumentar sua confiança. Petrović não gostou muito de início, pois achava que isso seria um obstáculo para sua característica de pontuador na posição dois. Mas, na visão do técnico, Dražen não recebia muito a bola dos companheiros mais velhos jogando como ala-armador e, colocando-o para armar, ele seria o “general” dentro de quadra.

A equipe teve outra campanha insossa no campeonato nacional (11-11), mas conseguiu chegar até a final da Copa Korać, na qual perdeu para o grande clube francês Limoges, por 90 a 84. Petrović foi um dos destaques do time no jogo final, anotando 19 pontos, mas não foi o suficiente diante do forte jogo coletivo dos franceses.

A primeira temporada de estrelato e o título “roubado”

c183317b9e0904e15a041f7f0784f82bEm sua última temporada pelo Šibenka, Petrović daria ao modesto clube sua maior glória, ainda que a mesma seria-lhes arrancada 16 horas mais tarde. Logo de início, uma troca no comando técnico, com Kulenović saindo após algumas de suas idéias não terem sido aceitas pela direção do clube. Ele deu lugar para o também jovem Vlade Đurović, que também foi essencial para o amadurecimento de Dražen.

O garoto “colou” no novo técnico logo de cara, pedindo-lhe que o ajudasse em treinamentos extras após a escola, no período da tarde. O treinador admirou a empolgação do jovem e o auxiliava nos treinos vespertinos, nos quais ele continuava trabalhando em seu arremesso. Diariamente, Petrović acertava centenas de arremessos. Mas Đurović notou que ele tinha algumas deficiências físicas e solicitou a um preparador físico da cidade que o ajudasse. Assim, Dražen passou a executar exaustivos treinamentos físicos, que lhe deram mais força nas pernas e melhoraram seu deslocamento lateral. O que mais impressionou Đurović a respeito disso foi a empolgação com que o atleta participava de cada treinamento.

O resultado foi tremendo. Petrović, ao contrário do ano anterior, pediu pessoalmente ao novo técnico para continuar como o armador do time, pois aprendera a gostar de ter toda posse de bola em suas mãos. Logo ele se estabeleceu como o melhor jogador do time, ajudando-o a ter a melhor campanha da primeira fase (16-6), deixando para trás gigantes como Partizan, Estrela Vermelha, Cibona Zagreb e Bosna. Ele foi o segundo maior pontuador da competição, com uma média de 25,5 pontos por jogo. O Šibenka chegaria até a final do nacional, onde enfrentou o gigante Bosna, vencedor de dois campeonatos iugoslavos e uma Euroliga nos cinco anos precedentes.

No terceiro e decisivo jogo da final, diante de seus 2.000 torcedores (em um ginásio com capacidade para 1.500), o Šibenka cegou ao final do jogo perdendo por 82 a 81, com 2 segundos a jogar, após cobrança de lateral. A jogada, desenhada para Petrović, não funcionou e ele errou o arremesso da vitória por muito, fazendo o time do Bosna invadir a quadra em comemoração do título. Porém, a arbitragem marcara uma falta no armador, considerada no ato do arremesso. Isso deu a ele dois lances livres, os quais o menino de 18 anos acertou e deu o título ao ainda mais jovem clube. Petrović terminou a partida com 38 pontos, 24 deles no segundo tempo (na época, o jogo tinha apenas dois tempos de 20 minutos).

Porém, na manhã seguinte, após contestação do Bosna, a federação iugoslava decidiu anular o jogo, alegando irregularidades por parte da arbitragem e estabeleceu uma nova partida, em ginásio neutro. O Šibenka se recusou a jogar a nova partida e, por isso, o Bosna foi declarado o campeão iugoslavo daquela temporada. A partida completa está disponível no YouTube (vídeo abaixo), para que vocês possam ver o lance e tirar as próprias conclusões. Mas um fato curioso foi que os atletas do Šibenka também se recusaram a devolver a medalha de ouro e hoje ela está exibida, orgulhosamente, no museu do jogador na Croácia.

Também naquela temporada, o Šibenka faria outra campanha excepcional na Copa Korać e chegaria novamente à final, contra o mesmo Limoges. Desta vez, os franceses fizeram um trabalho ainda mais forte para neutralizar Petrović, que anotaria apenas 12 pontos naquele jogo. No fim, o campeão francês daquela temporada prevaleceria, com uma vitória por 94 a 86.

Sua estreia pela seleção e a mudança para o Cibona

cibonaFoi naquele mesmo 1983 que Petrović jogou sua primeira competição com a camisa da seleção iugoslava adulta, na disputa do EuroBasket, sediado na França. O grupo da Iugoslávia disputou seus jogos na cidade de Limoges e ela não traria bons frutos para o jogador. Ele pouco entrou em quadra na primeira fase e viu seu time ser eliminado, ficando atrás da super seleção italiana do período e a emergente Espanha. Após a primeira fase, os clubes eliminados eram redirecionados para disputar entre si as colocações do 5º ao 12º lugar. Petrović e outros reservas tiveram mais espaço nesses dois jogos que “não valiam nada” e ele se destacou, anotando 20 pontos na derrota para Israel e 25 na vitória contra a Alemanha, com a Iugoslávia terminando com a sétima colocação geral.

Após servir o exército por um ano, Petrović iria para um novo clube na temporada 1984-85. Cobiçado pelos gigantes da Iugoslávia, como Partizan, Estrela Vermelha e até mesmo o Bosna, ele pôde escolher seu próximo destino. Após finalizar seu serviço militar, Dražen optou por permanecer na Croácia e se juntou ao irmão no multi-campeão Cibona. Começaria ali um dos períodos mais impressionantes de qualquer jogador, em qualquer liga do planeta, em qualquer clube. Petrović não só elevou o Cibona a níveis nunca antes imaginados, mas ele também revolucionou Zagreb, transformando-a em uma espécie de capital mundial do basquete, onde fãs enlouquecidos lutavam (muitas vezes sem sucesso) para poder presenciar o “showtime” que a equipe proporcionava.

Após o título iugoslavo na temporada 1983-84, o segundo de sua história, o Cibona teve direito a disputar a Euroliga (que na época, ainda organizada pela FIBA, se chamava “Copa dos Campeões”). Eles conciliariam a competição continental com o campeonato e a copa nacionais e eles venceriam absolutamente todos, com Petrović faltando fazer chover. A equipe teve a campanha fantástica de 19-3 no campeonato iugoslavo, com Dražen sendo seu cestinha, com uma média de 32,2 pontos por jogo. Reza a lenda que jogos de pelo menos 40 pontos eram corriqueiros para ele, rendendo-lhe o apelido de “Mr. 40”. Na campanha europeia daquele ano, ele foi ainda mais impressionante. Ele foi o cestinha da competição, com uma média de 30,9 em 15 jogos. Nas três partidas que o Cibona fez contra o Real Madrid na competição, a média de Petrović foi de 38,3 pontos por jogo, que incluíram 44 no primeiro jogo da “fase de grupos semifinal” e outros 36 no jogo do título, vencido pelos iugoslavos em Pireu, na Grécia, por 87 a 78. Com o time sendo recebido por uma multidão em Zagreb, Dražen foi enfático: “nós podemos fazer de novo!”.

No verão de 1985, Dražen novamente defenderia a seleção nacional, desta vez como o “dono do time”. Apesar de a equipe, que tinha em Petrović sua estrela solitária, não ter conseguido superar a fase de quartas-de-final, sendo eliminada pela Tchecoslováquia, Petrović naturalmente obteve um sucesso individual tremendo. Ele foi o segundo maior cestinha da competição, mantendo uma média de 25,1 pontos por jogo. A Iugoslávia terminaria no modesto sétimo lugar.

O bicampeonato europeu, em uma temporada inacreditável

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Acredite ou não, a temporada 1985-86 de Dražen seria ainda mais impressionante. Para se ter uma ideia, já na primeira rodada do campeonato iugoslavo, o jogador fez história. Os eslovenos do KK Olimpija tiveram problemas para registrar seus jogadores a tempo e, por causa disso, foram obrigados a mandar para este jogo atletas de sua categoria de base. Como eles não tinham um time júnior (atletas até 18 anos), eles tiveram que escalar atletas da categoria cadetes (até 16). Sabendo disso, o Cibona “tirou o pé” e mandou um time mesclado com alguns jogadores da base, mas também incluiu Petrović, pois as circunstâncias da partida lhe permitiriam quebrar o recorde histórico do campeonato iugoslavo, de 74 pontos em um jogo, marcados pelo lendário Radivoj Korać, em 1962.

Petrović havia prometido que assim que quebrasse o recorde, deixaria a quadra. Mas ele quebrou essa promessa e por muito. Virando o primeiro tempo já com 67 pontos, ele continuou no jogo mesmo após ter quebrado o recorde e terminou a partida com incríveis 112 pontos! O Cibona venceu a partida por 158 a 77, o que quer dizer que ele marcara 70% dos pontos de sua equipe. Esta vitória, por mais que tenha sido “de mão beijada” não foi um acidente. O Cibona começou ali uma inacreditável sequência de 20 vitórias consecutivas! Os então atuais campeões só perderiam na penúltima rodada, diante do ex-clube de Dražen, o Šibenka, por 102 a 100. Neste jogo, a propósito, ele marcou 52 pontos!

A campanha do Cibona era mágica, mas eles possivelmente cometeram um erro grave, que pode ter-lhes custado o título nacional. Passando tranquilamente pela temporada regular e eliminando o Estrela Vermelha (nesta série, Dražen marcou 48 pontos em dois jogos seguidos) e o Partizan nos playoffs, o clube enfrentaria os também croatas do KK Zadar, cinco vezes campeão iugoslavo. A vitória no primeiro jogo da série melhor de três, em casa, veio sem maiores complicações, mas rumores dizem que o Cibona escolheu não pôr Petrović para jogar o segundo jogo, pois seria fácil de conseguir a vitória e eles prefeririam comemorar o título em casa, portanto, precisariam deixar o Zadar vencer o segundo jogo. E em um jogo muito nervoso, com expulsões e uma falta técnica para Petrović, o Zadar conseguiu o inimaginável. O clube visitante chocou os mais de 10 mil torcedores locais com uma vitória 111 a 110, com duas prorrogações. Dražen cometeu sua quinta falta durante a primeira prorrogação, deixando o Cibona em maus lençóis. Ele deixou o jogo como o cestinha, tendo anotado 39 pontos. A derrota custou muito caro: por não ter se sagrado campeão nacional, o Cibona não pôde disputar a Euroliga do ano seguinte.

fa5d5cd60c2636c561043d7bcaac2739Mas a temporada não foi tão decepcionante quanto essa amarga derrota por “salto alto” possa transparecer. Um mês antes do fiasco da final do iugoslavo, o Cibona havia, pela segunda vez seguida, conquistado a Europa. Em mais uma campanha histórica, o clube perdeu apenas três dos 15 jogos. Petrović novamente fez o inimaginável: ele marcou pelo menos 40 pontos em sete dos 11 jogos em que esteve em quadra (em um deles, marcou 51), o que lhe deu a média absurda de 37 pontos por jogo. Na final em Budapeste, o Cibona derrubou os soviéticos do Žalgiris Kaunas, do também jovem Arvydas Sabonis (ambos retratados ao lado). Este, inclusive, foi o cestinha da final, com 27 pontos.

Dražen terminava assim sua absurda temporada de 1986, no topo da Europa. Sua média final no campeonato iugoslavo foi de 43,3 pontos por jogo e, apesar de o Cibona não tê-lo vencido, eles pelo menos garantiram mais um título da copa nacional. Os frutos vieram ainda naquele verão: em 17 de junho, ele seria escolhido pelo Portland Trail Blazers no Draft da NBA, na terceira rodada (60ª escolha geral); e em julho, ele disputou sua primeira Copa do Mundo, da qual foi o quarto maior pontuador (25,2 pontos por jogo), ajudando a Iugoslávia a ficar com a medalha de bronze (um resultado não tão bom para os padrões do país). Ele seria eleito o MVP do torneio.

A pressão do Real Madrid por sua contratação e a saída do Cibona

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Também em 1986, Petrović daria outro passo avante em sua carreira. Aliás, deram esse passo por ele. Acontece que, naquela época, as regras do esporte iugoslavo proibiam atletas de deixar o país e jogar no exterior antes dos 28 anos de idade. Mesmo com apenas 23 anos, Petrović era incrivelmente assediado por outros clubes e, naquele ano, o Real Madrid fez todos os esforços possíveis e, mesmo através de subornos ao governo iugoslavo, conseguiu assinar um contrato com a estrela naquele ano, com um acordo com o Cibona de que ele permaneceria no clube por mais duas temporadas.

As duas últimas temporadas de Dražen em Zagreb não foram tão bem sucedidas no nível coletivo, mas foram excelentes para ele individualmente. Na temporada 1986-87, fora da Euroliga, o clube venceu a extinta Copa Saporta, segunda competição continental mais importante da FIBA, de maneira invicta. Mas, no campeonato iugoslavo, a equipe não conseguiu o título novamente, mesmo tendo terminado a temporada regular invicta (22-0). Eles caíram diante do Estrela Vermelha na semifinal, perdendo a série por 2 a 1. Petrović foi, novamente, o cestinha do campeonato, com uma média de 37,2 pontos por jogo.

Na temporada 1987-88, o clube também não conseguiu alcançar as finais do nacional, mesmo com os 37,6 pontos de média de Petrović. No nível europeu, eles disputaram a competição do terceiro nível, a Copa Korać, e até que conseguiram chegar às finais de maneira invicta, sem o menor problema. Inclusive, na fase eliminatória, Dražen estabeleceu seu recorde em competições continentais, ao anotar 62 pontos contra o modesto KTP Basket (Finlândia). Porém, na final, eles encontraram o Real Madrid pela frente, que com a vitória por 102 a 89 no jogo de ida, fez o suficiente para sagrar-se campeão. Nem os 47 pontos de Petrović no jogo de volta, na magra vitória do Cibona por 94 a 93, pôde mudar o destino.

Antes da NBA, finalmente, a Espanha

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Em outubro de 1988, como acordado anos antes, o Real Madrid pôde finalmente contar com aquele jogador que tantas vezes lhe havia derrotado. Dražen Petrović era finalmente um merengue, ainda que se tivesse a certeza de que ele jamais cumpriria os quatro anos de contrato. Para contar com o maior jogador do planeta fora dos EUA, o Real Madrid desembolsou uma quantia de US$ 4 milhões (equivalente a US$ 8,6 milhões nos dias de hoje). Empolgado após ter ajudado a levar a Iugoslávia à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Seul, naquele ano, Dražen tinha pela frente o que ele mais desejava, que era o desafio de jogar no principal campeonato nacional da Europa.

Ele não temeu a nova empreitada e em sua única temporada na Espanha jogou em altíssimo nível. Apesar de o Real ter perdido a final do campeonato espanhol para o maior rival, Barcelona, eles ficaram com o título da copa nacional e também da Copa Saporta, na qual eliminaram o Cibona na semifinal. Nessa série, inclusive, Dražen fez os dois lances livres que deram a vitória ao Real no jogo de ida, em Zagreb. Na final, eles enfrentaram os italianos da Juventus Caserta, time do brasileiro Oscar Schmidt (foto abaixo). Esta final, em jogo único, foi histórica, pois viu o brasileiro fazer incríveis 44 pontos, mas também viu Petrović acabar com as esperanças do clube italiano, ao marcar outros 62, igualando seu recorde pessoal em competições europeias.

ImagemEntre o campeonato espanhol e a Copa Saporta, Petrović teve uma média de 28,2 pontos por jogo, se estabelecendo como o segundo maior pontuador do espanhol em média de pontos (mas o maior pontuador em número total de pontos, com 1.033). Ele também teve o absurdo aproveitamento de 40,9% dos arremessos e anotou pelo menos 35 pontos em 13 dos 47 jogos que disputou, incluindo 42 no quarto jogo da final contra o Barça, em que o Real venceu por apertados 88 a 87 e forçou o quinto e último jogo.

Vendo tudo isso da costa oeste estadunidense, o Portland Trail Blazers aumentou a pressão para que ele fosse para a NBA e, ao fim da temporada 1988-89, Petrović finalmente concordou em aceitar o maior desafio do basquete mundial. “Se eu consigo fazer 40 pontos quase todo jogo, algo não está certo. Não é isso que eu quero”, disse ele ao explicar sua decisão de deixar o basquete europeu, onde ele já havia conquistado tudo. A franquia americana pagou ao Real Madrid o valor de US$ 1,5 milhão (equivalente a US$ 3,1 milhões hoje) e no verão daquele ano, a NBA finalmente teria o privilégio de ter Dražen Petrović em suas quadras.

Últimas conquistas com a Iugoslávia e a prata olímpica com a Croácia

5ee706706380eAntes do horror que foi a guerra civil iugoslava, que explodiu em 1991 principalmente com a declaração de independência da Croácia (país de Petrović), o histórico time iugoslavo ainda disputaria e venceria duas competições de peso em 1989 e em 1990. Jogando em casa, em Zagreb, a Iugoslávia venceu o EuroBasket de 1989, o seu primeiro desde 1977. Dražen foi o cestinha do time (segundo da competição), com 30 pontos por jogo, e foi eleito o MVP daquela campanha invicta.

Já no ano seguinte, na Argentina, a seleção venceria sua terceira Copa do Mundo, dando o troco aos soviéticos pela derrota na final das Olimpíadas dois anos antes. Dražen foi o cestinha do time no torneio, com 18,4 pontos por jogo, mas seu companheiro Toni Kukoč foi eleito o MVP. Foi ali mesmo, na comemoração do título ainda em quadra, que a forte amizade entre ele e Vlade Divac, outro compatriota dele na NBA, se desgraçaria irremediavelmente. Essa história é contada com detalhes no documentário da ESPN “Once Brothers”, de 2010 (disponível no Brasil na plataforma ESPN Play).

Após a independência da Croácia, o país pôde disputar os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, e Petrović, ao lado de estrelas que brilharam ao seu lado com a camisa da Iugoslávia, como Kukoč e Dino Radja, levou seu país até as finais do torneio. A Croácia disputou oito jogos e perdeu somente os dois que disputou com o “Dream Team” dos EUA, considerado o melhor time da história do esporte, um na primeira fase e a grande final. No jogo decisivo, inclusive, ele é quem foi o cestinha, com 24 pontos, dois a mais que Michael Jordan, cestinha dos americanos. Com 24,6 pontos por jogo, ele foi o segundo cestinha do evento, atrás apenas dos 24,8 pontos por jogo de Oscar.

Morte

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Vivendo seu auge na NBA e a empolgação de poder representar seu país, Petrović decidiu viajar com a seleção croata para a disputa das eliminatórias para o EuroBasket de 1993. Como a Croácia ainda era uma seleção nova, era requerido que ela disputasse o torneio com outras seleções menores, que definiria as cinco últimas vagas para o torneio. Muitos diziam que a Croácia se classificaria “com um pé nas costas” e que, por isso, não havia a menor necessidade de que Dražen participasse da competição. Mas ele simplesmente não aceitava não estar presente. “Eu não posso (ficar de fora). Todos os meus amigos vão estar lá, eu não posso ser o primeiro a não aparecer”, ele dizia.

Entre 30 de maio e 5 de junho a Croácia disputou seis jogos na cidade de Breslávia, na Polônia, os quais venceu com extrema facilidade, como esperado e garantiu a vaga para o EuroBasket. Ao fim da participação da seleção no torneio, Petrović decidiu não voltar de avião com o restante dos jogadores para Zagreb. Ao invés disso, escolheu dirigir com a namorada de volta para o país natal. Enquanto passavam pelo sul da Alemanha, no dia 7, Dražen passou a direção do carro para a namorada e dormiu no banco de passageiro, sem seu cinto de segurança. Era um final de tarde chuvoso e, de repente, um caminhão que vinha no outro sentido da rodovia tentou desviar de um carro à sua frente e acabou capotando o veículo para a pista contrária. Com a visibilidade ruim, a namorada acabou batendo no caminhão e, com a colisão, Petrović morreu aos 28 anos de idade.

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