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Ficha técnica
Nome: Nikolaos Georgalis – ‘’Nikos Galis’’;
País: Grécia🇬🇷;
Nascimento:
1957;
Posição: ala-armador;
Carreira: de 1979 a 1995;
Principais Títulos: pelos clubes, 8 x campeão do campeonato grego (1983, 1985-1991), 7 x campeão da copa da Grécia (1985, 1987-1990, 1992 e 1993); pela seleção, medalha de ouro (1987) e medalha de prata (1989) no EuroBasket;
Honras: 5 × MVP do campeonato grego (1988-1992), 5 × MVP do campeonato grego (1987-1991), 5 x cestinha das finais da copa da Grécia (1987, 1989, 1990, 1992 e 1993), 11 x cestinha do campeonato grego (1981-1991), 8 x cestinha da Euroliga (1986-1992 e 1994), MVP do EuroBasket (1987), melhor Jogador Europeu (1987), membro do Hall da Fama do Basquete, membro do Hall da Fama FIBA e camisa #6 aposentada pelo Aris Tessalônica;

Conhecido por ser o maior jogador do basquete grego de todos os tempos e o homem que mudou o destino do esporte no país, Nikos Galis mostrou que com apenas 1,83 metro de altura poderia ser dominante em uma época recheada de gigantes, chegando a ser chamado de ‘’Máquina Pontuadora’’. Um jogador respeitado mundialmente, que elevou o patamar de todas equipes por onde passou, alcançando feitos jamais imaginados.

Início promissor nos Estados Unidos e NBA

Filho de pais imigrantes da ilha grega chamada Rodes, Nikolaos Georgalis, como é o seu verdadeiro nome, nasceu em Nova Jersey (EUA), em 23 de julho de 1957. Durante sua adolescência e, por influência de seu pai, Nikos gostava muito de treinar boxe, chegando até cogitar seguir carreira na arte marcial. Porém os machucados e hematomas que ele tinha toda vez que voltava dos treinos aterrorizavam sua mãe, que implorou para que parasse com o boxe. Galis ainda tentou a vida no futebol americano, mas foi com a bola laranja que encontrou o seu verdadeiro talento no ensino médio.

Em 1975, foi o ano que o garoto foi admitido na Universidade de Seton Hall, uma instituição muito conhecida, na época, por ter equipes bem treinadas e que não faziam feio em torneios entre universidades. Logo nos primeiros treinos seu treinador, Bill Rafteri, já percebeu sua facilidade nos arremessos, colocando-o como um suporte na armação do time e o dando mais liberdade para infiltrações e chutes de média distância. Em suma, essa liberdade o fez encontrar o estilo de jogo que ele levaria para o resto de sua carreira.

Galis terminou o seu último ano na Universidade com uma média de 27,5 pontos por jogo e se tornou o terceiro melhor cestinha do campeonato universitário dos Estados Unidos (NCAA), disputando o pódio com ninguém mais ninguém menos que o lendário Larry Bird (28,6) e Lawrence Butler (30,1). Juntando os seus primeiros anos, sua média somada foi de 20,3 pontos, atraindo, logicamente, os olhos da NBA. No Draft de 1979 ele acabou sendo selecionado pelo Boston Celtics na quarta rodada (68ª escolha geral).

Na pré-temporada de 1979-80 da NBA, Galis acabou sofrendo uma lesão no tornozelo durante um dos treinamentos, impedindo-o de continuar na NBA pelo Celtics. O seu próximo destino seria o país natal de seus pais (e que mais pra frente seria o seu também, quando se naturalizou grego). Os times que o sondaram na época foram o Panathinaikos e o Olympiacos, no entanto, Nikos escolheu o Aris Tessalônica, que tinha acabado de se tornar campeão grego. Mesmo que sua carreira na liga americana tenha sido interrompida tão cedo por uma contusão, Galis não perdeu a confiança que tinha em si, chegando a declarar que marcaria 40 pontos por jogo na Europa. Aquela promessa trouxe confiança não só para ele, mas para os dirigentes do Aris, marcando o início de uma linda história no basquete grego que duraria 16 anos.

Seus primeiros no Aris

O acordo com a equipe de Tessalônica era apenas de um ano, até o final da temporada, porque Nikos ainda tinha esperança de poder voltar a jogar na NBA. Porém, quando chegou na Grécia, ele ainda precisava conquistar a torcida, pois algumas dúvidas começaram a ser levantadas entre a imprensa quanto à sua altura e físico. Além disso, ainda haveria o fator linguístico pela frente, uma vez que mesmo possuindo raízes gregas, Galis falava pouco grego e não conseguia se expressar muito bem com seus companheiros de equipe. Contudo, quando começaram os primeiros treinos, todas aquelas dúvidas caíram por terra, porque o “pequeno americano”, como era chamado nos primeiros anos na Grécia, era muito mais do que pensavam.

A estreia oficial do ala-armador ocorreu em 2 de dezembro de 1979, contra o Iraklis BC (GRE), jogo no qual Galis terminou com 30 pontos. Além de Nikos, o Aris foi reforçado naquele ano com um novo treinador, o sérvio Dušan Ivković. Na temporada anterior, Ivković havia ajudado o Partizan Belgrado (SER) a se consagrar campeão da liga iugoslava, chegando com uma enorme expectativa de títulos na Grécia. Logo nas primeiras partidas no comando da equipe, ele já conseguia ver um enorme potencial em Galis e, consequentemente, o jovem Nikos se tornou a principal arma ofensiva do técnico, terminando a temporada como o terceiro melhor cestinha da liga, com média de 33,0 pontos por jogo.

Já em sua segunda temporada na Grécia, Galis conseguiu evoluir ainda mais e se tornou o cestinha do campeonato com uma média de 43,9 pontos por jogo, cumprindo a promessa que havia feito antes mesmo de chegar no Aris. Ali, ele começou a escrever seu nome e a ser conhecido mundialmente, pois além de possuir um jogo explosivo e diferente de tudo que o Europa já havia presenciado até então, sua constância era invejável, ganhando o prêmio de cestinha do campeonato várias vezes pelos próximos dez anos.

Os resultados de sua entrega no país europeu fez com que seu pensamento sobre voltar a NBA fosse esquecido e em 1981 ele renova com a equipe tessalonicense. Infelizmente, apesar dos vários prêmios individuais que Galis estava colecionando, ele ainda precisava de conquistas coletivas, porque a equipe grega sempre estava entre os candidatos ao título nacional, mas acabava faltando algo para bater de frente com as potências gregas.

Em 1983 o agora grego naturalizado voltou aos Estados Unidos para enfrentar, em um jogo comemorativo, a Universidade da Carolina do Norte do astro Michael Jordan. Mesmo ganhando a partida, Jordan elogiou Galis dizendo que ”não esperava encontrar um jogador ofensivo tão bom na Europa”. Aquela entrevista demonstrava o quão talentoso Nikos era, fazendo-o ter ainda mais ânsia por um título nacional. A recompensa veio no campeonato grego daquele mesmo ano, onde o Aris se sagrou campeão jogando contra Panathinaikos e Olympiacos, na semi e final, respectivamente. Porém, algo melhor ainda estava por vir na temporada 1984-85, quando o Aris, por meio de uma contratação, mudaria o curso de sua história.

A dupla hegemônica

A transferência feita foi a do armador Panagiotis Giannakis, que estava no Ionikos Nikaias (GRE). Giannakis conhecia muito bem o time da Tessalônica, pois se enfrentaram várias vezes, o que acabou ajudando-o para se encaixar facilmente no plano tático do time. A dupla Galis-Giannakis agora estava junta para ajudar o Aris a vencer o campeonato grego e a copa da Grécia daquele ano (1985) com apenas uma derrota e com Nikos sendo o cestinha do campeonato novamente, com uma média de 34,0 pontos. 

O segredo de sucesso dos dois era a alternância que faziam entre quem iria passar a bola e quem iria arremessar. Isso confundia os adversários, que acabavam sempre sendo surpreendidos. Foi o nascimento de uma das melhores duplas da história do basquete europeu.

Ainda no ano de 1985, a equipe grega chegaria à final da Copa Korać (terceira competição continental anual de clubes da FIBA mais importante na época), mas o título acabou escapando na semifinal, perdendo para a Pallacanestro Varese (ITA). Ainda assim, o domínio nacional era absoluto – conquistando sete títulos gregos seguidos (de 1985 a 1991) e quatro seguidos da copa da Grécia (de 1987 a 1990) – e, claro, com uma participação espetacular de Nikos, quase imparável nos minutos finais das partidas e com uma constância inexplicável em sua média de pontos por partida, que dificilmente estava abaixo de 30 pontos por jogo. Essa fome por conquistas o fez ser apelidado de “gangster“, um codinome que ficou marcado e temido por muitos clubes da Europa.

O reinado da dupla e do Aris era inegável, o que deixava os torcedores enlouquecidos com toda aquela hegemonia, chegando a colocar Galis como um deus em suas músicas. A música mais cantada pelos fanáticos torcedores da época e que fazia menção direta a Nikos, era a infame “o que fez o deus da bola”, que foi eterniada na final do campeonato grego de 1988 contra o PAOK, quando Galis começa a girar a bola no dedo, em forma de provocação, faltando alguns segundos para acabar a partida e o Aris se consagrar campeão nacional.

Enquanto na Grécia ele estava no topo, Galis acabava sempre tropeçando nas competições continentais (Euroliga), chegando a três quartas-de-finais consecutivas, em 1988, 1989 e 1990. Na de 1989, Nikos conquistou o terceiro lugar contra o Barcelona, marcando 36 pontos naquele jogo. No entanto, em 1992, o ala-armador grego se viu perdendo pela primeira vez em sete anos o campeonato grego. Seus anos dourados estavam chegando ao fim. E na temporada seguinte, Galis assinaria com o Panathinaikos.

Rápida passagem pelo Panathinaikos e aposentadoria

Quando o novo presidente do Aris, Theofilos Mitroudis, tentou arrumar as finanças da equipe, que estava à beira da falência, se viu em um caminho sem saída quanto a Nikos Galis. Seu contrato consumia grande parte do orçamento do clube e Galis não aceitou uma redução em seu salário. Então, os dois lados precisavam se separar. O experiente ala-armador decide então ir para Atenas em 1992, defender a camisa do Panathinaikos. Os greens da época estavam tentando recuperar sua glória, sob a administração dos irmãos Pavlos e Thanassis Giannakopoulos.

Na copa da Grécia de 1993, Nikos ajudou o Panathinaikos a vencer a final do campeonato contra o Olympiakos, anotando fantásticos 36 pontos. No ano seguinte, Galis se tornou o cestinha e líder de assistências da Euroliga, liderando o time grego para o Final Four. O Panathinaikos acabou sendo derrotado pelo Olympiakos nas semifinais, mas conquistou o terceiro lugar ao vencer o Barcelona na disputa.

Infelizmente o desfecho de sua carreira não foi dos mais saudáveis. O então técnico do Panathinaikos, Costas Politis, começou a deixar o jogador, intencionalmente, no banco, com a ideia de usar jogadores mais jovens do time. Galis não gostou nada disso, porém o técnico estava convicto do que deveria fazer. Resultado: Nikos Galis, no ano de 1995 anuncia sua aposentadoria do basquete.

De acordo com a FIBA, Galis é o maior cestinha da história do campeonato grego, tendo totalizado 12.849 pontos em 384 jogos (uma média de 33,4). Pela seleção, ele é o segundo maior cestinha, com 5.130 pontos em 168 jogos (média de 30,5 por jogo), sendo que o líder, Panagiotis Yiannakis, marcou 5.282 em 351 jogos, uma média de 15,0 por jogo. Em competições europeias de clubes (de todos os níveis), ele disputou um total de 146 jogos, marcando 4.807 pontos (32,9 de média). Sua média de pontos somando todas as suas participações na Euroliga (32,4 pontos por jogo) é a maior da história do torneio, desde a sua criação pela FIBA, em 1958.

Pela Seleção

Não tem como falar de Galis e não citar sua incrível passagem pela seleção da Grécia. Muitos gregos afirmam que aquela seleção dos anos oitenta foi o ‘’marco zero’’ para o basquete nacional. A primeira aparição de Nikos com a seleção grega foi em 1980, contra a Suécia, em um amistoso no qual ele marcou seus 12 primeiros pontos.

Em seu clube, o ala-armador vinha galgando seu espaço cada vez mais e se tornava um jogador bem conhecido e respeitado na Europa, mas com a camisa da seleção ainda precisava mostrar a que veio. E nos EuroBaskets de 1981 e 1983, ele dava os primeiros indícios de que seria uma lenda no basquete, apesar de ainda sem medalhas ou recordes.

Nos anos que se seguiram, Galis continuou sendo convocado e, com o tempo, os resultados começaram a vir, sendo coroado como o cestinha em alguns campeonatos internacionais. O primeiro grande exemplo foi na Copa do Mundo de 1986, na Espanha, quando Nikos teve a média de 33,3 pontos por jogo, superando o brasileiro Oscar Schmidt. Nesse mesmo campeonato, Nikos anotou 53 pontos em um jogo contra o Panamá, a maior pontuação de um grego com a camisa da seleção.

Seu triunfo indiscutível, no entanto, viria durante o EuroBasket de 1987, conhecido como o “milagre de Pireu”. O que Galis fez naquele campeonato mudaria pra sempre o basquete grego, sendo até denominado como uma fenda imaginária na percepção de tempo do basquete grego antes e depois de 1987.

A Grécia, com toda certeza não era a favorita ao título, apesar de jogar em casa, e não teve vida fácil na fase de grupos, mas conseguiu se classificar com três vitórias e duas derrotas (as derrotas foram para a Espanha e a União Soviética). Porém, o que ninguém esperava aconteceu: eles subjugaram todos os seus adversários na fase final.

Naqueles dias, Galis parecia estar flutuando em quadra, não se dando conta de seus feitos. Ele sabia exatamente quando aumentar ou diminuir o ritmo, quando deveria tocar a bola ou jogar individualmente. As pessoas que presenciaram aquelas partidas dizem que em algum momento parecia que Nikos iria violar a lei da gravidade e permanecer no ar o tempo que precisasse, ou o quanto quisesse. Um dos grandes exemplos foi uma cesta inexplicável na final contra os soviéticos, quando Galis praticamente parou no ar no meio de 4 jogadores para fazer uma cesta muito importante e garantir a medalha de ouro (anotando 40 pontos naquela final). Como era de se esperar, ao vencer o campeonato, Nikos Galis se tornou o MVP e o cestinha do torneio, com uma média de 37 pontos. Contudo, as estatísticas e números não importavam naquele momento, o que se via no rosto de cada grego naquele dia era uma expressão de felicidade e orgulho em saber que eles poderiam ser um referência para o mundo esportivo, graças a um ‘’baixinho’’ que amava o seu país, por mais que não tenha sido o seu de origem, mas que estava em seu sangue e coração.

Dois anos depois, no Eurobasket de 1989, Galis fez outra série de aparições impressionantes, culminando em 45 pontos na semifinal contra os soviéticos. No entanto, a Grécia perdeu nas finais por 98-77 para a Iugoslávia do grande Dražen Petrović.

Já em 1990, Nikos estaria presente pela segunda vez em uma Copa do Mundo, mas uma lesão no dia de seu aniversário não lhe permitiu embarcar no avião com a seleção. Sua decisão de não arriscar ir para o campeonato levantou muitas questões entre a mídia, dizendo ter sido uma provocação de Galis para a federação grega de basquete, porque possuía um calendário de jogos que não conciliava com os campeonatos internacionais, não dando o devido descanso aos atletas. No ano seguinte, o EuroBasket de Roma se tornou sua despedida com a camisa grega. A Grécia conquistou o quinto lugar naquele torneio. Na última partida do “gangster“, contra a Tchecoslováquia, ele se despediu em grande estilo, anotando 37 pontos.

A espetacular carreira de Nikos Galis se refletiu fora de quadra também, levando a um aumento no salário dos jogadores do basquete nacional e criando novos empregos, por conta da melhora do esporte no país, se tornando cada vez mais técnico e com mais profissionais de várias áreas englobados nos clubes e no meio esportivo. Há uma estimativa de que, depois da medalha de ouro do EuroBasket de 1987, cerca de 7.500 empregos foram criados no campo do basquete em oito anos.

Retrospectiva de sua carreira

Discurso no Hall da Fama do Basquete

Este texto é um conteúdo original do EuroLeague Brasil e não deve ser reproduzido em outros sites sem o devido consentimento.

By Vinicius Matosinhos

Sou apaixonado por esportes e amo escrever sobre as ligas de basquete espalhadas pelo mundo. Basquete é basquete em qualquer lugar.

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